Jerônimo Rodrigues: quem é o novo governador da Bahia

Ex-secretário de Educação foi “apresentado” ao povo baiano durante a campanha e ganhou tração graças à força petista no estado

Jeronimo Rodrigues
Nome completo:Jerônimo Rodrigues Souza
Data de nascimento:3 de abril de 1965
Local de nascimento:Aiquara (BA)
Formação:Graduado em Engenharia Agronômica e mestre em Ciências Agrárias pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)
Ocupação:Engenheiro agrônomo, professor e político
Partido:Partido dos Trabalhadores (PT)
Principais cargos na vida pública:Secretário nacional do Desenvolvimento Territorial e secretário-executivo adjunto do Ministério do Desenvolvimento Agrário (2011-2014); secretário estadual de Desenvolvimento Rural da Bahia (2015-2019); e secretário estadual de Educação da Bahia (2019-2022)
Eleições disputadas:2022 (governo do estado da Bahia)

Quem é Jerônimo Rodrigues

Quando o Partido dos Trabalhadores (PT) anunciou oficialmente, em julho de 2022, a candidatura de Jerônimo Rodrigues para disputar o governo da Bahia, houve desconfiança em setores da própria legenda. Não eram poucos os militantes petistas que defendiam um nome de maior penetração no estado, que tivesse mais vivência política e fosse mais conhecido pela população, para encarar o duro embate que se avizinhava contra ACM Neto (União Brasil), ex-prefeito de Salvador e herdeiro de uma das mais tradicionais dinastias políticas do país. No entanto, o resultado foi positivo, e o petista conseguiu vencer o adversário no segundo turno.

Apesar da desconfiança, a escolha de Jerônimo foi chancelada pelo PT e sempre teve o apoio das duas principais lideranças da legenda na Bahia: o ex-governador de dois mandatos Jaques Wagner (2007-2014) e o atual ocupante do Palácio de Ondina, Rui Costa, eleito em 2014 e reeleito em 2018, a quem coube indicar o candidato à sucessão. Detentor de uma retumbante popularidade entre os baianos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também endossou a opção por Jerônimo.

Àquela altura, o candidato do PT ao governo da Bahia – quarto maior colégio eleitoral do país – ainda era um ilustre desconhecido. Apesar de ter sido secretário estadual de Educação na gestão de Rui Costa, Jerônimo sempre teve um perfil discreto. Com uma carreira acadêmica sólida e uma série de artigos e livros publicados, notabilizou-se mais pela capacidade de gestão, como um quadro “técnico”, do que pelo trânsito político no partido. Antes de chegar ao pleito de 2022, jamais havia participado de uma eleição. 

Nascido em 3 de abril de 1965 no município de Aiquara, cidade de 5 mil habitantes do interior baiano localizada a cerca de 400 quilômetros da capital Salvador, Jerônimo Rodrigues Souza é filho do agricultor familiar Zeferino Rodrigues e da costureira Maria Cerqueira. 

Teve uma infância humilde em uma comunidade rural próxima de Rio de Contas, que banha várias cidades da Bahia. Ainda criança, teve de deixar os pais para estudar em Jequié, município na zona limítrofe entre a caatinga e a zona da mata, onde morou com as cinco irmãs – ele ainda tem outros três irmãos. 

Depois de concluir o ensino médio, Jerônimo mudou de cidade mais uma vez, em busca do sonho de cursar uma universidade. Prestou vestibular em Salvador e foi aprovado em Engenharia Agronômica na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Fez o curso em Cruz das Almas (BA) e, durante a faculdade, conheceu Tatiana Velloso, com quem se casaria e teria o único filho (João Gabriel). 

Formado engenheiro agrônomo em 1991, Jerônimo foi aprovado em um concurso público para a vaga de professor efetivo da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Lecionou várias disciplinas, entre as quais Ciências Econômicas, Ciências Contábeis, Direito, Administração e Geografia. Na pós-graduação, esteve à frente das cadeiras de Desenvolvimento Rural e Sustentabilidade, Mercado de Capitais e Metodologia do Ensino Científico.

Quando iniciou o mestrado em Ciências Agrárias, também pela UFBA, Jerônimo voltou a Aiquara e se tornou professor do Colégio Municipal Américo Souto. Em sua cidade-natal, ele também foi secretário municipal de Agricultura, na gestão do prefeito Moacyr Viana – sua primeira experiência no Executivo. 

Jerônimo também foi professor e, mais tarde, vice-diretor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas (DCIS) da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). 

Foi durante sua vasta trajetória acadêmica que Jerônimo Rodrigues teve o primeiro contato com o movimento estudantil, ainda como aluno na universidade. Filiou-se ao PT nos anos 1990 e atuou junto a diversos movimentos sociais e organizações da sociedade civil. 

Experiência administrativa

A militância no PT e a preocupação com temas como a desigualdade social, a pobreza e a fome, flagelos em grande parte do Brasil e em diversas regiões da Bahia especialmente, levaram Jerônimo a trilhar o caminho da política. Em 2006, quando o PT desbancou a hegemonia do “carlismo” – como ficou conhecido o movimento de apoio ao ex-governador da Bahia e ex-senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007) –, Jerônimo teve participação ativa, como militante petista, na vitoriosa campanha de Jaques Wagner, eleito governador do estado. 

