Analistas “torcem o nariz” para possível entrada da Petrobras em Israel – e destacam dois motivos

Perda de foco e uma possível sinalização de intervenção governamental preocupam o mercado; contudo, analistas seguem otimistas com petroleira

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O presidente Jair Bolsonaro está em Israel acompanhado por uma grande comitiva, que inclui o ministro de Minas e Energia, Bento Costa Lima e Leite. Após a agenda de compromissos oficiais da delegação brasileira em Israel, o Ministério informou que integrantes do governo brasileiro discutiram a possibilidade da Petrobras (PETR3;PETR4) participar no próximo leilão para exploração de petróleo e gás no país. 

Israel está ofertando 19 blocos offshore a empresas de petróleo e gás, e empresas como a Exxon Mobil estão cogitando participar do leilão. O país entrou no radar da indústria de petróleo após descobertas de gás offshore na costa do país e no Mediterrâneo Oriental.

Contudo, a possibilidade da Petrobras adentrar em novos territórios não foi bem vista por analistas de mercado, por dois motivos em especial: a perda de foco e uma possível intervenção governamental. 

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“A Petrobras investir em ativos de upstream (cadeia produtiva que antecede o refino) fora do pré-sal do Brasil parece um desvio do objetivo da empresa de se concentrar na exploração de petróleo em águas profundas do Brasil. Além disso, essa decisão pode levantar algumas preocupações sobre eventual interferência do governo na empresa”, destaca o Bradesco BBI em nota a clientes. 

A XP Research avalia a notícia como “ligeiramente negativa para a Petrobras”.  A equipe de análise também destaca o conflito entre uma potencial participação da empresa no leilão e o discurso da administração da empresa que focará seus esforços no desenvolvimento do pré-sal, ativo que proporciona maiores retornos.

“Além disso, tendo em vista o atual contexto de redução do endividamento da companhia, o pagamento de outorgas e investimentos em ativos que não são o foco da empresa aumentam ainda mais a incoerência”, afirma.

Vale destacar que, na última divulgação de resultados, no final de fevereiro, o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, destacou o foco na redução de endividamento que, em 2018, alcançou R$ 84,4 bilhões e o endividamento líquido de R$ 69,4 bilhões.  Nos últimos anos, a companhia encolheu sua presença no exterior para concentrar no mercado interno, principalmente no pré-sal, que é o foco do seu plano estratégico. Para ter recursos para investir na região, a empresa tem se desfeito de ativos em outras áreas no Brasil.

Apesar da notícia sobre Israel ser potencialmente negativa para a petroleira, os analistas de mercado seguem otimistas com a Petrobras. Dentre dez casas de análise consultadas pela Bloomberg, oito possuem recomendação equivalente à compra para os ativos. Dentre elas, está a XP e o Bradesco BBI. 

Na última sexta-feira, aliás, a XP elevou o preço-alvo para os papéis PETR3 para R$ 32 (representando um potencial de valorização de 2,73% em relação ao fechamento de sexta) e de PETR4 para R$ 33 (com upside de 17,6% frente ao fechamento de sexta) e destacando um ciclo virtuoso a caminho da companhia com a venda de ativos e expectativas pela renegociação do contrato da cessão onerosa. 

Procurada durante o fim de semana, a Petrobras informou que não irá comentar a informação do MME de que pode participar de leilão em Israel.

Assim, o mercado segue otimista com a Petrobras, mas acompanhará de perto as sinalizações da gestão da companhia e do governo sobre a companhia para calibrar o otimismo com a estatal. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.