Leonardo Coelho: quem é o especialista em reestruturações que está à frente da Americanas

Com experiência até no futebol, executivo vem da consultoria Alvarez & Marsal, contratada para atuar no processo de recuperação judicial da varejista

Nome completo:Leonardo Coelho Pereira
Formação:Bacharelado em Economia e MBA em Gestão Avançada
Ocupação:Presidente da Americanas

Quem é Leonardo Coelho?

Leonardo Coelho é economista formado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com MBA em Gestão Avançada pela Esade, de Barcelona (Espanha).

Coelho assumiu a presidência da Americanas em meados de fevereiro, em meio à crise que se abateu sobre a companhia após ela pedir recuperação judicial, no início do ano, e revelar possuir dívidas que podem superar R$ 48 bilhões, segundo a Reuters.

Coelho aceitou comandar a varejista com a chancela de 11 anos e meio como sócio e diretor da Alvarez & Marsal, empresa americana especializada em reestruturações, principalmente operacionais e de dívida.

A consultoria já havia sido contratada pela Americanas – cerca de três semanas antes do anúncio do novo executivo – para atuar no processo de recuperação judicial, ao lado do Rothschild & Co, interlocutor na renegociação das obrigações financeiras no Brasil e no exterior.

No comunicado sobre a chegada de Coelho, a Americanas afirma que o executivo possui “sólidas e bem-sucedidas” experiências em empresas de varejo, tendo exercido posições de liderança em companhias dominantes em seus segmentos nos últimos dez anos.

Antes de ingressar na Alvarez, em setembro de 2011, Coelho liderou diversas unidades de negócio em multinacionais, principalmente dos setores de telecomunicações, energia e agronegócio, tendo atuado no Brasil, Argentina, Chile, Itália e Alemanha.

“Ajudou a empresa brasileira de agronegócio Agrenco a iniciar suas operações, tendo atuado como CFO [diretor financeiro] e diretor de relações com investidores”, informa o site da consultoria.

Coelho ficou pouco mais de quatro meses na Agrenco Limited, holding com sede em Bermudas, mas que possuía ações listadas na B3, tendo renunciado em dezembro de 2011, juntamente com o presidente da empresa. Segundo reportagens da época, o plano de recuperação da companhia não foi adiante por falta de um aporte de capital e, diante disso, os executivos optaram pela saída.

Como consequência da não aprovação de seu plano de recuperação judicial, foi decretada a falência das subsidiárias brasileiras da Agrenco, em agosto de 2013.

A página da Alvarez destaca também a experiência de Coelho como presidente de uma holding brasileira com negócios ligados ao varejo (faturamento de R$ 700 milhões) e financiamentos (receita de R$ 1,5 bilhão), liderando esforços para melhorar a geração de caixa e reduzir o endividamento.

“Ele também coordenou o turnaround de uma empresa de varejo, desenhando um novo mix de produtos e presença de loja, bem como liberando operações estruturadas para diminuir a dívida líquida”, diz a consultoria.

Nesse período, diz a Alvarez, Coelho redesenhou processos, implementou novas ferramentas de gestão, reconstruiu sistemas de contabilidade de custos e renegociou passivos. Como parte desses esforços, também foi responsável por aquisições, planejamento estratégico, tecnologia da informação (TI) e gerenciamento de instalações.

Trajetória de Leonardo Coelho

Hoje no centro das atenções de um dos maiores casos de recuperação judicial da história corporativa do país, Coelho também atuou no universo do futebol. O executivo foi um dos líderes da área de Sportainment da Alvarez & Marsal, braço da consultoria dedicado a esportes e entretenimento.

Em sua página no LinkedIn, quase todas as publicações de Coelho feitas nos últimos dois anos dizem respeito a casos ou discussões ligadas à Lei do Clube-Empresa, que permite a uma associação se tornar uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF).

Em uma postagem de outubro de 2022, por exemplo, Coelho cita o 9º Congresso da AIAF – Association Internationale des Avocats du Football, realizado no Rio, no qual participou da mesa redonda que abordou o tema “Estratégias para investir em clubes de futebol”. Ele descreve o encontro como o “maior evento de advocacia desportiva global”, realizado no Brasil pela primeira vez.

Em outro texto, de agosto de 2022, o executivo comemora a aprovação, em assembleia geral de credores, da recuperação judicial do Coritiba. “Essa é a primeira RJ aprovada no futebol brasileiro e nós da Alvarez & Marsal Sportainment lideramos esse projeto”, disse Coelho.

