A última esperança de Michel Temer para aprovar a reforma da Previdência antes das eleições

A grande dúvida seria se resta tempo, credibilidade e recursos para tal estratégia

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A aproximação do fechamento da janela da última oportunidade para se votar uma reforma previdenciária antes das eleições tem provocado uma intensa corrida contra o relógio de articuladores políticos do governo para não deixar uma das bandeiras da gestão de Michel Temer morrer na praia. Após a concessão do Ministério das Cidades ao “centrão”, de conversas empenhadas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), com membros da base aliada e a retomada dos diálogos com os mais diversos grupos de parlamentares, o governo aposta suas últimas fichas em busca do apoio de 3/5 do total de membros da casa para concluir a tramitação da proposta na casa legislativa ainda neste ano (a tramitação no Senado ficaria para o início do ano seguinte).

A despeito do empenho governista, os apelos ainda não lograram contaminar o chamado “chão de fábrica”, do baixo clero da Câmara — grupo mais suscetível a questões paroquiais e cuja preocupação com a campanha eleitoral seguinte já atingiu níveis elevadíssimos, jogando contra qualquer apoio a medidas impopulares. As negociações de varejo do presidente Michel Temer não surtem mais o mesmo efeito após o que foi empenhado para a superação de duas denúncias apresentadas pela Procuradoria Geral da República. Sendo assim, se o sarrafo para escândalos políticos subiu com a enxurrada de denúncias apresentadas nos últimos tempos, também cresceram os custos de negociação em agendas legislativas. Principalmente quando a pauta em questão é a reforma da Previdência, já acompanhada pelo slogan “quem votar, não volta” nos corredores de Brasília.

Enquanto a bancada do peemedebista na casa tenta aparar as arestas para consolidar uma margem de apoio à medida maior, outras legendas passam longe dos 3/5 necessários. Partidos do “centrão” sequer conseguem marcar reuniões efetivas sobre o assunto. Do lado do PSDB, o noticiário traz novos atritos com o governo, em meio às sinalizações de defecções e exigências de deputados por uma “reforma da reforma”. Por incrível que pareça, apesar do discurso oficial apontar para a impossibilidade de novas concessões — como disse o próprio ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, “as concessões do governo já chegaram no osso” e “não haverá exceção” –, já estão em curso negociações para alterações no que foi proposto de mudanças nas regras para aposentadorias. Em troca, os tucanos teriam de entregar apoio total da bancada à medida.

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Em contraste com possíveis negociações e com expectativas de que Geraldo Alckmin, uma vez à frente do partido, consiga unificar o tucanato, entra nos cálculos do próprio governador o quanto a reforma pode ajudar outra candidatura governista no pleito de 2018 a despeito de sua própria. A depender da conclusão de Alckmin nesse processo, não se esperará que ele entregue munição a potenciais adversários a menos de um ano das eleições presidenciais (leia-se possível candidatura de Henrique Meirelles ou qualquer outro nome). Da mesma forma, tente a dar as caras o velho dilema da distância ideal a ser mantida do governo: suficientemente grande para não se queimar com a impopularidade recorde do presidente, mas suficientemente próxima para manter construídas pontes para um apoio na corrida às urnas. Alckmin sabe que o apoio do PMDB poderá fazer uma grande diferença no processo.

Somada à dependência de apoio tucano, o presidente Michel Temer precisa estabelecer uma estratégia efetiva de conquista de corações e mentes da grande massa de deputados. O baixo clero continua sem posição ideológica na temática previdenciária, mas tem sido impactada pelo pragmatismo da reeleição no ano que vem. Basta lembrar mais uma vez: quem votar, não volta — esse mantra ecoa nos pesadelos dos parlamentares. Sendo assim, a única alternativa para converter apoio do “chão de fábrica” do parlamento seria resolvendo problemas pontuais de cada congressista no sentido de ajudá-los em seus planos para 2018. Pelo cálculo parlamentar, dependendo da contrapartida oferecida pelo Palácio do Planalto, pode valer a pena o desgaste da votação de uma medida impopular. A dúvida seria se resta tempo para negociações no varejo, credibilidade e caixa suficiente para arcar com esses custos.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.