35 acordos, US$ 53 bi e a agenda positiva de Dilma: o dia em que a China veio ao Brasil

Presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, assinaram hoje (19) um plano de cooperação até 2021, envolvendo diversas empresas da Bovespa e até anúncio de megaferrovia

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Hoje, a presidente Dilma Rousseff e o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, assinaram hoje (19) em Brasília um plano de cooperação até 2021. Os dois países firmaram 35 acordos, entre eles um que trata de estudos de viabilidade para construção de uma ferrovia que ligue o Brasil ao Oceânico Pacífico, passando pelo Peru, chamada de Ferrovia Transoceânica.

Os acordos totalizaram US$ 53 bilhões em áreas que abrangem planejamento estratégico, infraestrutura, transporte, agricultura, energia, mineração, ciência e tecnologia, comércio, entre outras. Os acordos envolvem tanto empresas da Bolsa, como Petrobras e Vale, até parcerias de cooperação esportiva. 

Entre outros números sobre o acordo, o primeiro-ministro defendeu que a corrente de comércio chegue aUS$ 100 bilhões após afirmar a expectativa por um reforço na cooperação da capacidade produtiva entre os dois países e de ampliação do comércio bilateral. Dilma ainda destacou que o Brasil terá com a China mecanismo de pagamento em moeda local. Os dois países vão utilizar o mecanismo de pagamento em moedas locais com R$ 60 bilhões por parte do Brasil e 190 bilhões de yuans pelo lado dos chineses. 

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Confira as empresas envolvidas no acordo e o que Dilma e o premiê chinês falaram sobre o assunto:

Acordo entre empresas de capital aberto
A Vale (VALE3VALE5) fechou acordo para vender quatro navios gigantes (VLOCs), conhecidos como Valemax, para a China Merchants Energy Shipping (CMES), em uma expansão do acordo que prevê a cooperação estratégica de longo prazo entre as duas empresas no transporte marítimo de minério de ferro. O primeiro acordo entre as duas companhias foi firmado em 26 de setembro de 2014. Segundo a Vale, os detalhes do contrato ainda estão em discussão e o acordo com a CMES deve ser concluído nos próximos meses.

A Vale também informou que concluiu a venda de quatro navios VLOCs, com capacidade de 400 mil toneladas, para a China Ocean Shipping Company (Cosco), o maior armador e transportador de granéis sólidos da China e um dos maiores operadores de granéis sólidos do mundo. Essa transação está relacionada com o acordo assinado com a Cosco em 12 de setembro de 2014. A transação totalizou US$ 445 milhões e o montante será recebido pela a Vale mediante a entrega dos navios para a Cosco, o que está previsto para acontecer em junho de 2015. Pelo acordo, quatro navios VLOCs são transferidos para a Cosco e afretados para a Vale em contrato de 25 anos.

O Planalto ainda anunciou acordo de US$ 7 bilhões para a Petrobras (PETR3;PETR4), sendo US$ 2 bilhões com a Cexim para financiamento de projetos e US$ 5 bilhões obtidos pelo Banco de Desenvolvimento da China. O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, e o presidente do Cexim, Hu Xiaolian, assinaram acordo-quadro de cooperação para financiamento de projetos da Petrobras no valor de US$ 2 bilhões. Bendine também assinou acordo com o presidente do Conselho do Banco de Desenvolvimento da China (CDB), Hu Huaibang, que prevê financiamento de projetos da Petrobras no valor de US$ 5 bilhões.

Além disso, a Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras (ELET3;ELET6) e a CNNC assinaram memorando para energia nuclear.  A Caixa Econômica Federal e oICBC assinaram memorando para financiamento entre dois países.

Já a Embraer (EMBR3) firmou acordo com a Tianjin Airlines estimado em US$ 1,1 bilhão para a venda de 22 aeronaves. O acordo com a chinesa Tianjin Airlines, subsidiária do Grupo HNA, compreende 20 E195 e dois E190-E2. 

As empresas de telecomunicações também fazem parte do acordo. Vivo (VIVT4) e TIM Participações (TIMP3) também estiveram presentes no evento. A Vivo assinou um acordo com a Huawei para ampliar a cobertura e do sinal na região central do Rio de Janeiro. Já a TIM anunciou parceria com a mesma companhia chinesa para criar um centro de inovação. A Azul Linhas Aéreas, por sua vez, firmou um contrato de financiamento leasing operacional. 

No setor bancário, o Bank of Communications acertou a compra de 80% do BBM por R$ 525 milhões. “A compra de BBM é 1º passo para a expansão do Bocom na América Latina”, diz comunicado.

Na lista, está ainda o acordo para retomada das exportações de carne brasileira para a China, interrompidas desde julho de 2012. Durante a visita do presidente chinês, Xi Jinping, em julho do ano passado, o fim do embargo chinês à carne brasileira foi anunciado, mas faltava a assinatura de um protocolo sanitário.

“É o marco jurídico necessário para a retomada da exportação carne bovina para a China, de forma sustentável, que será implementada com a habilitação feita pela China dos primeiros oito estabelecimentos brasileiros. Reiterei interesse em tornar efetivo o processo de habilitação de novos estabelecimentos produtores de carne bovina, suína e de aves”, disse a presidente.

Segundo Dilma, mais nove frigoríficos brasileiros estão na lista aguardando a habilitação para voltar a exportar para a China. “Vamos liberar de forma bem acelerada. Foi assinado o acordo sanitário. A partir do acordo, cria-se uma nova forma de relacionamento nessa questão entre as autoridades chinesas, as autoridades sanitárias brasileiras e o Ministério da Agricultura”, acrescentou.

Dilma ainda anunciou a megaferrovia transoceânica e que ligará o Peru e o Brasil. Pelo desenho original, a Transoceânica começa no Rio de Janeiro, passa por MG, GO, MT, RO e AC e de lá, segue para o Peru.

“A ferrovia vai cruzar o país de leste a oeste, portanto, o continente, porque ligará o Oceano Atlântico ao Pacífico. É um novo caminho que se abrirá para a Ásia, reduzindo distâncias e custos. Um novo caminho que nos levará diretamente ao Pacífico, até os portos da China”, explicou Dilma, em declaração de imprensa, após a assinatura de acordos com o chinês.

Discurso da presidente
Em discurso, a presidente Dilma destacou que a China é o primeiro parceiro comercial do Brasil e classificou como importantes as diversas medidas assinadas hoje. “A assinatura do protocolo sanitária, criará um marco jurídico necessário para a retomada das exportações de carne bovina”. Além disso, afirmou, o comércio de minérios também será beneficiado pela parceria da Vale com empresas e instituições financeiras chinesas.

A presidente também afirmou que a parceria Brasil-China também avança no campo da educação, da tecnologia e da inovação. “Com o lançamento, em dezembro último, do satélite CBERS 4, a China e o Brasil consolidaram uma iniciativa emblemática para o mundo”, ressaltou, destacando que foi decidido, conjuntamente, o desenvolvimento de um satélite de sensoriamento remoto.

“A China e o Brasil têm desempenhado papel de destaque na construção de uma nova ordem global”, afirmou a presidente e destacou ainda a implementação do Novo Banco de Desenvolvimento. “O primeiro-ministro Li e eu compartilhamos a expectativa de q a próxima Cúpula do BRICS em UFA na Rússia, acelerará a implantação do Novo Banco de Desenvolvimento”, continuou.

A presidente ainda destacou a renovação do compromisso de atuar no G20 em defesa da reforma das instituições financeiras multilaterais. “O FMI e o Banco Mundial ainda não refletem ainda em sua governança o peso dos países emergentes”.

“Temos de aperfeiçoar nossas relações econômicas, buscando sempre maior harmonia, respeito e benefícios mútuos”, finalizou a presidente, citando ainda um provérbio chinês: “se o vento soprar em uma única direção, a árvore crescerá inclinada”.

Logo após a assinatura dos acordos com o primeiro-ministro chinês, Dilma também falou sobre o corte de Orçamento. A presidente disse que o governo fará “o contingenciamento necessário” do Orçamento para garantir o equilíbrio das contas públicas. O anúncio dos cortes no Orçamento será na próxima quinta-feira (21) e a expectativa é que variem entre R$ 70 bilhões e R$ 80 bilhões.

“Nós faremos o contingenciamento necessário. É um contingenciamento que tem de expressar a situação fiscal que o país vive. Então, será um contingenciamento necessário”, adiantou em entrevista após assinatura de acordos com o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, que está em visita oficial ao Brasil.

“Podem ter certeza que nem excessivo, porque não tem porquê; nem flexível demais, nem frágil demais, que não seja aquele necessário para garantir que as contas públicas entrem nos eixos”, disse.

O governo ainda negocia a votação de medidas do ajuste fiscal na Câmara dos Deputados para definir a dimensão dos cortes no Orçamento, entre elas o projeto de lei que trata da desoneração da folha de pagamento das empresas, e a Medida Provisória 668, que aumenta as alíquotas de PIS e Cofins sobre importação

O primeiro-ministro da China disse que a cooperação com o Brasil vai ajudar na recuperação da economia mundial. Li disse ainda que a cooperação financeira entre os dois países ajudará a estabilizar os mercados financeiros brasileiro, chinês e dos países emergentes.

Busca pela agenda positiva
A visita do primeiro-ministro chinês está sendo tratada pelo Planalto como uma rara oportunidade de apresentar uma agenda positiva e em um ano de dificuldades econômicas. Segundo Dilma, os dois países também vão utilizar o mecanismo de pagamento em moedas locais, com R$ 60 bilhões por parte do Brasil e 190 bilhões de yuans pelo lado dos chineses. Isso é uma forma de diminuir a dependência do dólar e, segundo a presidente, “contribui para mitigar oscilações monetárias no comércio internacional”.

Dilma afirmou que o setor agropecuário brasileiro tem condições de contribuir muito mais para a segurança alimentar na China. Segundo Dilma, a assinatura do protocolo sanitário cria um marco jurídico para a retomada das exportações aos chineses, de forma sustentável. “Reiterei ao primeiro-ministro chinês nosso interesse no estabelecimento de um processo efetivo e ágil de habilitação para exportação de carne bovina, suína e aves”, afirmou a presidente.

Segundo o Ministério da Agricultura, o acordo tem potencial para gerar R$ 520 milhões em negócios por ano quando todas as plantas estiverem habilitadas. No total, 26 unidades terão essa autorização.

Dilma também destacou o acordo entre a Caixa Econômica Federal e o Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), que deve alcançar US$ 50 bilhões. “Tem também o fundo feito entre o governo chinês com o governo brasileiro. A parte chinesa oferece colocar US$ 30 bilhões. Nós vamos colocar outra quantia que estamos avaliando ainda o quanto”, explicou a presidente. Ela ainda disse que eles têm interesses em estaleiros, refinarias e na licitação do remanescente da faixa de 4G para celular.

Em discurso de encerramento do Encontro Empresarial Brasil-China, a presidente Dilma Rousseff disse que o Brasil quer que empresários chineses participem de investimentos em refinarias e estaleiros por aqui.

Ao lembrar dos acordos assinados entre a Petrobras e empresas chinesas, Dilma destacou que a parceria “reflete não só a confiança na Petrobras”, mas também amplia a “parceria que temos com as empresas chinesas no Campo de Libra”.

(Com Agência Brasil e Agência Estado) 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.