“A maior parte das pessoas gostaria de se ver livre de Dilma”, diz Serra

Em entrevista à rádio Gaúcha, senador tucano faz duros ataques ao governo, rebate críticas sobre "golpismo" e defende projeto para pré-sal e Petrobras à revelia do governo e ministro da Educação

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – Estamos vivendo uma crise profunda no Brasil, que vai além da economia, passa pela política, pelos valores e pela moral por conta das recentes revelações. A afirmação é do senador José Serra (PSDB-SP), candidato derrotado à presidência por duas vezes, governador e prefeito de São Paulo e ex-ministro da Saúde e do Planejamento durante as gestões de Fernando Henrique Cardoso. Em entrevista à rádio Gaúcha na manhã desta sexta-feira (10), o parlamentar diz que o atual momento converge para um dos piores de que ele tem memória.

“Naturalmente, a presidente Dilma está no centro disso e tem uma rejeição muito grande por parte das pessoas no Brasil inteiro. A maior parte das pessoas gostaria de, na verdade, se ver livre dela”, afirmou Serra. Em sua avaliação, o governo não está fraco por conta do Congresso. Seria o contrário: o parlamento tem conquistado mais espaço e poder político exatamente por conta da perda de forças do Planalto, em meio à queda da popularidade da presidente Dilma Rousseff e o agravamento da situação econômica do país.

Durante a conversa, o tucano aproveitou para fazer uma correção sobre as interpretações que passaram a circular sobre a posição de seu partido com relação a um possível impeachment da presidente reconduzida ao cargo. Ele destacou que não há iniciativas do PSDB de se tirar Dilma do poder e não foi dito que ela não conseguiria terminar o mandato. No entanto, Serra destaca que é função de seu partido discutir a respeito da situação atual e estar pronto para agir caso o governo não se sustente.

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“Acho que ninguém disse que ela não chegaria [ao final]. Disseram que, se houvesse a possibilidade… Se acontecer de ela não chegar, que o PSDB e as pessoas estivessem preparadas. Na verdade, a presidente Dilma ficar ou não não depende do PSDB, nem da oposição. Depende da situação. A situação de governo difícil e a situação, naturalmente, de apurações de coisas que estão sendo investigadas por diferentes tribunais”, argumentou. Para ele, a situação reflete a institucionalização da corrupção como método de governo, da qual uma depressão econômica seria um dos resultados.

Além da percepção geral do senador sobre o momento político e econômico geral do governo, a conversa também tratou de seu projeto que tenta retirar a obrigatoriedade de a Petrobras (PETR3; PETR4) participar de todas as operações no pré-sal. Isso, segundo ele, destravaria o desenvolvimento na área, tendo em vista a atual incapacidade de a estatal participar de todos os investimentos por conta dos problemas de caixa recentes. Segundo ele, o projeto não pretende tirar a petrolífera brasileira da atividade, mas apenas fazer com que seus diretores possam decidir quais operações são viáveis, sem a obrigação de ter de atuar em todos os campos.

A medida não conta com o apoio do governo. Recentemente, também se manifestou contra o ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, que alegou que as alterações podem trazer prejuízos para o setor no que diz respeito à distribuição dos royalties. Tal argumentação foi duramente criticada por Serra durante a entrevista, que disse que Janine Ribeiro pode não estar informado de que os royalties são cobrados sobre o volume de produção, independentemente da empresa que administraria o campo. Além disso, ele alega que, tendo em vista as limitações da Petrobras para tais investimentos, o novo projeto pode inclusive ajudar o governo nessas arrecadações para a Educação, já que o volume de produção tende a aumentar.

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“Apesar de ser da Educação, ele não entende nada. Ele é um filósofo que, em vez de falar de Platão, está falando de petróleo. Em vez de enfrentar os desafios que a educação tem no Brasil, que foi muito mal gerida – basta lembrar essa coisa de Pronatec, Fies, ficou tudo quebrado”, atacou Serra o que chamou de “mentira descarada”. Para ele, discursos como esse surgem em um contexto em que “o PT não pode falar em ética” tamanha “desmoralização”.

Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.