Aloysio Nunes como vice une PSDB, mas não anima: o que ele traz de bom para Aécio?

Analistas políticos destacam que a opção não é a dos sonhos para o partido e não deve trazer muitos dividendos eleitorais, mas que aumenta a união dentro do PSDB

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A decisão de escolher o senador paulista Aloysio Nunes Ferreira como candidato à vice-presidência na chapa de Aécio Neves (PSDB) é vista como razoável do ponto de vista estratégico, mas sem causar nenhuma surpresa. E, se por um lado, a escolha do senador paulista une o PSDB, por outro lado, não há muito o que se acrescentar em dividendos políticos junto ao eleitorado. 

“Para quem tinha prometido uma surpresa, com uma possível escolha de Tasso Jereissati (PSDB-CE), e até mesmo Henrique Meirelles ou Mara Gabrilli, a decisão com uma chapa puro-sangue pouco surpreendeu”, aponta o cientista político e professor de administração pública da Fundação Getulio Vargas, Marco Antônio Carvalho Teixeira. Já o cientista político do Insper e FESP-SP, Humberto Dantas ressalta: “esta indicação talvez não seja a mais perfeita, não é a opção dos sonhos. Outras opções agregariam mais”. 

De acordo com Teixeira, a decisão foi muito mais para unir o partido e aumentar o apoio dos “serristas”, em meio às divergências entre as regionais do partido em Minas Gerais e São Paulo, do que de forma a angariar votos. O cientista política ressalta ainda que a decisão expõe a fragilidade dos partidos aliados, que não possuíam um nome forte para a chapa com Aécio. “Do ponto de vista eleitoral, acrescenta-se muito pouco, sendo muito mais uma forma de unir o partido”, avalia.

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O consultor político e blogueiro de política do InfoMoney, Vítor Oliveira, compartilha a visão de Teixeira de que nenhum político dos partidos aliados – especialmente do Democratas – teria força suficiente para emplacar o seu nome como vice de Aécio, em um ambiente livre da concorrência de outras forças partidárias. 

Porém, ele avalia que a escolha do vice-presidente causa pouca mudança para o quadro eleitoral no Brasil. “Ao menos, os partidos tendem a utilizar a vaga para organizar a coalizão e fortalecer a coordenação partidária, algo fundamental para vencer qualquer disputa majoritária de grande porte. A campanha eleitoral para a presidência é muito cara e um dos problemas do PSDB nas últimas eleições foi não conseguir se articular internamente de modo adequado”, afirma.

Dos quatro possíveis nomes que foram cogitados para formar a chapa com Aécio, três eram serristas: Mara Gabrilli, Aloysio e o próprio Serra, enquanto Tasso era mais independente. “Temendo um racha no partido, o núcleo que apoia Aécio e conseguiu consagrá-lo como presidenciável, preferiu se afastar das divergências e indicar um serrista”, ressalta Dantas. 

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O que os vices representam para as eleições?
De uma forma geral, os “vices” não são tão determinantes para angariar votos para as disputas presidenciais. O ponto fora da curva até agora foi a escolha de Marina Silva como candidata a vice, avalia Oliveira.

Se der certo – e até agora, ela não se mostrou capaz de impulsionar a candidatura do PSB -, aponta Oliveira, pode ser um novo paradigma para a escolha dos vices. “No entanto, a ex-senadora tem aumentado muito os custos de articulação nacional da candidatura de Eduardo Campos para 2014. É possível que sua exposição no horário eleitoral gratuito mude o jogo, mas até aqui, os custos são maiores que os benefícios”, afirma.

Teixeira cita, por outro lado, que a escolha do vice ter ficado em São Paulo, e não no Nordeste, pode não ser favorável para Aécio Neves. Isso porque o Nordeste é uma região em que o PSDB é tradicionalmente mais fraco e a escolha de um vice com maior envergadura por lá poderia trazer dividendos para a campanha do candidato tucano à presidência.

