Agenda política de longo prazo é desafiadora e não há espaço para aventureiros, afirma Zeina Latif

Em evento realizado nesta terça-feira, a economista-chefe da XP ainda destacou sua nova preocupação, sobre se a volta da economia vai ser ou não suficiente para ter um debate sério em 2018 ou se o pleito vai se assemelhar como o de 1989

Lara Rizério

(Divulgação)

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SÃO PAULO – Poucas vezes o curto prazo foi tão importante para definir para os próximos passos do futuro do Brasil em meio à crise política. É o que aponta a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, em evento realizado na manhã desta terça-feira (20) pelo Instituto Millenium, em São Paulo. 

Zeina destacou que o Brasil passa por um período conturbado, mas que houve avanços importantes, traçando um paralelo entre o atual governo de Michel Temer e o governo anterior, de Dilma Rousseff. “Dilma acordava todo dia e apertava o botão da bomba atômica. Não apertar já sinaliza uma melhora”, ressalta a economista, destacando que mudanças como a instituição da PEC do teto de gastos e a alteração das diretrizes dos bancos públicos ajudam na melhora da percepção econômica. 

As expectativas, de acordo com ela, é de que o processo de recuperação continuará e não será abortado. Além disso, a queda da inflação, ao contrário do que se atribui ostensivamente, não ocorre por conta da economia fraca – afinal, poderíamos estar em um cenário de estagflação – mas também como reflexo da política econômica. 

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Por outro lado, Zeina faz uma ponderação ao destacar algumas sinalizações de “políticas equivocadas” do governo, com rumores de adoções de medidas populistas para estimular a economia (e a popularidade do governo), conforme foi noticiado por diversos jornais desde que Temer foi absolvido no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Porém, ela aponta que a sinalização do BC sobre corte de juros não deve mudar, tendo como base também a indicação de que o ministério da Fazenda não permitirá grandes deslizes na política econômica. 

Assim, ela avalia que haverá uma inflexão econômica este ano. A dúvida maior, contudo, é em que magnitude a recuperação se dará, ainda mais levando em conta o cenário de crédito e a confiança “balançada” do consumidor e do empresariado. 

Porém, isso não aponta para um cenário claro de curto prazo para a economia. “A minha nova preocupação é se a volta da economia vai ser ou não suficiente para ter um debate sério em 2018 ou se será como o pleito de 1989”, aponta, ao ressaltar que naquele ano as lideranças políticas tradicionais ficaram para trás e duas lideranças políticas emergentes – Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva – foram para o segundo turno das eleições. 

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Além disso, ela traça uma comparação do pleito de 2018 com o de 2002, em que a eleição impactou e muito o mercado até que ele se acalmasse com as sinalizações de que o governo Lula manteria uma política econômica responsável. “Não acredito que vai repetir 2002, mas também não juro de pé junto, uma vez que o grau de incerteza é muito grande e o potencial é de concorrer gente muito esquisita ano que vem”, afirma Zeina.

De acordo com ela, levando em conta um cenário de uma retomada não suficiente da economia, os defensores das reformas podem sofrer para manter o seu discurso e a qualidade do debate sobre elas pode piorar levando em conta o foco somente o foco em combater a corrupção e tirar os “desonestos” do poder.

Porém, Zeina ressalta que a agenda de longo prazo é muito desafiadora e que necessitará também de uma agenda política para fazer com que o Brasil saia de um déficit de mais de 2% do PIB para um superávit de 2%. Os aventureiros não seriam bem-vindos nesse ambiente de tamanho desafio. 

A economista-chefe da XP não acredita que um “candidato maluco” que rasgue a agenda de reformas ganhe as eleições no ano que vem. Porém, o ambiente é de grandes incertezas sobre o pleito do ano que vem e, até que um cenário mais benigno ficar claro, a economia ainda vai sofrer diversos contratempos.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.