Ação da Petrobras sobe forte, mas analistas veem estatal “em teste” com disparada do petróleo

Repassar ou não repassar o aumento dos preços dos combustíveis? Essa é a questão que a Petrobras terá que se deparar

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Como já era esperado, o salto recorde do preço do petróleo após o ataque de drones às instalações de petróleo da Aramco (veja mais clicando aqui), a gigante de Arábia Saudita levou a uma reação positiva das ações da Petrobras (PETR3;PETR4). 

As ações PETR3 chegaram a saltar 5,43% na máxima do dia, enquanto os ativos PETR4 subiram 4,80%. A perspectiva é de que o ocorrido valorize o pré-sal — que se encontra fora de zonas de conflito, às vésperas do leilão da cessão onerosa, marcado para o início de novembro. 

Conforme destaca o Bradesco BBI, para cada aumento de US$ nos preços do barril brent, utilizados como referência para a Petrobras, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) aumentaria em 15%.

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Apesar das perspectivas positivas, ao longo da sessão, os ativos da Petrobras amenizaram os ganhos para cerca de 3,5%.

Isso ocorre não apenas por conta de uma maior aversão ao risco na renda variável em meio aos riscos geopolíticos, mas também por conta do dilema que a companhia pode enfrentar sobre o repasse de preços no mercado interno. 

Conforme destacam Luiz Carvalho e Gabriel Barra, analistas do UBS, um dos dilemas dos investidores sobre a Petrobras se relaciona à sua capacidade de seguir as variações internacionais de preços e a volatilidade da taxa de câmbio.

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“Nós agora vemos uma situação desafiadora para a companhia, uma vez que esperamos que o petróleo salte e o real potencialmente se deprecie”, avaliam os analistas. 

Assim, a questão é: a Petrobras repassa os preços integralmente, melhorando os seus números e seguindo a política de mercado, mas correndo o risco de descontentamento em diversos setores da economia ou segura as variações, levando a mais um período de percepção ruim dos investidores sobre a companhia e comprometendo a sua capacidade de desinvestimentos?

De acordo com Carvalho e Barra, ao longo dos últimos anos, houve diversos exemplos em que a companhia não foi capaz de seguir os preços no exterior, o que levou a perdas significativas no negócio de refino.

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Até o momento, contudo, a atual gestão tem conseguido traçar uma estratégia de sucesso, avaliam os analistas. Assim, “esse evento pode ser um importante teste sobre quão sólida é a política (de preços)”, avaliam.

A Petrobras tem uma política de preços em que leva em conta os preços internacionais do petróleo e a variação do câmbio, embora não trabalhe mais com uma periodicidade determinada para o reajuste dos preços dos combustíveis. 

Desta forma, também para o Credit Suisse, a Petrobras deve se beneficiar do aumento de preço do petróleo, mas não está claro se a companhia repassará imediatamente para os preços domésticos de diesel e gasolina ou absorverá essa volatilidade fazendo aumentos graduais.

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Uma preocupação que está no radar é justamente sobre se um eventual repasse poderia deflagrar novamente a tensão entre o governo e os caminhoneiros. 

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O UBS ressalta que reajuste significativo dos preços da gasolina e do diesel poderia desencadear uma reação de outras áreas da economia (no caso os caminhoneiros).

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O Bradesco BBI também reforça essa preocupação, apontando que a produção de diesel pode ser impactada com os preços do petróleo a US$ 75 o barril. Isso pode levar os preços do diesel para R$ 2,30, uma alta de 6,5% ante a cotação atual – nível este que poderia estimular uma nova greve dos caminhoneiros. 

Vale ressaltar que, em maio de 2018, os caminhoneiros fizeram uma paralisação histórica por conta dos altos preços dos combustíveis.

Já em abril deste ano, os investidores também repercutiram negativamente a notícia de que Jair Bolsonaro ligou para Roberto Castello Branco, CEO da Petrobras, pedindo explicações sobre a alta dos combustíveis, citando temor de uma nova paralisação. Isso fez a empresa suspender a alta naquele momento. 

O UBS aponta ainda que, caso a Petrobras segure os preços domésticos, a capacidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) de vender sua fatia na estatal seria prejudicada. Além disso, também se aumentariam os desafios de negociação de refinarias incluídas no plano de desinvestimentos.

Assim, por mais que a notícia da queda de produção do petróleo esteja levando a uma sessão de ânimo para a Petrobras em meio a um cenário inegavelmente mais positivo para os preços do petróleo, os analistas ainda mostram cautela. Este forte movimento do petróleo será um grande teste para a Petrobras -e, dependendo de como ela agir, o ambiente pode não ser mais tão positivo para a companhia. 

Confira mais sobre o assunto no vídeo abaixo:

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.