4 motivos por que a tempestade de 2002 no Brasil não se repetirá em 2014

Resiliência do Brasil e menor risco político são alguns dos argumentos utilizados pelo Credit Suisse para justificar essa análise

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A dinâmica do mercado desfavorável para as ações brasileiras esse ano está trazendo algumas memórias bastante desagradáveis de 2002, quando mais várias razões para para “déjà vu”.

A economia argentina está novamente com uma saúde precária e o Brasil sofre novamente um risco de rebaixamento da sua nota soberana. Enquanto isso, soma-se as incertezas políticas em um ano eleitoral, o risco crescente de racionamento de eletricidade e o desbalanceamento nas contas externas e fiscais, reforçando o quadro negativo.

Porém, apontam os estrategistas do Credit Suisse, ao contrário de 2002, os riscos de baixa estão bem mais contidos desta vez para os investidores. Em relatório, os analistas Andrew Campbell, Daniel Federle e Andre Hachem, destacam os motivos para que, desta vez, seja diferente. Além disso, eles destacaram quais são as empresas mais expostas em cada cenário de risco apontado. 

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1º Brasil está mais resiliente

 Conforme apontam os analistas, a economia brasileira está mais resistente a choques desde a crise de 2002, quando os temores da eleição do presidente Lula elevaram a cotação do dólar em decorrência das indicações anteriores de que ele levaria ao calote da dívida pública brasileira – o que não se confirmou. 

Esta menor vulnerabilidade, destacam, é evidenciada pelas maiores reservas, a substituição do endividamento público em dólar por real, as taxas de juros mais baixas e os maiores níveis de IED (Investimento Estrangeiro Direto). 

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Impacto em ações: os analistas veem uma menor vulnerabilidade, levando assim a uma depreciação muito forte do real como bastante improvável. Porém, o déficit em conta corrente, a redução dos estímulos do Federal Reserve e a possibilidade de rebaixamento de rating no Brasil são todos fatores prováveis para pressionar a moeda nacional. Neste cenário, eles destacam as ações da Braskem (BRKM5), Minerva (BEEF3), Suzano (SUZB5), Iochpe-Maxion (MYPK3), BRF (BRFS3) e Usiminas (USIM5) como beneficiadas, uma vez que as receitas estão em dólar. E avaliam que não incluíram todas as companhias exportadoras, como Embraer (EMBR3), por já estar precificado. 

2º Risco político é muito menor do que em 2002

 O risco político está muito mais baixo do que em 2002, quando os investidores temiam que a vitória do candidato da oposição – Lula -, levaria a uma guinada para a esquerda, o que não se concretizou. Já em 2014, a continuidade do rumo das políticas parece ser o caminho mais provável e um aumento da popularidade dos principais candidatos da oposição neste ano não desencaderiam um sell-off nos preços de ativos, avaliam os estrategistas. 

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Impacto em ações: os analistas destacaram ainda as ações que podem sofrer mais com o maior risco político, uma vez que suas empresas estão expostas à regulamentação governamental e políticas. Dentre as companhias mais expostas, estão a Petrobras (PETR3PETR4), Banco do Brasil (BBAS3), Telefônica Brasil (VIVT4), TIM Participações (TIMP3), CCR (CCRO3), Ecorodovias (ECOR3) e Arteris (ARTR3). Estão também no radar as elétricas, como Tractebel (TBLE3), Cemig (CMIG4), CPFL (CPFE3), Cesp (CESP6), Taesa (TAEE11), AES Tietê (GETI4) e Transmissão Paulista (TRPL4). 

3º Racionamento ainda não é certo

 Em terceiro lugar, ainda é cedo para concluir se o racionamento de energia elétrica é necessário este ano e, mesmo se ocorrer, é difícil que o grau de racionamento seja tão severo quanto em 2001 e 2002. Foi feito um progresso considerável para diversificar a capacidade de geração a formas mais estáveis de energia, especialmente geração térmica, avaliam.

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Impacto em ações: num cenário de racionamento, uma redução da atividade econômica pode ter impacto em diversos setores. Porém, dois grupos têm impacto especial: o das elétricas diretamente expostas e as empresas que utilizam energia em alta intensidade. Neste último grupo, setores industriais e de commodities são afetados, com destaque para as siderúrgicas CSN (CSNA3), Gerdau (GGBR4) e Usiminas (USIM5), além da Vale (VALE3VALE5). 

4º Argentina não afeta tanto

O último ponto destacado é a menor ligação entre a economia argentina e a internacional, incluindo o Brasil, o que limita o efeito do contágio potencial no Brasil. Mesmo uma forte desaceleração das exportações brasileiras para a Argentina teria um impacto sobre o crescimento brasileiro. 

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O Credit Suisse fez uma comparação entre a economia brasileira em 2002 e agora. Os analistas avaliam que a alta da inflação para os níveis extremos de doze anos atrás é bastante improvável, assim como a grande depreciação do câmbio, uma vez que o Banco Central possui mais instrumentos para lutar contra a queda do real. Por outro lado, em 2002, uma correção nos desequilíbrios externos já estava no caminho, enquanto o desequilíbrio pode ficar maior este ano.

Impacto em ações: os analistas, apesar de não avaliarem um impacto tão significativo da situação argentina, destacam algumas companhias que têm exposição financeira no país e que podem sofrer com o fluxo negativo de notícias. Dentre elas, estão grandes companhias como Ambev (ABEV3) e BRF (BRFS3), assim como Contax (CTAX11), Metal Leve (LEVE3), Positivo Informática (POSI3), Randon (RAPT4) e T4F (SHOW3). 

Comparação Brasil 2002 x Brasil 2014
Indicador  2002  2014*
 Crescimento do PIB Real (%)  2,6 1,50
 PIB Nominal (US$ bilhões)  504 2.095
IPCA (inflação, em %)  12,50  6,20
 Selic (% ao ano)  25  10,75
 Déficit em conta corrente (% do PIB)  -1,2  -3,5
 Reservas do Banco Central (US$ bilhões)  38  350
*Projeção do Credit Suisse

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.