Louise Barsi, a investidora que defende um legado de bilhões

Filha de Luiz Barsi, maior acionista pessoa física do país, Louise montou uma escola para ensinar como viver de dividendos

Nome completo:Louise Barsi
Data de nascimento:7 de setembro de 1994
Local de nascimento:São Paulo, capital
Formação:Bacharelado em Ciências Econômicas e em Contabilidade, além de pós-graduação em Mercado de Capitais
Ocupação:Sócia-fundadora da Ações Garantem o Futuro e conselheira de companhias abertas

Quem é Louise Barsi?

A paulistana Louise Barsi é investidora profissional, graduada em Ciências Econômicas pelo Mackenzie e em Contabilidade pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) – na qual também fez pós-graduação em Mercado de Capitais.

Possui ainda pós-MBA na Saint Paul Escola de Negócios no Advanced Boardroom Program for Women.
Iniciou a carreira na corretora de valores Elite, na qual ficou por quase cinco anos e se tornou analista de investimentos (CNPI). Diante das limitações da profissão – principalmente envolvendo a compra e venda das ações que analisava –, escolheu deixar o emprego e dedicar-se à gestão do próprio dinheiro.
A decisão abriu caminho para o surgimento da Ações Garantem o Futuro (AGF), fundada em 2019. A empresa começou oferecendo apenas cursos e treinamentos, virou uma fintech e hoje se apresenta como a maior plataforma em geração de renda passiva do Brasil.

Como diferencial, é a única instituição autorizada a ensinar a estratégia desenvolvida pelo pai de Louise, Luiz Barsi Filho – o maior investidor pessoa física da Bolsa brasileira, também conhecido como o “rei dos dividendos”.
A alcunha não é à toa. Com mais de 50 anos de experiência no mercado, dedicou a vida ao trabalho de selecionar ações de boas empresas pagadoras de proventos, com foco no longuíssimo prazo, para viver de renda. Com a máxima de sempre comprar, nunca vender, acumulou papéis e sua fortuna é avaliada hoje em cerca de R$ 4 bilhões.

Em linhas gerais, Louise resume o método familiar da seguinte maneira: acumular muitas ações de poucas e boas companhias, sempre com base na consistência da distribuição de dividendos.
“O pilar de tudo isso é a renda. É o que vai pagar seu boleto no futuro”, diz ela, em entrevista concedida em outubro de 2022 ao podcast Jovens na Bolsa.

Para montar a AGF, Louise revisitou um estudo feito por seu pai na década de 1970, que trazia uma simulação de renda a partir dos dividendos provenientes das ações da antiga Cesp (hoje denominada Auren, após fusão com a Votorantim Eergia e a CPP Investments). O conteúdo foi adaptado, virou um curso e deu origem a uma escola de educação financeira, que passou a reunir também ferramentas de análise de papéis.

Atualmente, a AGF tem um time de mais de 30 pessoas, incluindo colaboradores internos e terceirizados, e contabiliza mais de 20 mil alunos formados. Nessa empreitada, Louise conta com dois sócios, o investidor Felipe Ruiz e o empresário Fabio Baroni.

Ela também atua em algumas companhias abertas. Atualmente, integra o conselho de administração da Eternit, os conselhos fiscais da AES Brasil, Klabin e Santander e o comitê de auditoria do IRB-Brasil Resseguros. É ainda suplente no conselho de administração da Unipar Carbocloro.

Infância no interior e uma grande descoberta

Louise Barsi nasceu em 7 de setembro de 1994, em São Paulo, mas passou a infância e adolescência na cidade de Mairiporã, que fica a cerca de 40 quilômetros da capital.

Figura bastante requisitada em podcasts de investimento, ela já repetiu sua história em diversos programas, sobretudo nos últimos dois anos. Conta que morava em uma casa bastante confortável, em um sítio, e que ter crescido no interior foi uma ótima experiência.

Nos primeiros anos, estudou no Instituto Mairiporã, um ex-internato que virou escola e ocupava uma propriedade de 384 mil metros quadrados. Segundo ela, o ambiente era muito particular, mesclando as atividades escolares com a vida no campo.

