Abílio escreve carta à Dilma e diz: “é inadiável restituir a confiança do empresariado”

O empresário destacou ainda que a "campanha não precisava ser uma guerra e o importante agora é tranquilizar o País" e que novo mandato deve trazer responsabilidades ainda maiores

Lara Rizério

SÃO PAULO – Em carta publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, o empresário Abilio Diniz, que já foi cotado para ser ministro do primeiro governo Dilma, parabenizou a presidente pela sua reeleição e afirmou que o novo mandato deve trazer responsabilidades ainda maiores. 

Ele destacou ainda que a “campanha não precisava ser uma guerra e o importante agora é tranquilizar o País”. Segundo Abilio, o Brasil saiu da eleição tenso, emocionalmente abalado e preocupado com o futuro e falsamente rachado entre esquerda e direita, ricos e pobres, e que Dilma não estaria contente com essa radicalizaçãoi. 

 Para ele, “o próximo ciclo de crescimento virá pelo aumento dos investimentos, essencial para promover a produtividade e a competitividade” e a presidente reeleita deve restaurar a confiança do empresariado. Confira a carta na íntegra:

“Dilma, como vencedora, é você quem tem a condição de promover a nova união do país. Essa responsabilidade é sua, mas é também de todos

Dilma, parabéns. Você venceu depois de uma difícil e tensa campanha, na qual vimos um Brasil dividido. O gosto da vitória é maravilhoso para quem lutou tanto, mas traz responsabilidades ainda maiores. Responsabilidades que você já assumiu no pronunciamento do último domingo (26).

A campanha não precisava ser uma guerra, e o importante agora é tranquilizar o país. Foi isso o que você fez em seu discurso ao defender a união, o diálogo e um governo para todos. Como você ressaltou, os grandes entendimentos costumam surgir nos momentos em que as sociedades se encontram divididas. Agora é preciso transformar discurso em ação.

O Brasil saiu da eleição tenso, emocionalmente abalado e preocupado com o futuro. Saiu falsamente rachado entre esquerda e direita, ricos e pobres, com sérias dúvidas sobre o papel da iniciativa privada diante de um Estado cada vez mais forte e intervencionista.

Dilma, sei que você não está contente com a radicalização. Como vencedora, é você quem tem a condição de promover a nova união dos brasileiros. Essa responsabilidade é sua, mas é também de nós, empresários, e de todos os cidadãos.

No seu discurso do domingo, você deixou claro que vai se esforçar mais e ouvir mais. É o momento de acreditarmos na sua vontade de unir o país. As divergências só aumentam a necessidade de entendimento e de diálogo, com canais abertos e uma imprensa livre.

Eu a conheço há muitos anos. Sei o quanto você quer o bem de todos os brasileiros. Assim como eu sei, você precisa deixar que todos saibam. Comece mostrando de fato que governará para todos. Para os pobres e mais necessitados, mas também para os trabalhadores, a classe média, os empresários e a livre iniciativa.

Só com um programa de união reacenderemos o motor que move a economia e gera empregos e renda. As dificuldades são circunstanciais. Temos condições de superá-las.

Todos que produzem para o mercado de consumo sabem como é importante um Brasil que cresce distribuindo renda, dando emprego e chance a todos. Isso atrai investimentos, impulsiona a economia e, sobretudo, ajuda a população.

Não temos tempo a perder. É preciso realizar as reformas necessárias, principalmente a política e a tributária, combater duramente a corrupção e dar um choque de gestão no Estado. É preciso profissionalizar a administração, colocar pessoas certas nos lugares certos e reorganizar os processos.

É inadiável também restituir a confiança do empresariado para ele voltar a investir. O próximo ciclo de crescimento virá pelo aumento dos investimentos, essencial para promover a produtividade e a competitividade.

Nosso imenso mercado consumidor, nossa grande capacidade de exportar commodities e o espírito trabalhador e empreendedor dos brasileiros são pilares para a retomada. Mas será preciso melhorar a infraestrutura, o ambiente de negócios, a previsibilidade das regras e a produtividade.

Para crescer no mundo globalizado, temos que qualificar o trabalhador e elevar sua produção média. Educação de qualidade é a chave do sucesso.

A campanha política acabou, hoje é a vida real. Passado não se esquece, mas manda a sabedoria que se olhe com determinação para o futuro, pois é nele que vamos viver e construir.

A agressividade eleitoral foi rejeitada pelos brasileiros, que querem o país focado na solução dos problemas. É preciso focar no muito que nos une, e não no pouco que nos separa. O Brasil não será cortado ao meio pela disputa política. Há muito em comum para construir um caminho produtivo que melhore a vida de todos.

Escrevo esta carta autorizado pelo amor que tenho pelo Brasil e pelo desejo de poder contribuir para o desenvolvimento deste país. Quero poder sempre contar aos mais jovens o meu orgulho de ser brasileiro. Que Deus ilumine o nosso caminho. Bom governo”

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.