Alckmin é o primeiro da fila, mas não tem lugar garantido, diz FHC

Ex-presidente evita entrar em polêmica disputa entre governador e prefeito pelo direito de representar o partido nas próximas eleições

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Em meio a um ambiente de crescente disputa entre o governador Geraldo Alckmin e o prefeito João Doria pela oportunidade de representar o PSDB nas próximas eleições presidenciais, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso evitou dar sinalizações claras em direção ao favoritismo de um ou outro. A empresários que lotaram o auditório de um hotel em São Paulo, na tarde desta segunda-feira, o presidente de honra dos tucanos fez um apelo pela “união” contra o que chamou de “riscos da demagogia”, em um discurso de aproximação dos protagonistas da atual situação do partido. O evento, organizado pelo grupo Lide, contou com a presença dos dois pretendentes ao posto de representante da legenda no próximo pleito.

“É uma coisa boa ter vários nomes. Quantos partidos têm pelo menos dois? Os partidos têm que se acostumar a várias lideranças. Se ele não é dominado por uma pessoa só, tem várias lideranças. Como você resolve isso? No limite, com o voto do partido”, afirmou em coletiva de imprensa após o almoço com empresários. Quando questionado sobre se o nível que o embate entre Doria e Alckmin chegou seria saudável para o partido, FHC desconversou: “Não sei se tem embate. Os dois são muito amigos. Disseram a mesma coisa. Todos me elogiaram, eu gostei”.

“Vejo que essa disputa é maior na boca dos outros do que na deles. Mas, de qualquer maneira, eu acho que é natural que as pessoas aspirem posições. Não há nenhum erro nisso e que isso se faça no momento apropriado e de forma aberta, e que o partido tome decisões”, disse o ex-presidente. “Geraldo está há mais tempo na lide eleitoral. Nesse sentido, é o primeiro da fila. Isso quer dizer que tem um lugar garantido? Não, é o primeiro da fila”. Para ele, pesquisas eleitorais devem ser consideradas, mas elas não necessariamente anulariam a realização de prévias.

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“Se você tiver uma situação em que não esteja claro quem tem mais chance, o partido faz prévia. Todos os partidos querem a mesma coisa: ganhar. Com quem você ganha com mais facilidade? A pesquisa é um indicador. É o único? Não. Você tem que ver qual é a ideia dessa pessoa, o que ela representa, quais são as bases sociais que ela afeta, quais são os apoios efetivos que essa pessoa tem. Então, se houver proximidade entre uns e outros, é normal que se faça, dentro do partido, uma prévia”, complementou o presidente de honra do PSDB, apontando variáveis qualitativas também na escolha do representante para as eleições. Ele acredita que, caso haja prévias, elas deveriam ocorrer antes de março, para que não atrapalhem na organização de campanha do partido. No entanto, FHC não respondeu sobre a realização de prévias em dezembro, como defende Alckmin.

Descrença na democracia

Em seu discurso aos empresários, o ex-presidente chamou atenção para um movimento global de desconfiança nas instituições democráticas. Ele acredita que o caso brasileiro é mais dramático, uma vez que esse processo se dá de forma mais aguda por conta dos acontecimentos recentes, com a corrupção desgastando de forma mais agressiva os pilares do sistema político. Durante a exposição, FHC evitou usar o termo “presidencialismo de cooptação”, que alimentou uma polêmica interna muito forte no PSDB após o último programa em cadeia nacional do partido.

No entanto, em coletiva de imprensa ele voltou a explicar o termo que cunhou: “Ao invés de fazer um acordo simplesmente em função de obter uma maioria para implementar regras do seu programa, você passa a utilizar meios financeiros ou de facilidades nas nomeações que levem a isso para garantir uma maioria. Isso é que eu chamo de cooptação. Coalizão é normal na vida democrática. A cooptação é imoral. E nós fomos deslizando de um presidencialismo de coalizão por um presidencialismo de cooptação. Como você materializa isso? Pega o ‘mensalão’ e chega no ‘petrolão’”. Para ele, a corrupção pode ter sempre existido, mas a criação de um “sistema para sustentar o poder com base em dinheiro que sai do cofre público” é uma inovação revelada pelas investigações da operação Lava Jato.

Para FHC, é necessário avançar em direção a uma reforma política. Ele acredita que o país não tenha se atentado para o elevado número de partidos e o alto nível de fragmentação partidária — principal razão para o aumento das dificuldades de governar e a maior necessidade de alianças para a formação de maiorias. “Deixamos a torneira dos partidos aberta”, disse. “O presidente se elege, não tem maioria; como governa? Então, você tem que mexer nesse sistema. Não é que a pessoa faça aliança porque gosta de fazer aliança, de trocar figurinha. Não, não. Ou faz aliança ou não tem como governar”.

“Não existem 28 posições político-ideológicas. Não existem no mundo. Então, não existem partidos, são agregados, sopas de letras. Tem que acabar com as sopas de letras, doa a quem doer, porque senão você não vai ter nunca como ter um sistema mais funcionar para governar”, diagnosticou. Para ele, o sistema partidário vive uma “situação indiscutivelmente anacrônica”, com distanciamento da realidade e também uma dificuldade em atender ao desejo de participação da sociedade.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.