Theresa May, a voz que busca modernizar o conservadorismo inglês, mas sem perder a firmeza

Uma das “vítimas” do Brexit, ex-premiê acumula conquistas e segue fazendo história no Parlamento britânico

Nome completo:Theresa Mary May
Data de nascimento:1 de outubro de 1956
Local de nascimento:Eastbourne, Inglaterra
Formação:Bacharelado em Geografia
Ocupação:Membro do Parlamento Britânico

Quem é Theresa May?

Theresa May nasceu no sul da Inglaterra e se formou em Geografia pela Universidade de Oxford. Após a graduação, trabalhou por cerca de 20 anos no setor financeiro antes de ingressar no serviço público.

Ela iniciou sua carreira no Banco da Inglaterra e passou a ocupar cargos na Association for Payment Clearing Services (APACS), como chefe da unidade de Assuntos Europeus e conselheira sênior para Assuntos Internacionais.

May começou a se interessar por política quando trabalhava com correspondências na associação conservadora local. Posteriormente, foi conselheira no distrito londrino de Merton, entre 1986 e 1994.

Em 1997, foi eleita deputada pelo distrito de Maidenhead. Desde então, ocupou uma série de cargos no Parlamento Britânico.

Entre 1999 e 2010, teve diversos postos no chamado “Gabinete Paralelo”, que funciona como oposição oficial ao governo, passando pelos ministérios da Educação e Trabalho, Transportes, Família e Cultura, Mídia e Esportes.

Em 2002, tornou-se a primeira mulher a presidir o Partido Conservador. Foi ainda subsecretária parlamentar de Estado da Mulher e Igualdade, de 2010 a 2012.

Em maio de 2010, May foi nomeada secretária de Estado para Assuntos Internos. Ela desempenhou a função até julho de 2016, tornando-se a parlamentar conservadora com mais tempo de serviço no cargo. Nesse período, houve redução da criminalidade, reforma da polícia e introdução da Lei contra a Escravidão Moderna.

Em julho de 2016, foi nomeada primeira-ministra do Reino Unido, a primeira mulher a ser escolhida para a função desde Margaret Thatcher. Ela foi a sucessora de David Cameron, que havia renunciado, e ficou no cargo até julho de 2019.

Muitas conquistas e uma grande frustração chamada Brexit

A biografia disponível em sua página na internet destaca que, como premiê britânica, May supervisionou “o maior aumento de recursos destinados ao Serviço de Saúde Nacional do Reino Unido e a maior expansão dos serviços de saúde mental naquele país em uma geração.”

Ela também lançou, em 2018, o Plano Ambiental de 25 Anos, apresentou uma proposta de lei para diminuir a parcela do Reino Unido nas emissões que geram o aquecimento global e definiu uma estratégia para assegurar a criação de empregos em todo o país. Foi responsável ainda pela primeira Auditoria da Disparidade Racial.

“No período em que esteve em Downing Street [rua que abriga residências oficiais e o escritório do primeiro-ministro], a dívida nacional do Reino Unido diminuiu, havia mais empregos do que nunca e os impostos foram reduzidos para 32 milhões de pessoas”, diz a página oficial de May.

Seu grande desafio no cargo, no entanto, foi conduzir a saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o chamado Brexit, definido no plebiscito realizado em 23 de junho de 2016 – quando a maioria (52%) dos eleitores britânicos decidiu que o país deveria deixar o bloco econômico.

Mesmo tendo manifestado seu apoio pela permanência na UE antes da votação, May assumiu a chefia de governo enfatizando que a vontade popular seria respeitada. “Brexit significa Brexit”, disse, em frase que ficou famosa e resume uma de suas características pessoais mais marcantes: o pragmatismo.

Ela, no entanto, não conseguiu que o Parlamento Britânico aprovasse nenhum dos três acordos que costurou com a UE, em votações que ocorreram no primeiro trimestre de 2019.

Logo após a primeira rejeição, em janeiro daquele ano, May foi submetida a uma moção de desconfiança pelo Parlamento, para definir se continuaria ou não como primeira-ministra. A iniciativa partiu do líder do Partido Trabalhista na época, Jeremy Corbyn, sob o argumento de que, após dois anos, May não teria conseguido elaborar uma proposta satisfatória sobre o Brexit.

Em uma votação apertada, com vitória por apenas 19 votos, ela seguiu no cargo, mas não conseguiu cumprir a missão de promover a saída do país do bloco europeu no prazo inicial, 29 de março de 2019.

Fortemente pressionada, May anunciou, em 24 de maio de 2019, que deixaria o cargo de premiê. Em discurso emocionado, assumiu que havia falhado na tarefa de tirar o Reino Unido da UE. Apelidada de “Dama de Gelo”, em referência a Thatcher (que era conhecida como a “Dama de Ferro”), May encerrou seu pronunciamento com a voz embargada, dizendo que a oportunidade de servir ao país que ama representava a maior honra de sua vida.

