Apesar das negativas, clima é de tensão no PT e Planalto: cerco a Lula se fecha ainda mais

Mesmo sem ser citado, a avaliação tanto do PT quanto do Palácio do Planalto é de que o ex-presidente foi alvo da Operação de quarta-feira, fazendo com que o cerco se fechasse ainda mais contra ele

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A 22ª fase da Operação Lava Jato, que colocou em foco o edifício Solaris no Guarujá e foi deflagrada na manhã da última quarta-feira (27), chamada Triplo X, não teve como alvo formal o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Contudo, mesmo sem ser citado, a avaliação tanto do PT quanto do Palácio do Planalto é de que o ex-presidente foi alvo da Operação, fazendo com que o cerco se fechasse ainda mais contra ele.

A Triplo X investiga lavagem de dinheiro com a compra de empreendimentos imobiliários em Guarujá, no litoral paulista. Três pessoas foram presas. A Polícia Federal apura se imóveis que transferidos pela Bancoop (Cooperativa Habitacional dos Bancários) para a empreiteira OAS foram usados como repasse de propina, dentre eles o Solaris. Entre os imóveis investigados, está um tríplex no Guarujá que foi reservado a Lula.

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, classificou ontem de “especulações absolutamente indevidas” as notícias veiculadas pela imprensa segundo as quais a nova fase da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, está se aproximando de Lula. 

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“Apenas posso dizer [falar sobre] as situações que já são públicas. Recentemente, o juiz Sérgio Moro disse que o presidente Lula não é investigado na Operação Lava Jato, e eu não recebi nenhuma informação, mesmo aquelas veiculadas pela imprensa, de que tenha sido praticado qualquer ato investigativo em relação à pessoa do presidente Lula”, afirmou o ministro. Moro é o responsável pelos inquéritos da Lava Jato.

Porém, conforme destacado pela Folha de S. Paulo e pelo G1, auxiliares de Dilma acreditam que “o cerco a Lula se fechou ainda mais” e isso é “preocupante” visto que o ex-presidente ainda é tido como o principal fiador do governo. 

Segundo a colunista Cristiana Lôbo, do G1, há a convicção de que o alvo é Lula, que comprou um apartamento da Bancoop e, depois do entendimento da cooperativa com a OAS, teve um triplex reservado para sua família. Porém, a transferência do apartamento para o nome do ex-presidente não foi concluída depois do fato ser noticiado pela imprensa. “O nome da operação, para petistas, não deixa dúvidas de onde a investigação pretende chegar”, afirma.

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E o clima ontem foi de apreensão no Instituto Lula por conta da Operação, segundo interlocutores ouvidos por Gerson Camarotti. “Está claro que Lula virou alvo da investigação”, comentou um parlamentar da relação pessoal do ex-presidente. Aliados fazem coro ao discurso de que a operação é “uma tentativa politizada” de “desgastar” e “desmerecer” a imagem de Lula.  

Assim, a palavra de ordem foi de cautela dentro do governo. A presidente Dilma Rousseff classificou de “insinuação” a avaliação de que a nova fase da Operação Lava Jato está se aproximando do petista, enquanto o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, disse acreditar que existe uma “obsessão” que é difundida de modo a “contaminar” a imagem do ex-presidente. 

“Eu acho que há uma certa obsessão que acaba se difundindo, como se toda operação tivesse o objetivo, e a gente tem testemunhos de pessoas, inquéritos, depoimentos… Que sempre se busca a tentativa de contaminar o presidente Lula”, disse o ministro.

Na noite de ontem, Lula também repudiou as notícias de que estaria envolvido nesta fase da Lava Jato. “O ex-presidente Lula não foi sequer citado na decisão do juiz Sérgio Moro e repudia qualquer tentativa de envolver seu nome em atos ilícitos investigados na chamada Operação Lava Jato. Nos últimos 40 anos, nenhum líder brasileiro teve a vida particular e partidária tão vasculhada quanto Lula, e jamais encontraram acusação válida contra ele”, afirmou o Instituto que leva o seu nome, em nota.

“Lula nunca escondeu que sua família comprou, a prestações, uma cota da Bancoop, para ter um apartamento onde hoje é o edifício Solaris. Isso foi declarado ao Fisco e é público desde 2006. Ou seja: pagou dinheiro, não recebeu dinheiro pelo imóvel. Para ter o apartamento, de fato e de direito, seria necessário pagar a diferença entre o valor da cota e o valor do imóvel, com as modificações e acréscimos ao projeto original. A família do ex-presidente não exerceu esse direito. Portanto, Lula não ocultou patrimônio, não recebeu favores, não fez nada ilegal. E continuará lutando em defesa do Brasil, do estado de direito e da Democracia”, completou.

Porém, nos bastidores, apesar das negativas, o cenário segue de apreensão, com um possível novo desgaste ao ex-presidente em um momento em que seu filho caçula é alvo da Operação Zelotes e após novas delações já terem vindo à tona neste ano, como a do ex-diretor Nestor Cerveró, em que o delator ligou sua nomeação a um cargo no governo Lula a um empréstimo de R$ 12 milhões investigado na Lava Jato. Além disso, a avaliação é de que a Operação vem no momento em que o governo está “fragilizado” e “tenta encontrar saídas” para a crise. Nesta quinta, haverá a reunião do chamado “Conselhão”, que buscará medidas para reativar a economia, mas a Lava Jato voltou a roubar a cena.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.