Analistas avaliam impactos de delação de Cid, mas esperam que Bolsonaro mantenha destaque na direita

Mesmo após inelegibilidade, quase metade dos especialistas consultados pelo InfoMoney acreditam que ex-presidente permanecerá em posição de liderança

Marcos Mortari

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid (Foto: Alan dos Santos/Presidência da República)

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As primeiras notícias envolvendo a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República, tiveram forte repercussão no meio político e ampliaram as especulações sobre a situação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os rumos da direita no Brasil.

Cid estava preso desde maio, após uma operação da Polícia Federal para investigar a adulteração de cartões de vacinação no contexto da pandemia de Covid-19. Mas deixou a prisão pouco menos de duas semanas atrás, após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologar o acordo de delação premiada celebrado com a PF.

A decisão do tenente-coronel, uma das figuras mais próximas de Jair Bolsonaro durante seus quatro anos de mandato à frente do Palácio do Planalto, de colaborar com as investigações ocorreu em meio ao avanço das descobertas no caso envolvendo as joias recebidas de presente pelo então mandatário.

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As apurações chegaram ao nome do general do Exército Mauro Cesar Lorena Cid, pai do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. O que ampliou o constrangimento nas Forças Armadas.

Ontem (21), o site UOL e o jornal O Globo informaram que, em um dos depoimentos pelo acordo de delação premiada, Mauro Cid teria dito que, após a derrota nas eleições do ano passado, Bolsonaro recebeu de seu assessor Filipe Martins uma minuta de decreto para convocar novas eleições, que incluía a prisão de adversários.

De acordo com as publicações, Cid teria dito que Bolsonaro submeteu o teor do documento em conversa com militares de alta patente. O depoente afirmaria, ainda, que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, manifestou-se favoravelmente ao plano golpista nas conversas, mas não houve adesão do Alto Comando das Forças Armadas, especialmente do Exército.

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A defesa de Bolsonaro, por sua vez, disse que ele não compactuou com medidas sem respaldo na legislação e que sempre “jogou dentro das quatro linhas da Constituição Federal”. Em nota, os advogados afirmaram, ainda, sem citar Cid, que vão adotar as medidas judiciais cabíveis contra eventuais calúnias em delação.

A 49ª edição do Barômetro do Poder, levantamento feito mensalmente pelo InfoMoney com consultorias e analistas independentes sobre alguns dos principais temas em discussão na política nacional, revela algumas impressões sobre o potencial impacto do novo momento das investigações.

O levantamento, realizado entre os dias 12 e 15 de setembro (portanto, antes da publicação de trecho do conteúdo supostamente delatado pelo depoente), mostra que 43% dos analistas políticos consultados consideram “alto” o potencial impacto da delação de Cid sobre o capital político de Bolsonaro. Outros 43% consideram “moderado”, e 14%, “baixo”.

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Considerando uma escala de 1 (muito baixo) a 5 (muito alto), a média das respostas indicou um impacto na casa de 3,29 ‒ levemente acima da média.

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Apesar dos impactos esperados com a delação premiada de Mauro Cid e de alguns reveses sofridos na Justiça, como a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por torná-lo inelegível, Bolsonaro é visto por muitos especialistas como expoente na direita brasileira.

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Quase metade (43%) dos analistas consultados pelo Barômetro do Poder acredita que, mesmo com o impedimento para disputar as próximas eleições, Bolsonaro continuará como a principal liderança da direita no país.

Outros 50% veem o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura na gestão Bolsonaro, como seu sucessor natural. E 7% apontam o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo).

Esta edição do Barômetro do Poder ouviu 12 consultorias políticas – Control Risks; Dharma Political Risk & Strategy; Empower Consultoria; Eurasia Group; Medley Global Advisors; Patri Políticas Públicas; Ponteio Política; Prospectiva Consultoria; Pulso Público; Tendências Consultoria Integrada; Vector Relações Governamentais; e Warren Rena – e 2 analistas independentes – Carlos Melo (Insper); e Thomas Traumann.

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Conforme acordado previamente com os participantes, os resultados são divulgados apenas de forma agregada, sendo preservado o anonimato das respostas e dos comentários.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.