5 possíveis interpretações para a corrida presidencial após a divulgação de nova pesquisa eleitoral

Cenário deve permanecer muito nebuloso até as convenções nacionais dos partidos, que definirão candidaturas e alianças para a corrida eleitoral

Marcos Mortari

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SÃO PAULO – A pouco menos de cinco meses do primeiro turno, o instituto Paraná Pesquisas divulgou um novo levantamento para a ainda nebulosa disputa presidencial. Em relação à última pesquisa em nível nacional feita pelo instituto em dezembro, em linhas gerais, poucas alterações foram observadas. O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) manteve a dianteira no cenário sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com 20,5% das intenções de voto no primeiro cenário considerado. Logo atrás do parlamentar, aparece a ex-senadora Marina Silva (REDE), com 12%, e o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa (PSB), com 11%. Brancos, nulos e indecisos continuam somando mais de 20%.

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“Não houve grandes alterações no cenário. Creio que a tendência, a não ser que surja um fato novo, é que continuemos com esse ambiente de imprevisibilidade. Os partidos têm margem muito pequena para criar fatos políticos para alterar a situação neste momento”, observou o analista político Carlos Eduardo Borenstein, da consultoria Arko Advice. O ambiente deve permanecer simultaneamente estável e incerto pelo menos até as convenções nacionais dos partidos, que definirão candidaturas e alianças para a corrida eleitoral.

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Mesmo assim, o levantamento do Instituto Paraná traz questões passíveis de análises preliminares. Eis alguns pontos destacados pelo especialista da Arko Advice em conversa com esta reportagem:

1. O teto de Jair Bolsonaro

Mais uma pesquisa mostrou a resiliência do deputado na liderança da corrida eleitoral. Por outro lado, evidenciou-se também suas dificuldades em ir além do patamar dos 20% das intenções de voto. A estagnação do parlamentar, embora na dianteira da disputa, pode indicar que ele chegou ao seu teto, não apresentando condições de avançar sobre uma fatia do eleitorado menos radicalizada à direita.

2. Potencial para a centro-esquerda

As candidaturas deste espectro político mostraram bom desempenho na pesquisa, a despeito da persistência de um clima de fragmentação que também o atinge. Uma das poucas novidades que o levantamento trouxe em termos quantitativos sobre a corrida presidencial em si foi um avanço acima da margem de erro de Joaquim Barbosa, o único nome que ganhou maior exposição positiva na mídia nos últimos dias. Além do bom desempenho no levantamento, o ex-ministro do STF apresenta o menor índice de rejeição entre os principais nomes postos: 45,5%. Se somado às intenções de voto de Marina Silva, o ex-magistrado teria até 34,5% no cenário sem candidatura do PT. Uma chapa envolvendo os dois nomes, apesar de considerada muito competitiva, ainda é vista como pouco provável neste momento da disputa presidencial.

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3. Desejo por renovação

Há uma rejeição superior a 60% para os nomes hoje considerados principais pré-candidatos à presidência pelo PSDB e PT. Segundo a pesquisa, 61,3% dos eleitores não votariam de jeito nenhum no ex-governador paulista Geraldo Alckmin, enquanto 66,1% negam apoio ao ex-prefeito Fernando Haddad, apontado como principal alternativa ao PT caso se confirme o cenário de inviabilidade da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os nomes petista e tucano lideram a rejeição entre os avaliados na pesquisa, o que revela o tamanho do desafio para ambos os lados na tentativa de manutenção de protagonismo. Outro indicativo do sentimento anti-establishment aparece nas simulações para primeiro turno. Somando os votos de Jair Bolsonaro, Marina Silva e Joaquim Barbosa, tem-se 43,5% no cenário sem Lula na disputa. Embora esses nomes sejam muito distintos, eles carregam em comum uma imagem para o eleitor mais distanciada da política formal, a despeito de os dois primeiros terem experiência considerável no parlamento. Os três capitalizam com mais facilidade uma bandeira de renovação política em comparação com seus adversários.

