A grande má notícia pós-S&P: nada parece elevar o senso de urgência no Brasil

Após o anúncio do corte de rating, economistas destacaram que pouco deve mudar no plano de ação do País - e isso deve desencadear novos cortes

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Ontem, o Brasil foi rebaixado novamente pela agência de classificação de risco Standard & Poor’s, de BB+ para BB-, com perspectiva negativa. A não ser pelo timing, a decisão não surpreendeu os economistas e o mercado, que inclusive já esperam um novo rebaixamento pela agência, a primeira a colocar o Brasil em grau especulativo, em setembro do ano passado.

Aliás, esperar um novo corte de rating já é um sinal do que parece estar por vir: nada vai mudar no Brasil com esse corte. Pelo menos esta é a avaliação de muitos economistas sobre o impacto do rating sobre a política econômica do Brasil.

Podemos esperar qualquer impacto desta notícia na política interna? Esta foi a grande questão na qual os economistas se debruçaram logo após o corte de rating. Para a Nomura, o ambiente econômico e político tem sido bastante conturbado nos últimos (vários) meses e o comportamento do governo é um exemplo disso.

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Na sequência de saída e substituição do ministro Joaquim Levy pelo ministro Barbosa em dezembro, o governo parece estar atuando em duas frentes, afirmam os analistas da corretora João Pedro Ribeiro e Mario Robles.

Em primeiro lugar, dada a próxima votação do impeachment e a posição política muito delicada do governo, ela tem sinalizado para a esquerda, com algum foco em maior disponibilidade de crédito pelos bancos públicos e a fala de uma meta fiscal flexível. Por outro lado, o governo estendeu a mão para o mercado, falando sobre a reforma (muito necessária) da Previdência e limites obrigatórios nas despesas.

“Enquanto vemos que os rebaixamentos continuam reforçando a necessidade de reformas no âmbito fiscal – e potencialmente até mesmo ajudando a ação do governo nessa direção – a cena política torna muito difícil prever qualquer aprovação do Congresso atual no curto prazo”, avaliam.

A avaliação é corroborada pelo economista do Barclays, Bruno Rovai, em relatório pós-rebaixamento: “o rebaixamento não deve mudar o plano de ação do governo, nem aumentar o nível de urgência do Congresso”. 

“Já aprendemos durante o do ano passado que os agentes políticos não são sensíveis a ações de rating; como tal, a mensagem da S & P não deve aumentar o desejo de aprovar as medidas fiscais. Também é pouco provável que o governo apresente novas medidas. Já era esperado que o rebaixamento acontecesse, e a falta de medidas concretas apresentadas até agora indica que o governo não tem qualquer plano para ser votado com celeridade”, ressalta o economista. 

Esta visão, inclusive, guia a perspectiva de novos cortes de rating, conforme destaca o Credit Suisse: novos cortes podem acontecer com revisões para baixo do PIB, uma mudança na orientação política mais à esquerda e acomodativa. Além disso, uma deterioração adicional na relação entre o governo e o Congresso. 

“Não acreditamos que a decisão da S&P influenciará o Congresso e o Governo a agirem para reverter este quadro negativo. Por isso, esperamos novas reduções de nosso rating junto à S&P e também que haja uma perda do grau de investimento pela Moody’s em breve”, avalia a LCA Consultores. Para o Barclays, a Moody’s deve rebaixar o Brasil no final do primeiro trimestre, para Ba1, enquanto a Fitch Ratings deve cortar o rating para BB no final do segundo semestre. Além disso, a S&P deve cortar o rating brasileiro novamente até o final deste ano. 

Minimizando o corte
Porém, nem este cenário de sequência de cortes de rating esse ano deve mudar a ação do governo. Conforme destacou a Agência Estado, os interlocutores da presidente Dilma Rousseff tentaram minimizar “a surpresa negativa” com a S&P e exaltaram  o que consideraram “importante vitória do governo” sobre o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB). Ontem, o candidato apoiado pelo Planalto, Leonardo Picciani, venceu a eleição de líder da Câmara contra Hugo Motta, candidato apoiado por Cunha.

A avaliação é que a recondução de Picciani é um importante passo para conseguir reverter as dificuldades da situação econômica e política, ressaltados pela S&P. “É importante mostrar que o governo continua trabalhando pelo ajuste e agora com a manutenção de Picciani vai conseguir se manter focado na busca da retomada do crescimento”, afirmou uma fonte do Palácio. “Com a situação política mais calma, a economia vai melhorar”, completou um dos interlocutores ao jornal.

Já o ministro da Fazenda destacou que a decisão da S&P é temporária: “diante desse grande esforço conjunto, o Ministério da Fazenda está convicto de que a revisão da nota do Brasil é temporária e será revertida tão logo os resultados das medidas em andamento comecem a produzir efeitos na economia, levando ao reequilíbrio fiscal e à recuperação do crescimento”, afirma o texto. 

Porém, os desafios são grandes: mesmo com a reeleição de Picciani com 37 dos 71 votos, a ala insatisfeita do PMDB promete manter resistência. “Vamos continuar sendo dissidentes, defendendo que o PMDB saia do governo e vamos continuar trabalhando pelo impeachment [da presidente Dilma Rousseff]”, afirmou Darcísio Perondi (RS), um dos deputados que defenderam a troca da bancada ontem. O impeachment e a dinâmica política foram ressaltados pela S&P como fatores que explicam o resultado negativo.

Enquanto isso, o próprio partido da presidente ressalta medidas que são vistas com maus olhos pelo mercado e pelas agências internacionais: o PT prepara um plano de emergência para a economia com queda da Selic e aumento do crédito para que o Brasil volte a crescer. Porém, conforme destacou a própria S&P em teleconferência hoje, o apetite dos consumidores em meio às recentes medidas de crédito é bem questionável. 

Pelo que parece, 2016 será um ano desafiador e de uma enxurrada de notícias negativas para a economia brasileira. Mas o sinal de alerta ainda não foi ligado – tanto no Planalto quanto no Congresso. 

(Com Agência Estado) 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.