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SÃO PAULO – O presidente Michel Temer conta hoje com apoio suficiente para barrar no plenário da Câmara dos Deputados o avanço da denúncia por corrupção passiva apresentada contra ele pelo procurador-geral Rodrigo Janot, mas o placar da batalha prevista para a próxima quarta-feira (2) tem grande importância para o futuro do atual governo. Isso porque uma ou mais denúncias ainda deverão ser apresentadas pelo PGR e o governo ainda tem planos para retomar sua agenda de reformas, com destaque para as polêmicas modificações nas regras da Previdência via Proposta de Emenda à Constituição.
Uma pesquisa feita pela consultoria Bites com base em posições assumidas pelos parlamentares nas redes sociais, entrevistas a qualquer veículo de imprensa ou em discursos indica que, com a esperada exoneração temporária de dez ministros com cargo de titular na casa legislativa para participar da sessão, ao menos 183 deputados deverão votar com o relatório de Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que pediu o arquivamento da denúncia. A oposição, por sua vez, conta com ao menos 213 votos, enquanto 116 são classificados indefinidos.
Segundo o levantamento, o PMDB tem 16 parlamentares indefinidos, 18 contrários a denúncia e oito favoráveis. Do lado do PSDB, são cinco indefinidos, 18 contra e 23 a favor. É mais um sinal de que um dos principais fiadores do atual governo ensaia pular do barco governista e complicar ainda mais as condições de Michel Temer. Mesmo assim, notam-se esforços do senador Aécio Neves em garantir o apoio do partido ao presidente: em Minas Gerais, dos sete deputados tucanos, apenas Eduardo Barbosa deseja encaminhar a denúncia ao Supremo Tribunal Federal para que o peemedebista se torne réu.
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Do ponto de vista regional, a maior taxa relativa de deputados favoráveis à denúncia de Rodrigo Janot aparece no Sul (49%), seguido por Nordeste (45%) e Sudeste (43%). Na outra ponta, Temer conta com maior apoio proporcional no Norte (45%) e Centro-Oeste (39%). Em termos nominais, as regiões Nordeste e Sudeste lideram o movimento pela autorização do seguimento da denúncia à corte. A tabela abaixo ilustra o cenário:
Indefinido (% na região) | Não* (% na região) | Sim* (% na região) | TOTAL | |
Centro-oeste | 6 (14,63%) | 19 (46,34%) | 16 (39,02%) | 41 |
Nordeste | 24 (15,89%) | 59 (39,07%) | 68 (45,03%) | 151 |
Norte | 31 (47,69%) | 16 (24,62%) | 18 (27,69%) | 65 |
Sudeste | 48 (26,97%) | 54 (30,34%) | 76 (42,70%) | 178 |
Sul | 13 (16,88%) | 26 (33,77%) | 38 (49,35%) | 77 |
TOTAL | 122 | 174 | 216 | 512** |
* Sim: pela autorização do recebimento da denúncia
* Não: pela rejeição do recebimento da denúncia
** O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, não foi contabilizado
Fonte: Bites
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Apesar de suficiente para afastar o fantasma em um primeiro momento por superar a marca dos 172, o grupo de apoiadores conquistado pelo peemedebista não é capaz de garantir a abertura da sessão amanhã, o que demanda quórum de pelo menos 342 deputados. Com isso, ainda não há certeza se haverá deliberação sobre a denúncia na sessão de quarta-feira e o peemedebista pode continuar com essa faca no pescoço por mais tempo, além do risco de ser exposto a novas denúncias e ataques via delações premiadas.
De todo modo, o que se desenha no horizonte é a conquista de um placar menor que o necessário para a aprovação de uma PEC, mantendo dúvidas sobre as reais condições de o governo conduzir uma aprovação da Reforma da Previdência, por mais enxuta que possa ser. No mercado, cresce a percepção de que um placar mais próximo dos 200 votos significará que Temer não foi capaz de demonstrar força, ao passo que se o governo conseguisse algo perto dos 300 votos, teria mostrado que o peemedebista ainda controla parte importante da casa.