Vale lembrar que um dos tucanos no horizonte para ser o vice era o ex-governador cearense Tasso Jereissati. Apesar de já ter anunciado que não concorreria a mais nenhum cargo público, ele poderia ser uma alternativa para reverter os resultados bem ruins de Aécio no Nordeste. De acordo com a última pesquisa Ibope, Aécio Neves só tem 10% da intenção dos eleitores da região, atrás da presidente Dilma Rousseff (PT) e do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), seus concorrentes. Mas os resultados ruins de Tasso nas últimas eleições, com a perda da vaga no Senado Federal, também pesaram contra.

“A questão do vice permanece a mesma: o tempo de televisão”, aponta o professor da FGV, Marco Teixeira, destacando que a expressão de Aloysio será pequena e que a decisão terá como resultado um “jogo de soma zero”. Porém, a decisão também embute alguns riscos. Teixeira destaca que, ao optar por um vice do próprio partido, Aécio fez concessões mais arriscadas a outros partidos. Uma delas foi deixar a coordenação da campanha para José Agripino Maia (DEM-RN). Maia é conhecido por ter um perfil mais combativo, avalia o cientista político, enquanto a ideia de um coordenador era da adoção de um perfil mais conciliador com a chapa formada para a disputa presidencial. 

Desta forma, o impacto eleitoral do candidato a vice é muito mais indireto, segundo Oliveira, uma vez que mostra a força da articulação política por trás da candidatura presidencial. E, no caso do PSDB, até por isto demorou tanto a sair, pois era reservada para algum potencial aliado político, cujo impacto estratégico pudesse ser maior que o de outro tucano.

Assim, o PSDB deixou para anunciar o vice de Aécio no último momento para tentar atrair partidos que antes faziam parte da base aliada, afirma Dantas.”Conseguiu fazer isso com o PTB, porém a sigla não tem nenhum nome expressivo para completar a chapa presidencial. Se um partido forte da oposição se juntasse ao PSDB e tivesse um nome forte para indicar a vice-presidência, seria possível emplacar um vice mais impactante do que Aloysio”, afirma. 

No entanto, se Aloysio Nunes for capaz de ser a ponte entre o PSDB paulista e a candidatura de Aécio Neves, isto significa que o impacto eleitoral de sua escolha será positivo para a candidatura tucana, afirma Vítor Oliveira.

Aloysio Nunes: dois pontos a favor, outro contra 
Mas, afinal, o que Aloysio Nunes acrescenta para a candidatura de Aécio Neves?  Um fator positivo, avalia Teixeira, é de que ele é um dos senadores mais ativos e críticos da oposição – mais até do que Aécio –  o que conta bastante para aqueles que querem uma alternativa ao atual governo petista.

Um outro fator positivo apontado por Dantas é de que Aloysio é bem conhecido em São Paulo e foi bem votado em 2010 e, com isso, tem um cenário bastante confortável. Se eleito, se torna vice-presidente; já se derrotado, permanece como senador. Aécio e Aloysio juntam os dois maiores colégios eleitorais do país, MG e SP e é um nome muito mais relevante do que o PSDB indicou em 2010 para a chapa de Serra – Índio da Costa, que era um deputado estadual, do DEM, no Rio de Janeiro. “Por outro lado, Aloysio agrega regionalmente, mas nao nacionalmente”, afirma o professor do Insper e da FESP. 

Por outro, Teixeira ressalta que o passado de Aloysio Nunes pode ser um fator negativo para os setores políticos mais conservadores, uma vez que ele possui um passado como guerrilheiro, assim como Dilma. Ex-membro do Partido Comunista Brasileiro, nos tempos da ilegalidade do PCB, Aloysio participou da ALN (Aliança Libertadora Nacional), organização guerrilheira contra a ditadura militar, e acabou se exilando no exterior quando soube que haveria um pedido de prisão preventiva contra ele. 

Desta forma, a escolha de Aloysio leva tanto a vantagens quanto a desvantagens para a campanha de Aécio. Mas, para o candidato tucano, essa parece ser a melhor decisão a ter sido feita, para que ele não tivesse que enfrentar outra disputa além da presidencial em 2014. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.