Analistas traçam possíveis consequências econômicas da alta do petróleo

Risco é de inflação a nível global, abalando recuperação dos EUA, Brasil também deve ser impactado via balança comercial

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SÃO PAULO – Nas últimas semanas, o chamado MENA (Middle East and Nort Africa, ou Oriente Médio e norte da África) chamou a atenção do mercado internacional com os constantes confrontos políticos e seus desdobramentos sobre o petróleo. A instabilidade começou no Egito, mas logo foi ganhando força e o espraiamento não foi impedido: uma série de ataques na Líbia, Bahrein, Omã e outros possíveis candidatos preocupam os investidores, que adotaram uma postura mais cautelosa. 

Para muitos analistas, o Brasil não está totalmente protegido. Embora os efeitos dos conflitos – que culminaram na escalada do preço do petróleo – recaiam principalmente sobre economias fortemente dependentes desses mercados, como é o caso dos Estados Unidos, as bolsas globais responderam muito mal à questão, inclusive o Ibovespa seguiu alguns pregões em queda, repercutindo o sentimento de aversão ao risco que começou a se espalhar lentamente. Com esse recente quadro instável, quais serão as consequências para o mundo? Diante desses questionamentos, os analistas lançam suas perspectivas e avaliam como poderá ser o desfecho dessa história e que surpresas ele guarda para a economia mundial.

Em um primeiro momento, como avalia Christin Tuxen, analista do Danske, a alta do petróleo está relacionada com um avanço econômico global, dando sinais de que o processo de recuperação econômica tenderia a se fortalecer durante 2011. Essa melhora macroeconômica, tanto em países desenvolvidos como emergentes, teria estimulado o apetite e a demanda por commodities, o que elevou seus preços.

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Porém, o foco do mercado mudou da demanda para a oferta, à medida que a intensificação dos protestos e da instabilidade na região da MENA trouxe alguns agravantes para essa alta generalizada dos preços, sobretudo do petróleo. A situação é ainda mais tensa porque, para o analista, é muito difícil prever qual será o desfecho desses conflitos. Além disso, a efervescência política na região apareceu em um momento em que os mercado globais encontram-se mais “apertados”, o que piora a situação e a presença de pressão inflacionária, não só nos países emergentes, coloca ainda mais pontos de atenção para o problema.

Implicações para Europa e EUA
Para a equipe de analistas do Barclays, a situação é extremamente preocupante, pois os efeitos prolongados dessa efervescência política podem impactar a recuperação econômica de Estados Unidos e alguns países da Europa, que já estão enfrentando situações adversas em suas economias locais em decorrência da crise internacional de 2008.

Para o banco, embora o risco de paralisação total da produção seja pequeno e mesmo com as reservas de petróleo garantidas para abastecer o mercado mundial, isso se restringe ao curto prazo. Sendo assim, a permanência desse clima de tensão deve levar a sérias consequências ao mercado da commodity. Para o banco, o ponto principal a ser analisado é o risco de contágio, podendo atingir outras regiões, como por exemplo a Arábia Saudita – o maior produtor de petróleo dentro da Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo).

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Nesse ponto, vale destacar a visão do Goldman Sachs. Para os analistas do banco, o risco de contágio é relevante e a possível redução na disponibilidade de petróleo faria necessário o racionamento do commodity, elevando os riscos em projeções e puxando ainda mais para cima as atuais cotações, que bateram recordes anuais nos últimos dias.  

Para Tuxen, o mercado está temeroso acerca da promessa de manter a produção global do óleo por parte da Arábia Saudita. Em 2008, por exemplo, a Opep não respondeu ao movimento de alta dos preços até que atingisse US$ 130 por barril e, com isso, a produção na Arábia Saudita aumentou modestamente em 0,5 milhão de barris por dia. Além disso, há a questão da qualidade do óleo. Mesmo que a Arábia Saudita seja capaz de cobrir essa produção, em virtude da diferença na especificidade do petróleo que é produzido em cada país. Enquanto o líbio é mais leve, o da Arábia Saudita é considerado mais pesado.