Em 2007, já no primeiro ano de governo, o ex-secretário de Agricultura de Aiquara aceitou o convite de Wagner para integrar a equipe da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação da Bahia. Em 2010, ainda no primeiro mandato do governador, passou a compor a Secretaria de Planejamento do estado – uma das pastas mais estratégicas do governo. 

O bom trabalho ao lado de Jaques Wagner credenciou Jerônimo a ocupar posições no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Indicado por Wagner, Rodrigues se tornou secretário-executivo adjunto no Ministério do Desenvolvimento Agrário no primeiro ano da gestão Dilma, em 2011. 

Ele também exerceu as funções de secretário nacional do Desenvolvimento Territorial, assessor especial do Ministério do Desenvolvimento Agrário, secretário executivo do Programa Pró Territórios/Cumbre Ibero-Americana e secretário executivo do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf).

À sólida trajetória acadêmica, somou-se a experiência administrativa em cargos de gestão em Brasília, o que acabou sendo determinante para que Jerônimo retornasse à Bahia em outro patamar em termos de vivência política, mais “calejado” e preparado para grandes desafios.  

Secretário de Educação

O domínio do PT na Bahia, iniciado com a vitória de Jaques Wagner em 2006 e consolidado com sua reeleição em 2010, se intensificou nos anos seguintes. Em 2014, Wagner elegeu como seu sucessor Rui Costa (PT), que viria a conquistar o segundo mandato em 2018, coroando um ciclo de quatro governos consecutivos do partido no estado.

Homem de confiança de Rui Costa, Jerônimo ajudou na implantação da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural, que comandou entre 2015 e 2017. Nas eleições de 2018, foi coordenador da bem sucedida campanha à reeleição do governador baiano. Rui Costa teve mais de 75% dos votos válidos (5 milhões de votos) e venceu no primeiro turno. Em 2019, o fiel escudeiro do governador reeleito foi indicado para assumir a Secretaria de Educação. 

Na condição de um dos principais secretários de estado da nova gestão petista, Jerônimo teve carta branca para levar a cabo um investimento de R$ 3,5 bilhões em escolas públicas. Sua gestão teve como foco a oferta de milhares de vagas em cursos profissionalizantes por meio do programa Educar para Trabalhar. 

Durante a pandemia de Covid-19, em meio às dificuldades de aprendizado das crianças, a secretaria criou dois programas para combater a evasão escolar: o Bolsa-Presença, que ofereceu auxílio mensal de R$ 150 para famílias de estudantes da rede estadual de ensino, e o Mais Futuro, cujo objetivo era manter jovens na universidade com apoio financeiro. Também implementou o Vale-Alimentação Estudantil e o Mais Estudo.

Onda vermelha

Escolhido pelo PT como o candidato do partido ao governo do estado, Jerônimo Rodrigues se viu diante do maior desafio de sua vida. Neófito em disputas eleitorais, o ex-secretário da Educação teve, inicialmente, a difícil missão de se tornar conhecido da população baiana. 

Seu principal adversário, ACM Neto, havia deixado a Prefeitura de Salvador com elevados índices de aprovação. A menos de quatro meses do pleito, todas as pesquisas apontavam um cenário de amplo favoritismo do neto de Antônio Carlos Magalhães, cuja vantagem sobre Jerônimo variava entre 40 e 50 pontos percentuais. Somente uma nova “onda vermelha”, como as que cobriram a Bahia nas eleições de 2006, 2010, 2014 e 2018, seria capaz de alterar o panorama. 

Enquanto a desconfiança e o pessimismo tomavam conta de setores da militância petista e de caciques partidários, Jaques Wagner mantinha inabalável seu prognóstico: ao se tornar mais conhecido e contando com o apoio de Lula, Jerônimo cresceria nas pesquisas e chegaria ao dia da eleição com chances reais não apenas de vencer, mas de liquidar a disputa no primeiro turno. 

Não deu outra. O vaticínio do ex-governador da Bahia se confirmou. Em setembro, a cerca de um mês da votação, Jerônimo estava colado em Lula e aparecia ao lado do ex-presidente em diversos comícios, entrevistas e atos de campanha no estado. A popularidade de Lula impulsionou os números do ex-secretário de Educação e, às vésperas do primeiro turno, os institutos indicavam o candidato do PT numericamente à frente de ACM Neto. 

Quando as urnas foram abertas, o resultado foi categórico: Jerônimo recebeu mais de 4 milhões de votos (49,45%), ante 3,3 milhões de ACM Neto (40,8%). A eleição não acabou já no dia 2 de outubro por apenas 0,55% dos votos válidos. Mesmo assim, a euforia tomou conta do PT. O favoritismo havia mudado de lado. A quinta vitória eleitoral consecutiva do partido na Bahia estava muito próxima de se tornar realidade. 

“O movimento carlista governou a Bahia por 30 anos e não houve um diálogo democrático entre prefeitos, deputados e o governo. ACM Neto é jovem na idade, mas carrega uma marca antiga, um modelo ultrapassado de fazer política. A população percebe isso e consegue fazer os seus comparativos”, afirmou o candidato petista em entrevista ao jornal O Globo, em outubro de 2022, dias depois do primeiro turno da eleição. 

Independentemente do desfecho dessa disputa, o engenheiro agrônomo e professor provou que também sabe fazer política. Em sua primeira eleição, surpreendendo até mesmo alguns aliados, Jerônimo Rodrigues mostrou estar pronto para defender o legado do PT na Bahia.