Volatilidade das taxas de juros reflete nos fundos de renda fixa, que chegam a ter resultado negativo nos primeiros dias de março

Desvalorização ocorreu principalmente nos fundos que investem em títulos atrelados à inflação, avalia gestor

Mariana Segala

(Shutterstock)

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A volatilidade dos juros nos últimos dias começou a refletir no desempenho de alguns fundos de renda fixa. Diante do receio de persistência da inflação, dado o avanço dos preços das commodities desde a eclosão da guerra entre Rússia e Ucrânia, as taxas negociadas no mercado galgaram degraus – e, dada a marcação a mercado das carteiras, o efeito foi a desvalorização das cotas.

Segundo os dados compilados pela Anbima (Associação das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), algumas categorias de fundos de renda fixa registraram desvalorização das cotas nos primeiros dias de março. É o caso principalmente dos fundos de renda fixa atrelados ao índice IMA-B, indicador que acompanha o desempenho dos títulos públicos de inflação – as NTN-Bs ou os Tesouro IPCA+.

Esses papéis oferecem aos investidores uma taxa prefixada mais a variação da inflação medida pelo IPCA, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Nos primeiros dias de março, alguns deles chegaram a pagar juros acima de 5,90% ao ano e outros rondaram essa faixa. Foram os recordes deste ano.

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“Vimos um forte aumento da volatilidade e também do prêmio de risco na renda fixa”, diz Stefan Castro, head de gestão da AF Invest. “Por isso, houve uma reprecificação, especialmente nos fundos de inflação”.

Na primeira semana de março, até dia 4, seis categorias de fundos de renda fixa tiveram desvalorização nas cotas, segundo a Anbima. Foram as carteiras de “indexados”, “duração alta soberano”, “duração alta crédito livre”, “duração livre crédito livre”, “investimento no exterior” e “dívida externa”. Os fundos de inflação costumam estar presentes nas três primeiras categorias, enquanto as duas últimas incluem fundos prejudicados pelos movimentos do câmbio – a cotação do dólar vem recuando desde o início do ano.

Nessas categorias, os resultados apenas nos primeiros quatro dias do mês variaram de -0,06% até -1,43%.

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Um levantamento realizado pela Economatica, plataforma de informações financeiras, mostra que mesmo alguns fundos de renda fixa tidos como conservadores – com pelo menos 95% dos investimentos focados em títulos públicos e com volatilidade inferior a 1% – também tiveram desempenho negativo nos primeiros 7 dias do mês, embora sejam poucos.

O movimento reflete a marcação a mercado dos papéis que compõem as carteiras – em outras palavras, a atualização dos preços dos ativos pelo seu valor atual de negociação no mercado. Quando as taxas de títulos de renda fixa sobem, a tendência é de que seu valor de mercado recue. Isso é especialmente verdade no caso dos títulos de inflação, porque eles normalmente têm vencimentos longos – e, por isso, são mais sensíveis a variações dos juros.

Por isso, de imediato em momentos de volatilidade, os fundos de renda fixa podem apresentar desempenho negativo. Castro explica, no entanto, que esse efeito tende a se dissipar ao longo do tempo, especialmente no caso dos fundos de gestão ativa.

“A reversão e a velocidade do movimento dependem basicamente de dois fatores, e um é de mercado”, diz. Quando as taxas baixam e voltam aos patamares anteriores – caso melhore a percepção de risco dos agentes financeiros sobre as consequências monetárias e fiscais do conflito entre Rússia e Ucrânia, por exemplo – os preços dos ativos de renda fixa também tendem a normalizar. O segundo aspecto está na habilidade dos gestores de selecionar os ativos com melhor assimetria de risco e retorno.

Para os investidores, Castro lembra que é importante manter uma carteira balanceada dentro do seu perfil e utilizar os soluços do mercado para recalibragens.

“Atualmente, temos preferido alocações pós-fixadas, beneficiadas por uma volatilidade menor. Também temos olhado mais para crédito privado”, diz. Segundo ele, os papéis emitidos por empresas e bancos – como debêntures e CDBs – têm oferecido bons retornos sem apresentar volatilidade exagerada. “É uma classe bem posicionada, com taxas interessantes”.

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney