2016 mal começou e já mostra: ano será marcado por fortes emoções nos mercados

China tem turbulência, Coreia do Norte causa mal-estar e tensões na Arábia Saudita e Irã moveram esta semana

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Habitualmente, a primeira semana do ano é vista como de calmaria para os mercados mundiais, que ainda estão se “aquecendo” após as festas de final de ano. Mas não foi isso que aconteceu em 2016. 

A primeira semana para os mercados mundiais mostrou que 2016 promete fortes emoções para o mercado. Se os economistas ainda estavam fazendo projeções sobre qual era a maior ameaça à economia mundial, a China saiu na frente ao, já no primeiro pregão do ano, fechar em queda de 7% por conta de novos dados decepcionantes para a economia. Naquele dia, o Banco Central chinês realizou logo na primeira sessão uma desvalorização do yuan, a moeda do país, o que acendeu o sinal de alerta sobre o desempenho econômico do gigante asiático. 

Além da China, as atenções se voltaram para as tensões no Oriente Médio. A Arábia Saudita cortou relações diplomáticas com o Irã após a execução de um líder religioso xiita. O ministro dos Negócios Estrangeiros saudita, Adel Al Jubeir, disse que os diplomatas iranianos tinham 48 horas para deixar o país. O líder supremo do Irã afirmou que a Arábia Saudita enfrentaria “rápidas consequências” pela execução do clérigo. 

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Em meio a tantas tensões, o Ibovespa inaugurou 2016 com queda de 2,79%, renovando mínima desde 2009. Com novas medidas adotadas pela China, que injetou US$ 20 bilhões, a terça-feira foi até mais tranquila para os mercados, mas a quarta-feira voltou a ser de tensão.

Novos dados ruins da China impactaram o mercado, com o PMI de Serviços medido pela Markit/Caixin atingindo o menor valor em uma década, a 50,2 pontos, mas quem roubou a cena foi a Coreia do Norte. Naquele dia 6, a Coreia do Norte afirmou ter anunciado a realização, bem-sucedida, de teste com bomba de hidrogênio. “Com o sucesso total da nossa histórica bomba H, juntamo-nos ao grupo dos Estados nucleares avançados”, anunciou o governo, acrescentando que o teste foi feito com um dispositivo em miniatura. O teste foi encomendado pessoalmente pelo líder norte-coreano Kim Jong-un e ocorreu dois dias antes do seu aniversário. Se a primeira reação foi de perplexidade, ela foi substituída por ceticismo. O teste teria sido realizado com uma bomba atômica, e não uma bomba H.

A quinta-feira voltou a ser de forte tensão nos mercados. E, mais uma vez, por causa da China, com Xangai registrando o seu pregão mais curto de seus 25 anos de história: apenas meia hora. Na quinta, a China ajustou novamente para baixo o iuan e as ações de Xangai despencarem mais de 7% disparando o “circuit breaker” do mercado acionário pela segunda vez nesta semana, suspendendo as operações pelo restante do dia.

O cenário de tensão contaminou os mercados globais, que registraram fortes baixas e levou a diversas reações, como a do investidor bilionário George Soros. “A China tem um problema de ajuste” e “diria que isso significa a uma crise”, afirmou, fazendo um alerta, ao dizer que o ambiente atual tem semelhanças com a crise de 2008. “Quando olho para os mercados financeiros vejo um desafio sério, que me recorda a crise que vivemos em 2008”, destacou Soros em um fórum em Sri Lanka. 

Após tanta turbulência, o regulador do mercado chinês suspendeu a regra de circuit breaker das bolsas locais. Os reguladores chineses estabeleceram este mecanismo de circuit breaker para controlar a volatilidade dos mercados. Porém, alguns analistas avaliam que o sistema acabou gerando o efeito reverso ao gerar preocupações sobre a saúde do mercado, ao reduzir a habilidade de ver o quanto as ações poderiam cair. Assim, na sexta-feira, os mercados conseguiram se recuperar, mas sem grandes ânimos. O Ibovespa aponta para fechar em leve queda, com o cenário de cautela ainda predominante depois de uma semana tão agitada, que foi encerrada com dados de emprego nos EUA muito melhores do que o esperado, com criação de 292 mil vagas em dezembro ante estimativa de 200 mil, reforçando a percepção de recuperação na economia. 

Brasil e Venezuela
A América Latina também esteve nos holofotes do mercado. Se, no Brasil, os dados de produção industrial de novembro e de inflação de dezembro não animaram, mostrando um cenário bastante deteriorado para a maior economia sul-americana (e com diversas revisões para baixo da economia), a posse do novo parlamento da Venezuela, de maioria oposicionista, foi o grande destaque. 

No Brasil, produção industrial recuou 2,4% em novembro, bem abaixo do esperado pelo mercado. O resultado foi disseminado, com recuo em três das quatro grandes categorias econômicas. “”O resultado, assim como os últimos indicadores divulgados, reforça um viés de baixa para o crescimento do PIB em 2016 (atualmente em -2,8%)”, destaca o Itaú Unibanco. Enquanto isso, o IPCA fechou o ano a 10,67%. 

Voltando à Venezuela, as tensões dominaram. Para serem empossados nos novos cargos na Assembleia Nacional na terça-feira, os parlamentares tiveram que atravessar uma barricada hostil de policiais e soldados do corpo de guarda nacional, se submeter aos empurrões e gritos dos defensores do governo dentro da câmara do congresso. Na quinta-feira, o governo do país convocou uma reunião com os diplomatas estrangeiros acreditados no país para pedir respeito à legislação nacional e que não se intrometam na vida política venezuelana.

“Fazemos este apelo para que os funcionários diplomáticos acreditados na Venezuela não se envolvam na vida política nacional. Não lhes corresponde, não lhes compete”, disse a ministra das Relações Exteriores, Delcy Rodríguez.

Retornando ao Brasil, novas delações premiadas voltaram a agitar a política, desta vez envolvendo também o ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner e a delação de Nestor Cerveró de desvio de recursos da Petrobras para a campanha do petista em 2006 para o governo da Bahia. Além disso, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki autorizou a quebra dos sigilos fiscal e bancário do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), da esposa dele, Cláudia Cruz e da filha, Danielle Cunha.

Destaque ainda para o café da manhã de Dilma Rousseff com jornalistas na quinta-feira, em que ela negou uma “guinada à esquerda”, defendeu reforma previdenciária, a CPMF e “admitiu” que o maior erro do governo foi não perceber a gravidade da crise em 2014. E isso tudo com o Congresso ainda em recesso. 

Pelos primeiros dias de 2016, já podemos perceber: este ano será bastante turbulento para os mercados e para a política. E o imponderável voltou a aparecer logo nestes primeiros dias do ano: agora, é aguardar os próximos capítulos. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.