Com a saída de May, o ex-secretário de Relações Exteriores Boris Johnson assumiu como primeiro-ministro e prometeu concretizar o Brexit dentro do novo prazo (31 de outubro de 2019), com ou sem acordo. O Parlamento britânico, no entanto, aprovou uma lei que, na prática, impedia a saída unilateral do bloco, definindo uma nova data: 31 de janeiro de 2020. Desta vez, a promessa foi cumprida.

No início de julho de 2022, após uma série de escândalos – desde festas proibidas na residência oficial durante a pandemia até a promoção de um aliado acusado de abuso sexual –, Johnson também renunciou. Em sua fala de despedida da Câmara dos Comuns, ele foi aclamado de pé por membros do Partido Conservador – com exceção de May, que se recusou a aplaudi-lo.

Apesar de o Brexit ocupar boa parte do histórico de May como primeira-ministra, ela enfrentou outros desafios, como um dos maiores incêndios da história de Londres, que destruiu um edifício residencial de 24 andares, em junho de 2017.

Na ocasião, May foi duramente criticada por não ter se encontrado com as vítimas durante sua visita ao prédio destruído pelas chamas, na manhã seguinte ao ocorrido. Dias depois, pediu oficialmente desculpas pelo que chamou de “fracasso do Estado”, em nível local e nacional. A tragédia deixou 79 mortos.

Outro fato marcante foi o envenenamento e morte de um ex-espião russo que tinha refúgio no Reino Unido, em março de 2018, o que a fez expulsar 23 diplomatas russos, por considerar que Moscou desprezou a gravidade do ocorrido.

Família e carreira de Theresa May

Theresa Mary May nasceu em 1º de outubro de 1956, em Eastbourne, sul da Inglaterra, em uma família de classe média baixa.

É filha única do casal Hubert Brasier e Zaidee Brasier, um pastor anglicano e uma dona de casa. Suas duas avós trabalharam como domésticas.

May estudou em colégios públicos e privados e cresceu em Oxfordshire, condado que abriga a Universidade de Oxford, onde estudou Geografia no St. Hugh’s College.

Foi na faculdade que conheceu seu marido, Philip May, com quem se casou em 1980. No ano seguinte, quando tinha 25 anos, seu pai morreu em um acidente de carro. Sua mãe, que tinha esclerose múltipla, faleceu pouco tempo depois.

Philip, atualmente executivo do setor bancário, é constantemente lembrado com carinho pelo apoio em momentos marcantes da trajetória da ex-premiê. No discurso formal de entrega do cargo de primeira-ministra, por exemplo, seu nome encerrou uma extensa lista de agradecimentos.

“Por fim, e acima de tudo, quero agradecer ao meu marido Philip – que tem sido o meu maior apoiador e o meu companheiro mais próximo”, disse May, que em diferentes oportunidades se referiu a ele como sendo sua “rocha”.

Em 2013, foi diagnosticada com diabetes tipo 1, o que exige injeções diárias de insulina. May diz que a doença não a abala. No entanto, afirma que uma de suas maiores tristezas é o fato de não ter podido ter filhos.

Ela é patrona e cofundadora do projeto Women2Win, que busca aumentar o número de mulheres no Parlamento e na política do Reino Unido. A entidade trabalha na procura, formação e orientação de candidatas femininas do Partido Conservador.

“Este é um país de ambição e oportunidade e espero que todas as jovens que viram uma mulher primeira-ministra saibam agora, com certeza, que não há limites para o que podem alcançar”, afirmou May no seu discurso final como premiê, em 24 de julho de 2019.

Vista como uma liderança que busca modernizar o Partido Conservador, May acredita na igualdade de sexos, defendeu a inclusão do abuso econômico e outros tipos de exploração no conceito de violência doméstica e se manifestou a favor do casamento gay – apesar de ter votado contra a proposta de adoção de crianças por casais homoafetivos em 2002. Anos depois, em 2018, pediu desculpas pela postura e disse que gostaria de ser vista como uma aliada da comunidade LGBT.

Também em 2018, May entrou no palco do congresso do Partido Conservador ao som de “Dancing Queen”, sucesso do ABBA, dançando enquanto se dirigia ao púlpito, o que lhe rendeu aplausos de pé. Naquele evento, May anunciava o fim do processo de austeridade econômica e pedia união para o Brexit.

May segue no Parlamento Britânico. Em meados de junho, questionou a casa pedindo “prioridade diplomática” e empenho em garantir que o Brasil usaria todos os recursos necessários nas investigações sobre o desparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira – cujas suspeitas de assassinato se confirmariam mais tarde, após investigações no Vale do Javari, Amazonas. Sua fala atendeu a pedido especial de Dominique Davis, sua eleitora e sobrinha de Dom.

Fora da vida pública, é conhecida pelo gosto por sapatos, colares e braceletes. Ela também aprecia cozinhar e divide com o marido a paixão pelo críquete.

O casal mora no vilarejo de Sonning, no condado de Berkshire, sudeste da Inglaterra.

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