Após 180 dias, Bolsonaro poderá ser forçado à sua primeira reforma ministerial, diz cientista político

Presidente eleito poderá fazer concessão aos partidos após lua de mel pós-eleições, mas novo arranjo deverá preservar narrativa contra "toma lá, dá cá"

Marcos Mortari

Publicidade

SÃO PAULO – O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) caminha para ter toda sua equipe ministerial anunciada cerca de um mês após a vitória nas urnas e até o momento mantém o tom de que os partidos não terão posição privilegiada na indicação de nomes em pastas.

A postura gera questionamentos sobre a capacidade que o militar reformado terá de construir uma base de apoio sólida no Congresso Nacional, mas já há quem veja a necessidade de reformas ministeriais ainda no primeiro ano de governo, ao final da lua de mel pós-eleições.

Com uma agenda difícil pela frente, Bolsonaro poderá se ver obrigado a fazer concessões, sobretudo considerando o nível recorde de fragmentação partidária no parlamento. É o que avalia o cientista político Marcelo Issa, diretor da consultoria Pulso Público e cofundador do Movimento Transparência Partidária.

Oferta Exclusiva para Novos Clientes

Jaqueta XP NFL

Garanta em 3 passos a sua jaqueta e vista a emoção do futebol americano

O especialista participou do programa Conexão Brasília da última sexta-feira (23) – confira a íntegra clicando aqui.

“Bolsonaro ganhou as eleições afirmando claramente que atacaria o núcleo do que se convencionou chamar ‘presidencialismo de coalizão’. Durante a campanha, ele disse diversas vezes que não governaria na base do compartilhamento do governo com os partidos”, lembrou Issa.

“Esse sistema não necessariamente é perverso, ineficiente ou imoral. Quando pensamos em sistema representativo, é muito importante considerar que ele se estrutura para moderar preferências, evitar radicalismos e tentar abranger o máximo possível de vozes. O problema é que não temos no Brasil partidos políticos que sejam dignos dessa nomenclatura. Ao longo das últimas décadas, fomos criando incentivos para o esvaziamento ideológico e ético deles”, observou o cientista político.

Continua depois da publicidade

Seja sócio das melhores empresas da Bolsa: abra uma conta na XP e conte com assessoria especializada e gratuita

Para muitos especialistas, a vitória de Bolsonaro nas urnas também significou a resposta a um sistema político que se mostrou disfuncional para a maioria dos eleitores. A sensação de falta de representatividade teria chegado a um limite, fazendo prosperar um discurso antiestablishment, também representado no modelo de presidencialismo de coalizão vigente, espinha dorsal da Nova República.

Como alternativa ao atual mecanismo, Bolsonaro propõe um pacto de governabilidade tecido com bancadas parlamentares informais, que ganharam protagonismo nos últimos anos na Câmara dos Deputados (como a Frente Parlamentar Agropecuária ou a Frente Parlamentar Evangélica, por exemplo). Especialistas, porém, são céticos quanto à eficácia da estratégia, alegando a incapacidade de tais grupos fazerem frente aos partidos.

“Essas bancadas estão estruturadas em torno de um tema específico. O que congrega as bancadas ruralista, da saúde, da bala e do agronegócio são as questões específicas de cada setor. Um partido político, mesmo quando fisiológico ou meramente pragmático, precisa se posicionar de maneira uniforme sobre todos os temas. Então, a grande incógnita é como os partidos vão reagir a esse ataque ao núcleo sistema que Bolsonaro está promovendo”, observou o especialista.

Para Issa, é natural que Bolsonaro, assim como ocorreu com seus antecessores, conte com um clima mais favorável de governabilidade no parlamento, no tradicional movimento de empuxo pós-eleitoral, o que lhe ajudará a aprovar algumas medidas no curto prazo. “Mas, passados 180 dias, talvez um pouco mais, considero que é muito provável que ele seja obrigado a promover uma reforma ministerial. Essa lua de mel tende a acabar depois desse período”, pontuou.

“A partir daí, considero serem prováveis algumas modificações que impliquem na indicação partidária de ministros e cargos no segundo e terceiro escalões, mas com a exigência de um perfil mais técnico, de modo a ainda permitir ao presidente sustentar esse discurso de que não se rendeu à lógica de funcionamento do sistema”, projetou Issa. Por outro lado, Bolsonaro poderá trabalhar com uma agenda de costumes e segurança, pauta com a qual foi eleito, muito apoiada por nomes eleitos no novo parlamento.

As promessas de enxugamento da máquina pública também devem impor desafios ao futuro presidente. “Se isso [o enxugamento de cargos em comissão] ocorrer, temos um fator dificultador da gestão do processo da coalizão de governo, sem contar o fato de que teremos a quantidade de ministérios também reduzida. Do ponto de vista da gestão pública, pode ser positivo, colocando funcionários públicos de carreira nesses cargos de segundo e terceiro escalões, que são mais técnicos. Mas, do ponto de vista da política, dificulta, sem dúvida”, concluiu.

Agora você pode acompanhar o Conexão Brasília também no SpotifyClique aqui para ouvir a nossa playlist.

Seja sócio das melhores empresas da Bolsa: abra uma conta na XP e conte com assessoria especializada e gratuita

Newsletter

Infomorning

Receba no seu e-mail logo pela manhã as notícias que vão mexer com os mercados, com os seus investimentos e o seu bolso durante o dia

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.