A prisão de Eduardo Cunha – e uma possível delação – pode abalar a República de Temer?

Para o governo, os riscos de implosão podem ser pequenos no curto prazo, tendo em vista o trâmite complexo de uma colaboração premiada

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A prisão preventiva do ex-presidente da Câmara e deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) tem efeitos imprevisíveis para o longo prazo, mas alcance limitado nos próximos meses e dependerá da capacidade de reação do governo ao fato gerado. Enquanto muito se especula sobre a possibilidade de o peemedebista futuramente aderir a um acordo de delação premiada, há uma vulnerabilidade maior de seus adversários sem prerrogativa de foro em comparação com figurões da política nacional em atividade.

Essa é a avaliação que faz Richard Back, analista político da XP Investimentos. Para ele, a grande pergunta agora é se Cunha fará delação ou não. “É fato que ele sabe muito e que sua prisão pode gerar instabilidade política, observada sua procedência e a qual grupo ele pertencia no PMDB”, afirmou. No entanto, ele pondera: “não vemos impacto de curto prazo no cenário político. Mesmo que ele venha a falar – o que não é algo dado – ainda há um procedimento”.

O trâmite de negociação de uma delação não é curto, e envolve o fechamento de um acordo com a Procuradoria-Geral da República, a elaboração de um roteiro de delação e a apresentação de provas. Por isso, Back diz não visualizar impactos de curto prazo significativos no cenário político. “Os atores mais expostos agora a Cunha são seus adversários que não têm foro privilegiado. No caso dos que têm, a delação ainda teria que subir para Brasília”, explicou. Desta forma, alguns dos efeitos dessa prisão somente poderão ser conhecidos com mais tempo.

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“Obviamente que, em um cenário ainda não estabilizado, qualquer ruído é ruim. Um ruído do tamanho de Cunha é pior ainda. O meio político deve reagir com pânico nos primeiros dias, e depois vem a acomodação”, avaliou o especialista. Para ele, apesar de elemento de desestabilização, a prisão de Cunha pode ser contornada pelo governo, caso a equipe do presidente de Michel Temer reaja com serenidade e consiga tocar sua pauta no Congresso.

O ex-deputado emitirá sinais e trará apreensão ao meio político, mas Back argumenta que diversos fatores têm mostrado um aumento da capacidade gravitacional do governo. Sendo assim, o calendário de votações tende a não ser afetado de maneira significativa.

Visão similar tem Juliano Grieleber, da Barral M. Jorge que, embora veja mais chances de delação, não acredita em grandes impactos sobre os pilares do governo no curto prazo. “Ainda assim, Temer deve manter a pressa para aprovar as propostas no Congresso enquanto o cenário está favorável”, avalia. Além disso, ele chama atenção para o fato de a Operação Lava Jato manter atividades, em meio a rumores de que uma mudança de governo de Dilma Rousseff para Michel Temer poderia influenciar no andamento das investigações, afetando inclusive integrantes do partido no poder.

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“A primeira avaliação é que não é nada que vá abalar a República até o final do ano. Não dá para apostar em seu silêncio, mas também não dá para apostar que ele vai conseguir implodir o Brasil, porque não há agenda hoje para conseguir implodir o governo Temer”, observou Back. Ele acredita que somente uma revelação muito contundente, um vídeo, foto, gravação ou conta no exterior não declarada do atual presidente poderia mudar esse cenário para os próximos meses.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.