Analistas fazem guia para eleições; Marina e Campos viraram “gente grande”

JPMorgan, Votorantim e LCA destacaram novos pontos para eleição presidencial do Brasil, potenciais candidatos e mudança de quadro com aliança Campos-Marina

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Com o fim do prazo para a criação e troca de partidos, ficou um pouco mais definida a posição nas peças no tabuleiro do xadrez eleitoral. É o que destaca a Votorantim Corretora destacando que a decisão de Marina Silva de se filiar ao PSB (Partido Socialista Brasileiro) do pré-candidato Eduardo Campos, mostra como a política pode se tornar imprevisível.

Neste sentido, os analistas Ibsen Costa e Paula Pavon preferem não eleger “vencedores” para este movimento, destacando que só o futuro e as próximas pesquisas poderão responder. Conforme apontam Costa e Paula, aliança com Eduardo Campos pegou todo o mundo político de surpresa.

Marina Silva sempre insistiu que não tinha plano B e chamou essa articulação de plano C, de Campos. “Aparentemente foi uma saída brilhante, do ponto de vista político, encontrada na última hora de sexta-feira, 4 de outubro, véspera do fatídico prazo do calendário eleitoral. No entanto, há informações de que o acordo vinha sendo costurado há meses”, ressaltaram os analistas.

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Eles destacam que não pode se dizer que Marina foi oportunista, uma vez que, pelo menos em tese, não entra no PSB para ser candidata. Ressaltam porém que, embora pouco provável, não se descarta a possibilidade de que, ao invés de Marina ser vice de Campos, o atual governador de Pernambuco entre como vice de Marina. 

“Por outro lado, a opção de Marina tem potencial para transformar o PSB em uma espécie de terceira via, que poderia acabar com a histórica polarização entre PT e PSDB nas eleições presidenciais. Em todas as últimas pesquisas de opinião Marina Silva aparecia em segundo lugar, atrás apenas da presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição. Eduardo Campos estava em quatro lugar, atrás de Aécio Neves. Agora, como fica essa disputa? Ainda é cedo para arriscar um palpite”, ressaltam.

Marina e Campos viraram “gente grande”, diz LCA
Os consultores da LCA apontam ainda que esta movimentação de Marina Silva mostrou que, antes de mais nada, ela é uma veterana política profissional ao alterar o panorama de sucessão presidencial.

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Com isso, a profecia dos marqueteiros do PT, de que os “anões da oposição” iriam se esgotar em uma luta autofágica, fica um pouco mais distante, afirma a LCA e, com isso, faz com que se escape a desgastada polarização entre PT-PSDB.

Outro ponto é que ambos se complementam em vários aspectos, a começar pela geografia eleitoral: Campos é mais forte no Nordeste, enquanto Marina é mais forte no Sul e Sudeste. Além disso, o PSB tem mais estrutura, enquanto Marina conta com uma militância mais engajada, destaca a consultoria. Por outro lado, o atual governador de Pernambuco tem bom trânsito entre o empresariado, enquanto Marina conta com conselheiros econômicos que recebem aval do mercado financeiro.

“Além disto, é mais difícil taxar a dupla como conservadores ou representantes do atraso, como o PT fazia facilmente com o PSDB. Esta retórica, no sentido contrário, é mais fácil a Marina e Campos empregar contra o PT e sua aliança com o PMDB”, destaca a consultoria. Com isso, surgiu um problema para o governo, apontam os consultores, que ressaltam que a candidatura tem uma chance real de vingar.  

JPMorgan: três aspectos importantes para a corrida eleitoral
Até recentemente, com a popularidade da presidente Dilma Rousseff nas alturas, as eleições de 2014 pareciam ser um “não-evento”, uma vez que as pesquisas indicam uma vitória bastante tranquila da atual governante brasileira. Contudo, os protestos que se espalharam em junho combinados à deterioração econômica mudaram o quadro, aponta o JPMorgan.

Desta forma, os estrategistas e economistas do banco norte-americano avaliam que a corrida presidencial está em aberto, deve ser extremamente competitiva e que há pouca visibilidade sobre quem será o vencedor. Eles destacam que os candidatos a reeleição costumam ganhar em 65% das vezes, mas o atual cenário indica um cenário difícil para que Dilma seja eleita para um novo mandato.

O banco destacou três aspectos importantes: quem são os candidatos, em que contexto econômico a eleição irá ocorrer e quais são os riscos para a direção da política econômica.

“É a economia!”. Esta frase, que foi emblemática nas eleições norte-americanas de 1992, que culminou na vitória do democrata Bill Clinton, serve agora para o Brasil, segundo o JPMorgan. “A economia foi o que levou a classe média às ruas em junho com a inflação deteriorando os salários reais da população”. Assim, o banco destaca que os indicadores de confiança e mercado de trabalho, o contexto econômico que irá prevalecer e a capacidade de organização da oposição são importantes para definir a disputa. 