Ele conta que, durante o trabalho desenvolvido com o clube paranaense, “de forma a suprir uma necessidade imediata e pontual”, um dos líderes da consultoria assumiu interinamente a diretoria executiva da agremiação. Trata-se de Fred Luz, que ingressou na Alvarez no início de 2021 e hoje é diretor geral da área de Sportainment.

Ao lado de Luz, Coelho já apareceu inclusive em programas de televisão, como o Oléé S.A., do canal BandSports, em agosto de 2021. Na ocasião, ambos comentaram a situação de outro clube de futebol, o Cruzeiro, que também possui contrato com a Alvarez e, em julho de 2022, pediu recuperação judicial.

Luz tem grande experiência no meio futebolístico, sobretudo por ter sido diretor de marketing e diretor geral durante o processo de reestruturação e recuperação do Flamengo, entre 2013 e 2018.

Seu currículo, no entanto, chama atenção por outro dado: ele foi diretor comercial da Americanas por nada menos que 15 anos, de outubro de 1980 a dezembro de 1995.

Ou seja: a Alvarez tem a seu favor, dentro da equipe, um executivo com longa passagem pela varejista e que já trabalhou diretamente com Coelho.

No YouTube, é possível encontrar vídeos de Coelho comentando também como as empresas poderiam se preparar para atravessar a pandemia de Covid.

Em um deles, uma live promovida pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), em junho de 2020, ele discorre sobre temas como proteção e gestão de caixa, renegociação com credores e fornecedores, avaliação de opções de reestruturação, redução de custos e despesas e gestão da comunicação interna e externa.

Em outro evento online, o “Debtwire Europe 2021”, ocorrido em setembro daquele ano, Coelho debateu os desafios para a recuperação de empresas brasileiras.

Formação acadêmica e início de carreira na Siemens

Leonardo Coelho Pereira fez a graduação em Economia na Unicamp. Seu currículo traz ainda um BA em Administração e Gestão Empresarial, pela Universidade Anhembi Morumbi, e um curso de Liderança Estratégica na Siemens Executive Academy, ambos entre 2006 e 2007.

Em 2011, estudou Finanças e Operações Estruturadas na Saint Paul Escola de Negócios e Serviços de Apoio Bancário e Financeiro na Global Banking Training, um provedor de programas de educação e treinamento, com sede em Londres.

Em 2012, obteve o MBA em Gestão Avançada pela Esade, a quarta melhor escola de negócios do mundo em formação executiva, segundo o jornal britânico Financial Times. A instituição é ligada à universidade espanhola Ramon Llull, de Barcelona.

Também pela Esade, participou de cursos de Desenvolvimento e Liderança Organizacional (2014) e Inovação Estratégica (2020).

De acordo com seu perfil no LinkedIn, a trajetória profissional de Coelho começou em 1996, quando ingressou na Siemens como trainee. A partir de então, foram quase 13 anos dedicados à companhia alemã, onde ocupou os cargos de analista administrativo, controller, gerente administrativo e, por fim, diretor financeiro de uma unidade de transformadores da Siemens no Brasil – posição na qual permaneceu por mais de três anos, entre julho de 2005 e outubro de 2008.

Durante dois anos e meio, de novembro de 2008 a abril de 2011, atuou como diretor financeiro e presidente no Brasil do grupo italiano Seves, fabricante de isoladores elétricos. Ocupou ainda o conselho de administração da Seves SpA na Itália, uma empresa com faturamento de € 400 milhões.

Ainda em 2011, teve uma breve passagem como diretor financeiro da Carol-Sodru, empresa do grupo agroindustrial Sodrugestvo, de origem russa, mas com sede em Luxemburgo e forte presença na Europa, Oriente Médio e América Latina.

Em meio à experiência, no fim de 2009, foi um dos fundadores da Kapta Structured Projects, na qual permaneceu por pouco mais de cinco anos. Trata-se de uma empresa de serviços financeiros especializada em avaliação e assessoria de operações de fusões e aquisições, gestão de agronegócio, análise de risco de crédito e aumento de capital.

Entre janeiro de 2013 e abril de 2016, integrou o conselho da Greenable, uma plataforma internacional de sustentabilidade com sede na Holanda.

De maio de 2016 a abril de 2020, foi conselheiro fiscal da FNQ – Fundação Nacional da Qualidade, uma entidade sem fins lucrativos criada para administrar o Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ).

Em seu histórico, consta ainda o cargo de conselheiro da Queiroz Galvão S.A., desde maio de 2020.