“À tarde, os alunos alimentavam os animais, por exemplo”, relembra Louise, em entrevista ao canal BM&C News, lamentando o fechamento da instituição, o que ocorreu em 2019. No ensino médico, Louise estudou no Colégio Objetivo Mairiporã.

Ela conta que Barsi e a mãe trabalhavam em uma corretora de valores, ambiente no qual se conheceram. Com isso, assuntos ligados ao mercado financeiro faziam parte dos almoços de domingo. Ela é a única filha do casal e tem quatro irmãos mais velhos, todos por parte de pai.

“Sempre tivemos uma vida muito boa, com viagens internacionais etc, mas que não era perdulária”, afirma Louise, ao podcast B3 Convida. Presentes? Só nos aniversários, Dia das Crianças e Natal.
Ela considera que começou a investir em 2008, aos 14 anos, quando o pai lhe deu ações da Ultrapar, que lhe rendiam cerca de R$ 300 por mês em dividendos. Essa foi a solução encontrada para os pedidos insistentes da filha por uma mesada.

O agrado, no entanto, veio com um desafio: não gastar tudo e, se possível, reinvestir os proventos acumulando mais ações, em busca de um rendimento maior. Foi o que ela jura que fez.
Sempre que possível, viajavam de carro. Era uma maneira de curtir momentos em família, mas também de Luiz Barsi conciliar visitas às fábricas de empresas nas quais investia, para conhecer de perto o negócio.

No primeiro ano de faculdade, Lousie fez estágio na Ordem dos Economistas do Brasil, que fica no centro de São Paulo. Seu pai trabalhava próximo dali e, quando ia visitá-lo, acaba recebendo pequenas tarefas, entre elas decorar os códigos de negociação das ações, conhecidos como “tickers”.
Apesar de viver nesse ambiente de investimentos, ela jura que, até os 17 anos, não fazia ideia de que o pai era bilionário.

Um belo dia, passando em frente a uma banca de jornal, viu seu pai na capa de uma revista Exame com a seguinte manchete: “As maiores fortunas da Bolsa”. Era fim de abril de 2012 e lá estava a foto de Luiz Barsi, sentado em um sofá vermelho, sorrindo ao lado dos também megainvestidores Lírio Parisotto e Guilherme Affonso Ferreira.

“Foi um choque, mas, no dia seguinte, não mudou nada”, diz ela, na conversa com a B3. Continuou indo de ônibus estudar no Mackenzie.

Em determinado momento, porém, confessa que ficou com uma certa confusão na cabeça. “O que as pessoas vão achar de mim? Que estou seguindo esse caminho só porque meu pai me abriu as portas?”, afirma Louise, ao BM&C News.

Com isso, diz ter ficado obcecada por evoluir de maneira que as pessoas pudessem olhar seu currículo e reconhecer os méritos. Nesse processo de autoconhecimento, chegou a ocultar por um período o sobrenome nas redes sociais, por medo e insegurança.

Receio esse que perdeu há bastante tempo. “Sou herdeira mesmo. É isso, lutem. Sou filha do Barsi, sim, sou filha de bilionário e é isso”, afirma Louise ao Jovens na Bolsa. “Sei do meu valor e dos meus resultados. Se eu quisesse hoje parar de trabalhar – Deus me livre isso acontecer –, já poderia viver dos meus dividendos.”

Hoje, ela se define como uma “investidora que está na internet compartilhando conhecimento”. Nessa linha, acredita que participar de vários podcasts é uma forma doar seu tempo e, com isso, ajudar as pessoas. Atualmente, seu Instagram pessoal reúne 706 mil seguidores.

Em defesa de um legado

Louise Barsi comenta que passou a ficar confortável com o sobrenome principalmente quando concluiu que o legado da sua família precisava ser maior do que o CPF. Para isso, era necessário se expor.
Atualmente, diz seguir à risca o “Jeito Barsi de Investir”, por convicção. E com a visibilidade conquistada graças à internet, conta que algumas pessoas passaram a conhecer seu pai através dela.

Sempre que pode, recomenda a leitura da autobiografia de Luiz Barsi, lançada no fim de 2022, cujo título não poderia ser outro: “O Rei dos Dividendos”.

Principalmente depois do livro, Louise não poupa elogios ao pai nas entrevistas, a quem se refere como “gênio” e “visionário”.