Contudo, os estrategistas e economistas do banco não acreditam que há um risco de desmantelamento institucional, independente de quem ganhe. “A primeira eleição de um presidente de esquerda foi com Lula em 2002 e as instituições centrais foram mantidas, o que diminuiu consideravelmente o risco político relacionado às transições”. 

Por outro lado, difíceis decisões têm que ser tomadas. Os economistas do JP Morgan ressaltam que o menor potencial de crescimento econômico e a inflação alta que devem permanecer em 2014, o que aumenta o risco de uma deterioração do mercado de trabalho. 

Assim, a atual política deve se direcionar para reformas estruturais  lideradas por maiores investimentos, que aumente as perspectivas de crescimento da economia, aponta o banco, destacando que uma das razões pararebaixar” o Brasil foi a sua política bastante deficiente e intervencionista. 

Neste sentido, avaliam, os protestos também indicam a busca por mudanças de políticas demandadas pela população, que demandam por questões relacionadas a reformas de longo prazo, que não podem ser resolvidas em um ano eleitoral, destaca o banco.

Os candidatos, na visão do JPMorgan
O JP Morgan ressalta que há alguma visibilidade sobre quem são os candidatos. Começando pela promessa de que a presidente Dilma concorrerá à reeleição, o que é reforçada também pelo ex-presidente Lula. Aécio Neves e Eduardo Campos são os outros candidatos nesta disputa. 

Em relatório de agosto, o JPMorgan via a candidata Marina Silva como competitiva, mas que não tinha a estrutura para ganhar numa campanha disputada. O retorno de Lula também foi tido como improvável, uma vez que é difícil acreditar que Lula estaria com disposição para estragar o seu legado em um ambiente de crescimento econômico mais fraco.

Já a Votorantim Corretora destaca que apesar de pregarem uma nova atuação, tanto Marina Silva quanto Eduardo Campos não são novos na política. Campos é neto e herdeiro político de Miguel Arraes, uma liderança histórica do nordeste. Ele foi chefe de gabinete de Arraes e também secretário da Fazenda. Filiou-se ao PSB de seu avô em 1990 e elegeu-se deputado estadual. Depois, foi três  vezes eleito deputado federal e nomeado ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula, em 2004. Já Marina Silva ajudou a fundar o PT no Acre, foi senadora e ministra do Meio  Ambiente no governo Lula, antes de se mudar para o Partido Verde e concorrer à presidência  em 2010.

Perguntas a serem respondidas… ao longo do tempo
A Votorantim Corretora destaca ainda o novo cenário, como pode ser observado no noticiário do último final de semana, ressaltando que os estrategistas do Planalto, também surpreendidos,
 já encomendaram pesquisas para avaliar o novo quadro. 

“Como sempre fazemos questão de alertar, ainda falta um ano para as eleições e muita coisa pode acontecer até lá. O lance de Marina foi só mais um exemplo de como os cenários políticos mudam no Brasil. O que deve se perguntar é: será que todos os potenciais eleitores de Marina vão transferir sua intenção de voto para Campos? E os que apoiam Campos, votariam em uma chapa com Marina? Aécio Neves perderá espaço na disputa, animando novamente os que defendem a candidatura de José Serra? O PPS se juntará ao PSB, ampliando um pouco o tempo do horário “gratuito” na TV, hoje calculado em pouco mais de um minuto? (a coligação de partidos aliados ao governo federal pode ter mais de sete minutos e a do PSDB, mais de três)”, questionam os analistas da Votorantim.

E sobre Dilma Rousseff? Assim como o JP, a Votorantim também vê a economia como uma das questões importantes para o pleito. E destaca: a popularidade presidencial da atual governante do País caiu em junho, por causa da inflação, despencou em julho, após as manifestações populares (chegou a ficar tecnicamente empatada com Marina), e se recuperou um pouco em agosto e setembro.

Segundo a última pesquisa do Ibope, divulgada em 26 de setembro, Dilma venceria as eleições no segundo turno, contra qualquer um dos candidatos apresentados nas simulações.

Essa situação mudou com a união entre Marina e Campos?, questiona a Votorantim. “Provavelmente não. Eduardo Campos ainda é praticamente desconhecido nacionalmente. Apenas 1% dos entrevistados dizem espontaneamente que vão votar nele”, responde. Mas faz contraponto ao dizer que, na verdade, a campanha está apenas começando, sendo que 45% dos eleitores ainda não têm candidato. O horário eleitoral só começa em 19 de agosto de 2014. “A partir daí, sim, será possível aferir melhor o desempenho potencial dos candidatos nas urnas. Como estará a economia até lá? Isso nem as pesquisas se atrevem a prever”, conclui. 

Enquanto isso, a LCA aponta que o PT não esperará inerte aos movimentos, aumentando as chances de que Lula saia do banco. “Mas, sem dúvida, o cenário mudou, na direção de uma disputa bem mais concorrida”, conclui a consultoria.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.