Verde vê contornos “bem estabelecidos” para corte de juros em agosto e cenário “perfeito demais” nos EUA

Abandonando críticas ferrenhas ao governo vistas nas cartas do começo do ano, gestora defendeu que ações brasileiras têm espaço para subir

Bruna Furlani

Stuhlberger: mudanças relativamente simples podem transformar o país (Germano Lüders)

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Após uma precificação mais construtiva dos mercados impulsionada pela evolução do arcabouço fiscal, crescimento da atividade econômica e surpresas positivas com a inflação em maio, a Verde Asset também adotou um tom um pouco mais otimista com ativos locais.

Em carta divulgada aos cotistas na segunda-feira (12), a renomada gestora comandada por Luis Stuhlberger afirmou que os “contornos estão bem estabelecidos para o início do ciclo de cortes [da Selic] ocorrer provavelmente em agosto”.

Nesta semana, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, sinalizou que as revisões para baixo nas projeções longas de inflação abrem espaço para o BC começar a cortar a taxa Selic, hoje em 13,75% ao ano, mas reforçou que o Comitê de Política Monetária (Copom) não tomará decisões artificialmente.

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Abandonando críticas ferrenhas ao governo e ao andar dos ativos locais visto nas cartas do começo do ano, a Verde defendeu ainda que as ações brasileiras têm espaço para continuar com o bom desempenho, mesmo após o pequeno rali registrado nos últimos dias e ao longo de maio.

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Não à toa, o fundo tem mantido cerca de 20% da alocação no mercado local – o que tem trazido bons frutos. Parte dos ganhos do Verde em maio vieram de posições em ações locais e em operações de juros nos EUA.

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Já as perdas tiveram como foco uma posição em inflação implícita no Brasil voltada para hedge (proteção), além de exposições a juros na Europa e em inflação americana.

Em evento no começo do mês, o tom adotado pelo economista-chefe da casa, Daniel Leichsenring, já tinha surpreendido o mercado. Na ocasião, o executivo da Verde destacou que o Brasil ganhava tempo e estava tirando da frente um risco relevante com a aprovação do arcabouço fiscal pelo Congresso.

A relação entre a dívida pública e o Produto Interno Bruto (PIB) também foi um ponto de atenção. Leichsenring defendeu que a relação entre ambos poderia ser estabilizada em um ou dois anos em um cenário de juros mais baixo e de dólar mais fraco ao redor do mundo.

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Cenário “falsamente” perfeito nos Estados Unidos

Enquanto a visão no Brasil está mais positiva, a gestora vem defendendo que o mercado tem adotado um cenário “perfeito demais” nos Estados Unidos – especialmente após o duro aperto monetário feito pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) que elevou os juros para a faixa entre 5,00% e 5,25%.

Segundo a Verde, o cenário parece com que a casa chama de goldilocks, termo inspirado no conto da personagem Cachinhos Dourados e os Três Ursos.

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“Podemos interpretar que os mercados hoje veem um cenário de bom crescimento com inflação cadente e bancos centrais prestes a parar de subir juros, tudo isso ajudado por uma pitada de inteligência artificial”, afirma a Verde, ao se referir às altas puxadas especialmente por grandes empresas de tecnologia na Bolsa nos últimos meses.

Apesar disso, na avaliação da gestora, os dados americanos indicam um cenário bem mais complexo. A casa lembra que os números de emprego continuam pujantes e a contração do crédito até agora não apareceu – mesmo após choques no sistema bancário do país, o que mantém pressão sobre o Fed para que ele eleve os juros.

Atualmente, a avaliação do mercado é que a autoridade monetária americana deve fazer uma pausa na decisão desta quarta-feira (14) e voltar a subir o juro em 0,25 ponto no encontro de julho.

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Nesse sentido, a casa destacou que mantém uma pequena exposição comprada em Bolsa global e que aumentou a posição em crédito high yield (que oferece maior retorno e maior risco), mas sem especificar a geografia.

A Verde também informou que seguiu com a posição comprada em ouro e em petróleo, assim como uma posição comprada em inflação nos EUA e com uma alocação que se beneficia da alta dos juros (tomada) no Japão.

Em maio, o fundo obteve ganhos de 0,89%, ou seja, abaixo do CDI, que subiu 1,12%. No acumulado do ano, o retorno do Verde também está atrás da taxa de referência dos multimercados, com uma alta de 3,23%, contra 5,37% do CDI.

O desempenho mais fraco ao longo deste ano não é um algo exclusivo da gestora e afeta também uma parcela da indústria. Prova disso é que, do começo do ano até o dia 12 de junho, o retorno médio dos multimercados de gestão ativa no Brasil, medido pelo Índice de Hedge Funds Anbima (IHFA), está em 3,11%, ou seja, abaixo dos 5,74% registrados pelo CDI no mesmo período.