Ela acredita que a obra possa virar série, contando a história de um órfão pobre, que vivia com a mãe em um cortiço, trabalhou como engraxate e hoje é uma lenda viva do mercado acionário. “Está nos planos, sim”, afirma ela, em entrevista recente ao podcast Mover Voices, do Traders Club (TC).

Diversas vezes chamado de “Warren Buffett brasileiro”, em comparação ao lendário investidor americano, Luiz Barsi figura na lista do ano passado com as 500 pessoas mais influentes da América Latina. A relação foi elaborada pela equipe de jornalistas da Bloomberg Línea.

Perguntada sobre os melhores setores para garimpar ações de dividendos, Louise recorre, claro, a um dos mandamentos do pai e cita o “BESST” – sigla que reúne bancos, energia, seguros, saneamento e telecomunicações.

“Obviamente, não é fechar os olhos e comprar qualquer empresa que se enquadre nesses setores. É um filtro inicial”, pondera a investidora, ao TC. “E não é que eu tenha somente ações desses setores.”
E quanto tempo leva para chegar ao primeiro milhão? Para Louise, mesmo com todo conhecimento e dedicação, demorou quase dez anos.

Vale lembrar também que, durante a pandemia, quando os mercados desabaram mundo afora, o patrimônio da família recuou de R$ 3 bilhões para a casa de R$ 900 milhões.

Ela defende que qualquer um pode investir na Bolsa, recomenda “não deixar para a segunda-feira”, mas reitera que é preciso buscar conhecimento e refletir sobre os objetivos, horizonte da aplicação, tolerância a perdas, disciplina etc etc.

Em resumo, para aumentar as chances de sucesso, a lição de casa precisa estar completamente em dia. Exemplo: “Se você não tem ainda uma reserva de emergência constituída, não tem que estar na Bolsa”, alerta ela, no papo com a B3.

Trajetória de Louise Barsi

Louise afirma que não nasceu disciplinada, mas aprendeu a ser, por conta da vivência financeira. Virginiana, se considera uma pessoa perfeccionista, cujo sucesso não tem nada de extraordinário. Para ela, é fruto da repetição constante.

A determinação profissional, no entanto, não encontrava eco na saúde até 2020. Com apenas 25 anos, já colecionava um episódio de burnout, tinha pressão alta, era pré-diabética e vivia uma condição de “quase obesidade”, como ela mesmo descreve. Na memória, estão episódios de hamburguer, batata frita e pipoca consumidos no meio das lives.

Segundo ela, a chave virou quando ouviu do médico: “Seu pai teve três infartos e você está indo pelo mesmo caminho”. A partir daí, adotou uma rotina de musculação, alimentação correta, atenção ao sono etc. Entre os resultados, conta ter emagrecido 28 quilos.

Quanto à vida pessoal, já declarou que prefere namorar pessoas fora do mercado financeiro e que boa parte das amizades atuais são da época em que não a reconheciam como filha de bilionário. Garante, porém, que já passou da fase de se preocupar com o que vão pensar a respeito.

Afirma não ter um imóvel próprio, pois prefere alugar. “Na minha situação acho que é a melhor coisa. Não tenho filhos e gosto da flexibilidade de poder morar onde eu quiser”, explica. “Gosto também de estar com meus pais, normalmente de quinta-feira em diante.”

luiz e louise barsi

Costumava ir de metrô ao trabalho, mas precisou mudar o hábito durante a pandemia e também por questões de segurança. Atualmente, anda em um carro modelo 2018. Barsi pai, com mais de 80 anos, também teve que abandonar o transporte público – não sem reclamar – e hoje conta com motorista particular.

Louise diz que sua lógica atual de gastos é manter uma vida de custos fixos mais baixos para poder ostentar em viagens.

“Normalmente pego os feriados, emendo, e ninguém me vê nesses cinco dias” afirma ela, na conversa com o TC. É o que chama “pequenas férias” ao longo do ano, já que não gosta de se ausentar por períodos longos.

Nessas escapadas, tem um destino preferido na ponta da língua: os Lençóis Maranhenses, lugar que visitou pela primeira vez em 2021, ficou encantada e decidiu que voltaria todos os anos.