Os analistas também parecem manter a posição de que esse cenário é potencialmente ruim para a recuperação econômica dos EUA. De acordo com a equipe da MCM Consultoria, das últimas 11 recessões que acometeram os EUA, 10 foram precedidas por choques de petróleo. Essa alta nos preços atinge a economia via oferta, com o aumento dos custos e a redução da quantidade produzida, e via demanda, com a queda no consumo por bens ligados à energia.

Além disso, há o risco de um novo double-deep (situação de contração econômica, seguida de recuperação e nova recessão) da economia americana. Ainda assim, os analistas destacam que a economia americana, embora suscetível, criou certo colchão protetor a esse tipo de flutuação.

Exposto o cenário geral, o Danske não acredita que essa situação poderá interromper o ciclo de crescimento e recuperação econômica vivido no mundo atualmente, análise que não é compartilhada pela Rosenberg. Para a analista da consultoria, se a alta do barril permanecer muito forte, a “incipiente” recuperação dos EUA estará ameaçada, “pois redirecionará renda do consumidor para a compra de combustíveis”.

China também será afetada
Porém, a situação de relativa folga não se estende até a China, já que seu processo de crescimento é altamente dependente de energia. A consultoria ressalta que até 1992 a economia chinesa era exportadora líquida de petróleo. Já em 2007, o número de importação havia aumentado assustadoramente para 3,6 milhões de barris por dia, ou seja, seu grau de dependência não pode ser desprezado.

O efeito contracionista da permanência da alta dos preços poderia levar a uma queda de até 1 ponto percentual do crescimento econômico chinês, o que traria sérias consequências para o crescimento mundial. 

De acordo com a leitura do Barclays, os ativos dos países emergentes entraram no choque de oferta de petróleo em uma situação “um pouco precária”, com os fundos já indicando sinais de “fadiga”. Além disso, o cenário de temor inflacionário para esses países acentuou o fraco desempenho de seus ativos versus os de mercados desenvolvidos.

Brasil também pode sofrer as consequências
Para a Rosenberg, os efeitos sobre o Brasil devem se concentrar na balança comercial e na inflação. Em um primeiro momento, a balança comercial deve ser beneficiada e isso já tem sido observado, dado que o óleo bruto superou o minério de ferro como o principal produto exportado.

Porém, em um momento posterior, os preços dos derivados do petróleo tendem a reagir à alta dos preços. Como o País é um forte importador de produtos como nitrogenados, nafta, etc, as importações aumentariam, o que reduzira novamente a balança comercial.

Além disso, como já destacado por demais analistas, a inflação brasileira, que tem forte influência dos preços internacionais de commodities, poderá elevar-se.

A análise da Rosenberg apresenta uma possível solução otimista para os conflitos. Segundo Thaís, é possível que no longo prazo, os conflitos políticos tragam benefícios. As manifestações trazem como objetivo a democracia. Segundo Thaís, por trás desse pedido, há a pobreza dos povos desses países. Sendo assim, se a situação for controlada futuramente e acarretar maior inclusão social dessa população, há uma tendência para um aumento na demanda mundial por alimentos.

O temor com a inflação
Existe, portanto, um sério risco de que essa alta no preço do petróleo (e a incerteza de quanto tempo ela irá durar) leve a uma situação de inflação. Esse temor não é totalmente desprezível, devido ao último pronunciamento de Jean-Claude Trichet. Segundo o presidente do BCE (Banco Central Europeu), há um risco inflacionário surgindo na zona do euro, principalmente a partir do último mês. Sendo assim, Trichet sinalizou que há a possibilidade de haver um aumento na taxa de juros, ainda que pontual, para combater os efeitos da alta de preços – causada principalmente pela elevação dos preços das commodities.