4. Dificuldades na centro-direita

O ex-governador Geraldo Alckmin continua sendo o nome mais forte neste espectro político, mas larga com índice muito baixo para um tucano que ocupa tal posto. Ele aparece em condição de empate técnico com o dissidente Álvaro Dias (PODE), em função do bom desempenho do senador na região Sul, roubando votos importantes do tucano. Embora tenha sido especulada, uma costura entre Alckmin e Dias é considerada muito pouco provável neste momento, em função do interesse do senador em viabilizar um projeto eleitoral próprio e os incentivos à sua candidatura (não necessita renovar o mandato nesta eleição e seu partido busca ampliação de bancada no Legislativo). Alckmin também perde votos que em outras eleições foram tucanos para Bolsonaro. Até mesmo Joaquim Barbosa rouba apoio do ex-governador nos centros urbanos. Sendo assim, há limitações relevantes ao crescimento de Alckmin na disputa presidencial.

Por outro lado, ainda existe espaço para uma construção de candidatura competitiva ao centro, sobretudo quando são consideradas estruturas partidária e de campanha. Tal cenário depende da superação de um ambiente fragmentado neste espectro político, que provavelmente passará por acordos para a disputa em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Se o DEM dá alguns sinais de que poderá abrir mão da candidatura de Rodrigo Maia para compor alguma coalizão, o MDB mostra resistência à candidatura de Alckmin — a recíproca é verdadeira em um momento de tamanha rejeição ao governo de Michel Temer. A julgar pelos números apresentados na pesquisa, dificilmente o presidente seria candidato à reeleição. O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles também enfrenta dificuldades para crescer.

5. Dilemas do PT

A pesquisa revelou a formação de uma ampla maioria de eleitores que não acreditam que o ex-presidente Lula conseguirá candidatar-se ao Palácio do Planalto na disputa de outubro, o que dificulta a continuidade da narrativa petista de negar a existência de qualquer rota alternativa. O PT evita lançar outros nomes para a corrida presidencial neste momento, para ampliar o poder de transferência de votos de Lula. Mesmo preso, o ex-presidente lidera a pesquisa com 27,6% das intenções de voto no cenário em que sua candidatura é considerada. Por outro lado, apenas 23,4% dos entrevistados dizem votar em um nome apoiado pelo líder petista. Em uma disputa fragmentada, o percentual pode ser suficiente para levar um candidato ao segundo turno, mas, quando confrontado com a resposta de 61,2% de eleitores que não votariam em um indicado por Lula, pode revelar-se estratégia com grandes dificuldades de êxito. Eventual associação com Lula causaria sérias dificuldades de o partido vencer as eleições, embora facilite um bom desempenho em primeiro turno.

Dos nomes que o PT tem, as indicações atuais são de que o ex-governador da Bahia Jaques Wagner deve disputar o Senado. O plano B, portanto, seria Haddad, com perfil bem distinto ao de Lula e que já larga com rejeição de 66,1% e taxa de desconhecimento de 13,6% — os maiores índices entre os seis nomes considerados pela pesquisa do instituto Paraná. Como se isso não bastasse, a prisão de Lula dificulta sua participação em campanhas, já que não poderia percorrer o país ao lado de um candidato. Da mesma forma, é difícil imaginar que a Justiça permitirá ampla participação do ex-presidente em campanhas com gravações de onde está preso.

É nesse contexto que se inserem as especulações sobre um possível apoio ao ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT). Tal movimento, porém, não é nada fácil para o partido que comandou a esquerda durante as últimas duas décadas. Com essa postura, o PT assumiria perda de protagonismo dentro de seu espectro político, cedendo espaço para Ciro e o PDT, partido que ocupou essa faixa até a eleição de 1989, quando Lula superou Leonel Brizola.

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Marcos Mortari

Responsável pela cobertura de política do InfoMoney, coordena o levantamento Barômetro do Poder, apresenta o programa Conexão Brasília e o podcast Frequência Política.