Guilherme Boulos: o militante e psicanalista que quer governar a maior prefeitura do País

Deputado em primeiro mandato, Boulos (PSOL) concorre pela segunda vez à Prefeitura de São Paulo

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Imagem: YouTube
Nome completo:Guilherme Castro Boulos
Data de nascimento:19 de junho de 1982
Local de nascimento:São Paulo, capital
Formação:Graduação em Filosofia pela USP, especialização em Psicologia Clínica pela PUC-SP e mestrado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da USP
Ocupação:Deputado federal por São Paulo (2022 – atual)

Em sua estreia no Legislativo Federal, Guilherme Boulos (PSOL-SP) obteve a maior votação entre os candidatos a deputado federal por São Paulo nas eleições de 2022, alcançando a marca de 1.001.472 votos ─ à frente de figuras como Carla Zambelli (PL-SP), com 946.244 votos; Eduardo Bolsonaro (PL-SP), com 741.701 votos, e Tabata Amaral (PSB-SP), com 337.873 votos.

Ex-coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), ele tem a defesa da moradia e da alimentação popular como principais bandeiras desde o início da vida pública, ainda como líder estudantil. Boulos é o candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo na eleição de outubro de 2024.

Quem é Guilherme Boulos

Nascido em 19 de junho de 1982 em São Paulo, capital, Guilherme Castro Boulos é professor, psicanalista, escritor e político filiado ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).

Seu pai, Marcos Boulos, e sua mãe, Maria Ivete Castro Boulos são médicos infectologistas. O primeiro é professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e atuou na Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN), já a segunda coordena o atendimento à vítimas de violência sexual no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Mesmo com uma vida confortável e financeiramente tranquila em comparação com o brasileiro médio, as causas sociais despertaram o interesse de Boulos desde cedo. Quando o tema de suas escolhas pessoais vem à tona, costuma contar um fato de sua infância que o marcou. 

Aos dez anos de idade, foi com seu pai ao estádio do Pacaembu assistir ao jogo do Corinthians ─ seu time de coração ─ e, logo na entrada, viu um ambulante com uma criança vendendo amendoins. Ele conta que a Polícia tentou tomar a mercadoria do homem, que não tinha licença para atuar no local. O vendedor reagiu, e acabou apanhando de um oficial na frente da criança, que via a cena aos prantos.

“Nunca esqueci daquele dia, pela violência e pelo fato de o menino ter mais ou menos a minha idade. Desde então, situações como esta sempre me marcaram, e a forma que encontrei de fazer algo em relação a isso foi a militância”, disse em um programa de televisão.

Vida acadêmica e início da militância

A militância de Boulos, como ele mesmo diz, começou de forma não planejada. Primeiro, montou um grêmio estudantil na escola; depois, fez um projeto de alfabetização em uma favela na zona norte de São Paulo, até que, aos 18 anos, ingressou na faculdade de Filosofia da USP. 

Na ocasião, tomou uma decisão que influenciaria toda a sua trajetória política: saiu da casa dos pais, em Pinheiros, bairro de classe média alta, para ir morar em um acampamento dos sem-teto em Osasco, na Grande São Paulo.

O jovem universitário, que havia começado a trabalhar como professor da rede pública, ficou um ano e meio morando na ocupação. “Guilherme levou uma cama dobrável, um lampião e o porta-malas cheio de livros. Dizia que, para lutar por aquelas pessoas, tinha de viver como elas”, disse sua mãe em entrevista ao UOL, em 2020.

Concluída a graduação, Boulos se especializou em Psicologia Clínica na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Logo depois, emendou um mestrado em Psiquiatria pela Faculdade de Medicina da USP, com a dissertação “Estudo sobre a variação de sintomas depressivos relacionada à participação coletiva em ocupações de sem-teto em São Paulo”.

Foi em uma ocupação do MTST que conheceu sua esposa, Natalia Szermeta, com quem tem duas filhas.

Atuação política

Articulado e bom comunicador, Guilherme Boulos, começou a chamar atenção como liderança do MTST, por vezes, adotando posturas consideradas radicais. Pela habilidade oratória, era com frequência apontado entre militantes de esquerda como possível sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em algumas ocasiões, Boulos chegou a ser preso, sob acusações de incitação à violência e desobediência a ordens judiciais. Uma delas foi em 2012, quando se opôs à atuação da Polícia Militar na ocupação de Pinheirinho, em São José dos Campos (SP).