Para Frank Oland Hansen e Anders Moller Jorgensen, equipe de análise do Danske, a expectativa é que o BCE eleve a taxa de juros em 0,25% na próxima reunião, em abril e siga com uma política de elevação até o final do ano, quando a taxa deve ficar em 1,75% ao ano. Segundo os analistas, essa alta, após as palavras de Trichet, já está precificada no mercado.

Para Koon Chow e George Christou, analista do Barclays, a alta do petróleo pode levar a uma situação de alta da inflação nos países do MENA, tanto para produtores como para consumidores. Para os analistas, a única nuance no processo seria a possibilidade dos produtores de usar alguns instrumentos fiscais da alta do óleo para subsidiar os consumidores, ofuscando alguns, mas não todos os efeitos do impulso inflacionário. Sendo assim, há dois possíveis cenários: o primeiro em que o preço do óleo é alto, porém estável e, portanto, os efeitos estariam concentrados nas taxas de mercado; e o segundo onde o mundo deverá observar uma escalada da cotação da commodity, com pressão sobre câmbio.

Se a elevação do preço permanecer, poderá haver um descompasso de política monetária em alguns países, sobretudo naqueles onde a inflação é mais preocupante. os grandes consumidores líquidos de petróleo, com grandes déficits em conta corrente e com fluxos de financiamento enfraquecendo estão em maior risco. O oposto é verdadeiro para países que são produtores líquidos de petróleo.

Se o preço do barril ficar estável em um nível elevado, haverá menos espaço para a atuação das políticas monetárias como alternativas corretivas. Os efeitos, portanto, devem recair sobre as taxas do mercado em uma amplitude muito maior do que sobre taxa de câmbio. Para o banco de investimentos, o segundo cenário é o mais factível, sendo que as taxas de mercado na região da MENA já estão precificadas em um ciclo moderado de alta.

Cenários
Para Koon Chow e George Christou, analista do Barclays, a alta do petróleo pode levar a uma situação de alta da inflação nos países do MENA, tanto para produtores como para consumidores. Para os analistas, a única nuance no processo seria a possibilidade dos produtores de usar alguns instrumentos fiscais da alta do óleo para subsidiar os consumidores, ofuscando alguns, mas não todos os efeitos do impulso inflacionário.

Assim, Chow e Christou avaliam que há dois possíveis cenários: um em que o preço do óleo é alto, porém estável e, portanto, os efeitos estariam concentrados nas taxas de mercado. O outro diz respeito a uma escalada da cotação da commodity, com pressão sobre câmbio.

Se a elevação do preço permanecer, poderá haver um descompasso de política monetária em alguns países, sobretudo naqueles onde a inflação é mais preocupante. os grandes consumidores líquidos de petróleo, com grandes déficits em conta corrente e com fluxos de financiamento enfraquecendo estão em maior risco. O oposto é verdadeiro para países que são produtores líquidos de petróleo.

Se o preço do barril ficar estável em um nível elevado, haverá menos espaço para a atuação das políticas monetárias como alternativas corretivas. Os efeitos, portanto, devem recair sobre as taxas do mercado em uma amplitude muito maior do que sobre taxa de câmbio.

Para o banco de investimentos, o segundo cenário é o mais factível, sendo que as taxas de mercado na região da MENA já estão precificadas em um ciclo moderado de alta.

 Projeções
Por fim, o analista do Danske traçou suas perspectivas de preços para o petróleo. Segundo Tuxen, o óleo Brent (negociado em Londres) deve tramitar em um faixa de US$ 95 a US$ 125 durante 2011. Essa previsão parte do pressuposto que o risco de contágio é pequeno e que outras regiões produtoras não serão atingidas. Sendo assim, qualquer mudança nas hipóteses poderá levar a preços mais altos.

Tuxen também avalia que essa situação adicional um prêmio de risco para o petróleo que não deve desaparecer ao longo do ano.

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