Roberto Campos Neto: de trader a presidente do Banco Central

Conheça a trajetória de Roberto Campos Neto, o economista que deixou uma carreira de 18 anos no setor privado para assumir a presidência do BC

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, participa de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado
José Cruz/Agência Brasil
Nome completo:Roberto de Oliveira Campos Neto
Ocupação:economista e presidente do Banco Central
Local de nascimento:Rio de Janeiro (RJ)
Data de nascimento:28 de junho de 1969

Quem é Roberto Campos Neto

“Acreditamos que um Banco Central autônomo estaria melhor preparado para consolidar os ganhos recentes e abrir espaço para os novos avanços de que o país tanto precisa.”

A defesa de uma autoridade monetária com autonomia formal foi por Roberto Campos Neto, presidente do BC, durante sua cerimônia de posse, em março de 2019.

Campos Neto não é o primeiro economista da família. Ao entrar na administração pública, resolveu encampar uma das ideias de seu avô, Roberto Campos, que ocupou diversos cargos públicos, promoveu uma série de reformas econômicas e, ao idealizar a criação de um Banco Central no Brasil, propôs também sua autonomia.

Mas a ida de Campos Neto para a administração pública só ocorreu após uma longa experiência no mercado financeiro.

Campos Neto fez graduação e mestrado nos Estados Unidos e até ensaiou uma carreira acadêmica, mas o apelo de ter uma carreira no mercado financeiro foi maior.

Essa caminhada teve início em 1996, quando entrou no banco Bozano Simonsen na função de trader, respondendo pelas operações de juros e moedas.

Nos anos seguintes, foi também operador de dívida externa, Bolsa e renda fixa internacional no Bozano, até que a instituição foi comprada pelo Santander.

Na filial brasileira do banco espanhol, Campos Neto foi chefe de trading, membro do conselho executivo do banco de investimentos no Brasil e no mundo e responsável pela tesouraria global para as Américas, cargo que ocupava em 2018 quando recebeu o convite para assumir o BC.

Roberto Campos Neto, Paulo Guedes e Ilan Goldfajn
O ex-presidente do Banco Central (BC) Ilan Goldfajn transmite o cargo para o sucessor, Roberto Campos Neto. O ministro Paulo Guedes acompanhou a cerimônia. (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Ao assumir o BC, além de defender a autonomia da autarquia, Campos Neto deu continuidade à agenda de incentivo à concorrência iniciada pelo seu antecessor, Ilan Goldfajn.

Durante sua gestão, a taxa básica de juros do país, a Selic, chegou ao menor patamar da história.

Da academia para o mercado financeiro

Campos Neto nasceu e foi criado no Rio de Janeiro, mas deixou a cidade rumo aos Estados Unidos para cursar economia e finanças na Universidade da Califórnia, em Los Angeles.

A graduação foi concluída em 1993 e, dois anos depois, foi a vez de obter o título de mestre na instituição.

Na mesma universidade, o brasileiro também atuou como professor assistente. Mas o mundo acadêmico ficou apenas no ensaio.

O economista decidiu voltar para o Brasil, mais especificamente para o Rio de Janeiro. Em 1996, assumiu a função de trader. Atuou também nas áreas de dívida externa e renda variável, até assumir a renda fixa internacional, em 1999.

O final dos anos 1990 era o período de avanço do espanhol Santander no Brasil. Esse crescimento era feito principalmente por aquisições, e o Bozano foi um dos alvos, numa compra concluída em janeiro de 2000. Campos Neto manteve o cargo e continuou no Santander Brasil.

Ficou na instituição até 2004, quando optou por outro caminho. Saiu do banco espanhol para assumir a gestão de portfólio na Claritas. A experiência durou até 2006.

O economista voltou para o Santander, onde permaneceu por mais 12 anos, ocupando diversas posições de destaque, como executivo e conselheiro.
Nesse meio tempo, ainda teve tempo para concluir um outro mestrado, dessa vez voltado para a área de inovação em um curso concluído em 2018 na Singularity University, na Califórnia (EUA.

Além disso, seguiu sendo um viciado em esportes. Se na juventude praticou jiu-jítsu, atualmente tem o hábito de correr e jogar tênis. É casado com a advogada Adriana Buccolo de Oliveira Campos, com quem tem dois filhos.

Mais Brasil e menos Brasília

Neto de um dos principais liberais do país, Campos Neto tem esse pensamento fortemente atrelado à sua atuação no Banco Central.

Já em sua posse, defendeu que o governo precisa abrir espaço para a iniciativa privada atuar. Com uma menor necessidade de financiar a dívida pública, o mercado de capitais pode se desenvolver, afirmou.

“Estou convicto de que, com os esforços de todos nós, o BC contribuirá para o desenho de um país melhor, fundado no livre mercado, onde se destaque cada vez mais o Brasil e menos Brasília”, disse em sua posse.

Campos Neto viu a autonomia do Banco Central ser aprovada pelo Senado Federal, no início de novembro. Agora o projeto precisa ser referendado pela Câmara dos Deputados.

À frente do BC, uma grande realização de Campos Neto é a redução expressiva da Selic. A taxa passou de 6,5% para 2% ao ano.

Essa queda foi acompanhada por uma inflação sob controle e colocou o Brasil no grupo de países com juro real negativo – a inflação medida pelo IPCA deve ficar em 3,25% em 2020, segundo projeções do boletim Focus do Banco Central.

Campos Neto também é um entusiasta da tecnologia como fator de inclusão e aumento da concorrência no sistema bancário. Não por acaso, uma de suas marcas no BC é o início do sistema de pagamentos instantâneos, o PIX.

Em 2020, ele ganhou um desafio extra: lidar com as dificuldades impostas pela pandemia do novo coronavírus, que teve grande impacto sobre a economia brasileira e a situação fiscal do país.

Para saber mais