Agora sem Levy, BNDES pode ter ênfase na privatização

O novo presidente terá que colocar em prática a promessa de campanha de Bolsonaro de abrir o que chama de "caixa-preta" do banco e investigar a responsabilidade pelos financiamentos concedidos, nos governos do PT, a empreiteiras para obras no exterior, em países como Cuba e Venezuela  

Estadão Conteúdo

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A saída de Joaquim Levy da presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), depois de ter sua “cabeça colocada a prêmio” pelo presidente Jair Bolsonaro, abre espaço para uma reformulação no papel do banco pela equipe econômica, que já pensa em concentrar a gestão das privatizações na instituição. O governo ainda quer que a troca no comando do banco reforce o discurso de “despetização” do BNDES.

O novo presidente terá que colocar em prática a promessa de campanha de Bolsonaro de abrir o que chama de “caixa-preta” do banco e investigar a responsabilidade pelos financiamentos concedidos, nos governos do PT, a empreiteiras para obras no exterior, em países como Cuba e Venezuela.

Um dos nomes mais cotados para assumir a vaga é do secretário de Desestatização e Desinvestimento do Ministério da Economia, Salim Mattar. Dono da Localiza, Mattar foi chamado para tocar no governo o plano de privatizações – cuja meta é obter só neste ano US$ 20 bilhões -, mas tem enfrentado resistência de outros ministros. Nas últimas semanas Mattar manteve conversas com Bolsonaro.

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Levy informou na manhã deste domingo, 16, que entregou seu pedido de desligamento do cargo ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Também são cotados para presidir o BNDES o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, que assumiu neste ano a presidência do conselho do banco, Carlos Thadeu de Freiras, ex-diretor da instituição, e Solange Vieira, funcionário de carreira do BNDES e atual presidente da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

Segundo fontes da equipe econômica, com a redução do tamanho do banco na concessão de crédito, o BNDES perdeu a relevância que tinha em governos anteriores para o fomento da economia e, poderia assim, assumir também outras funções, como a de gerir privatizações. Além de ter de devolver R$ 126 bilhões neste ano, o banco também pode perder os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) pela proposta do relator da reforma da Previdência, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP).

Alterações

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O BNDES já tem papel auxiliar em privatizações do governo e foi, por exemplo, responsável por estruturar projetos de desestatização das distribuidoras do sistema Eletrobras. Para concentrar no banco todas as fases do processo de privatização e não apenas a estruturação de projetos, o governo precisaria de alterações legais, que teriam de ser aprovadas no Congresso.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que ficou “perplexo pela forma como o ministro tratou o Joaquim (Levy)”. Para ele, o ex-ministro era um quadro de qualidade que ajudaria a garantir as reformas que o País precisa neste momento.

No sábado, 15, Bolsonaro disse estar “por aqui” com o economista e ameaçou demiti-lo caso ele não suspendesse a nomeação de Marcos Barbosa Pinto – que já tinha trabalhado no banco como assessor em 2005 e 2006, no governo PT – para a diretoria de Mercado de Capitais. Após as declarações, Pinto pediu demissão. Ainda no sábado, Guedes disse ao site G1 que entendia a “angústia” de Bolsonaro.

Bolsonaro e alguns de seus aliados mais próximos nunca engoliram a nomeação de Levy. Ele foi secretário de Fazenda no governo de Sérgio Cabral (MDB-RJ) e ministro da Fazenda no primeiro ano do segundo mandato da ex-presidente Dilma Rousseff. O economista também foi secretário do Tesouro no governo Luiz Inácio Lula da Silva e integrou a equipe econômica do governo Fernando Henrique Cardoso.

Além de não abrir a “caixa-preta” do BNDES e colocar resistência à devolução dos recursos aos cofres do Tesouro neste ano, Levy foi contrário a colocar em prática um plano de demissão voluntária para enxugar o tamanho do BNDES. Na avaliação de fontes da equipe econômica, foi “dominado” pelo “espírito corporativo” dos funcionários do banco.

Ao pedir demissão neste domingo, em mensagem enviada a Guedes, o economista agradeceu a lealdade, dedicação e determinação de sua diretoria e aos inúmeros funcionários do BNDES.

Levy é a primeira baixa na equipe de Guedes. Na semana passada, o presidente demitiu três nomes importantes do alto escalão: os generais Franklimberg Ribeiro de Feitas (da presidência da Funai), Juarez Aparecido de Paulo Cunha (da presidência dos Correios) e Carlos Alberto dos Santos Cruz (ministro Secretaria de Governo).

Procurado pela reportagem, Levy não se manifestou.

Ato

Na próxima quarta-feira, dia 19, véspera do aniversário de 67 anos da criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Associação dos Funcionários do banco vai promover um ato “contra a antipatriótica desconstrução do BNDES”, segundo nota divulgada anteontem pela entidade.

O ato foi marcado no dia 13 de junho, portanto antes da demissão do presidente do banco, Joaquim Levy, mas ganhou maior repercussão após o episódio. Segundo a associação, cinco ex-presidentes do BNDES foram convidados para o protesto: Dyogo de Oliveira, Paulo Rabello de Castro, Luciano Coutinho, Luiz Carlos Mendonça de Barros e André Franco Montoro Filho. 

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