Em 2013, seu nome voltou a ganhar visibilidade, dessa vez por causa dos protestos contra os gastos da Copa do Mundo. Boulos também atuou fortemente contra o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT), em 2016.

A filiação ao PSOL ocorreu em 2018, ano em que concorreu à eleição presidencial ao lado da liderança indígena Sônia Guajajara, vice em sua chapa. A dupla não obteve nem 1% do total dos votos, mas a campanha ajudou a consolidar o nome de Boulos no cenário político nacional.

Em 2020, disputou a Prefeitura de São Paulo, tendo a então deputada federal Luiza Erundina (PSOL-SP), ex-prefeita da cidade, como vice. Perdeu para Bruno Covas (PSDB) no segundo turno, alcançando 40,6% dos votos contra 59,3% do adversário. Com a morte precoce do tucano, foi seu vice, Ricardo Nunes (MDB), quem assumiu o comando da capital paulista.

As eleições de 2022 marcaram a primeira vez em que Guilherme Boulos disputou uma vaga para o Poder Legislativo. Com propostas que focaram na moradia popular, alimentação para a população de rua e aumento da tributação de grandes fortunas, o novato obteve a maior votação do pleito proporcional em São Paulo, superando a marca de um milhão de votos, garantindo uma vaga na Câmara dos Deputados.

As cozinhas solidárias iniciaram com a distribuição de cestas básicas em várias comunidades de São Paulo. Porém, segundo Boulos, a ideia precisou ser adaptada porque muitas pessoas não tinham gás em casa para cozinhar.

“Foi daí que começou a surgir a ideia das cozinhas solidárias. A primeira foi na Brasilândia, zona norte de São Paulo. Desde então, várias foram abertas ao longo dos anos, e hoje existe uma plataforma de doação, com mais de 3 mil pessoas que colaboram mensalmente”, disse o parlamentar em seu canal no YouTube.

Em março de 2024, o governo federal regulamentou o Programa Cozinha Solidária, baseado em projeto de lei apresentado por Boulos. Conforme divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o texto também estabelece diretrizes para orientar iniciativas em todo o País, com base em princípios de segurança alimentar.

Desde o início de seu mandato, o parlamentar também aprovou outros dois projetos de sua autoria. Um deles (o PL 2530/2023) estabelece punições para instituições financeiras que concedam empréstimos consignados sem autorização do correntista. O outro (o PL 4035/2023) determina a fiscalização de políticas públicas no combate à desigualdade por parte do Congresso Nacional.

Um dos pontos mais criticados de sua atuação parlamentar envolveu a relatoria de processo contra o deputado federal André Janones (Avante-MG) por suposta prática de “rachadinha” (cobrança ilegal de uma espécie de comissão dos salários de funcionários de gabinete). Na ocasião, Boulos apresentou parecer pelo arquivamento do caso junto à Comissão de Ética da Câmara dos Deputados.

Durante a oficialização de sua candidatura à prefeitura de São Paulo, em 20 de julho, Boulos mencionou alguns planos que pretende colocar em prática caso seja eleito. Entre eles estão a implementação de ensino integral em algumas escolas da capital e investimentos em ônibus elétricos e outros projetos de valorização do meio ambiente.

Neste pleito, Boulos tenta se afastar da imagem de radical para angariar apoio de eleitores não apenas de esquerda, mas de centro. Um dos movimentos nesse sentido foi a aproximação de Marta Suplicy (PT), ex-prefeita da cidade, que deixou o comando da Secretaria Relações Internacionais da gestão de Ricardo Nunes para assumir a vice na chapa do parlamentar.

A aliança com o Partido dos Trabalhadores (PT) carrega as digitais de Lula, que levou o partido à primeira vez em sua história não apresentar nome próprio para a disputa pela capital paulista. E o nome de Marta é visto como um ativo para ganhar acesso em faixas importantes de eleitores das periferias, a partir de bandeiras como os CEUs e o Bilhete Único.