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O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), virou alvo de insatisfação da oposição no Senado e até de aliados do Centrão na Câmara, enquanto tenta manter uma relação próxima com o governo Lula. Após ter conquistado o apoio do PL no início do ano para comandar o Senado, Alcolumbre tem acumulado desgastes com a bancada bolsonarista. Ele atua contra a hipótese de uma anistia ampla a condenados por atos golpistas, o que beneficiaria o ex-presidente Jair Bolsonaro, e defende um modelo de redução de penas, cuja discussão também vem perdendo força.

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Além disso, articulou para barrar a chamada PEC da Blindagem, que dificultava a abertura de processos contra parlamentares e era fruto de um acordo na Câmara entre o Centrão e a oposição.
Próximo de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), o chefe do Senado também barra qualquer discussão sobre impeachment de magistrados, o que aumenta o atrito. Ele se queixou em plenário há duas semanas que o foco da oposição sobre o STF vem tornando “impossível” a condução dos trabalhos.
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Recondução à mesa
Apesar disso, senadores bolsonaristas apostam que vão crescer em influência após a eleição de 2026 e que Alcolumbre precisará fechar um acordo com o grupo para se manter na presidência da Casa em 2027.
“Tenho certeza que ele (Alcolumbre) tem palavra e não vai se furtar de pautar a matéria (da anistia) quando chegar ao Senado, por mais que não seja o texto com o qual ele concorde”, afirma o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Outro sinal do racha com bolsonaristas ocorre na CPI do INSS, com queixas de que o presidente do Senado age para limitar os trabalhos da comissão. Como exemplo, citam a elaboração de um parecer da Advocacia da Casa que impede a divulgação de dados referentes a reuniões entre parlamentares e o empresário Antonio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS.
Parlamentares também vêm tentando vincular o senador Weverton Rocha (PDT-MA), aliado de Alcolumbre, a Antunes, num esforço visto como tentativa de constranger o próprio presidente do Senado. Durante o depoimento do empresário, Weverton foi citado 20 vezes — os dois já estiveram juntos em encontros, como mostrou O GLOBO. Procurado, Alcolumbre não se manifestou. Weverton negou ter relação com Antunes e disse que não participou de nenhuma irregularidade.
Enquanto isso, o governo aposta na relação com Alcolumbre para avançar iniciativas no Senado, como o projeto de isenção do Imposto de Renda (IR), e para minimizar os efeitos do anunciado desembarque do União da gestão.
Em outra frente de embates, há um clima de disputa entre Alcolumbre, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e deputados líderes do Centrão. A decisão do Senado de enterrar a PEC da Blindagem gerou repercussão negativa na Casa vizinha. O fato de o senador Renan Calheiros (MDB-AL) ter conseguido articular o avanço de um projeto que amplia a isenção do IR, sob o argumento de que a iniciativa similar que tramitava na Câmara estava travada, também contribui para a crise. Na Câmara, o projeto, aprovado na semana passada pelos deputados, estava sob a relatoria do ex-presidente da Casa Arthur Lira (PP-AL), que é rival de Renan em Alagoas.
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Motta admite a aliados que a decisão sobre a PEC da Blindagem irritou os colegas, mas tenta esfriar os ânimos e evitar confronto com o chefe da Câmara. O distanciamento também foi um dos fatores que criaram um freio ao projeto de redução de penas aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.
“Isso é natural. Tem hora que a situação está ruim, depois fica boa de novo. As duas Casas têm que trabalhar juntas”, minimiza o relator da proposta da dosimetria, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP).