Verde reduz exposição em Bolsa brasileira ao ver “soma de todos os medos”

Em carta, gestora vê com preocupação alavacangem das empresas em momento de "evidente" constrição do crédito

Ana Paula Ribeiro

(Crédito: José Patrício/ Estadão Conteúdo)

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A Verde Asset, comandada por Luis Stuhlberger, decidiu fazer uma redução marginal em sua exposição em ações brasileiras. A justificativa é que a Bolsa segue em um momento de “soma de todos os medos”, o que inclui o cenário de juros, a restrição de crédito e o potencial aumento de impostos que pode vir na esteira das novas regras fiscais.

Em carta divulgada nesta terça-feira (11), a Verde mostra a sua visão sobre as regras fiscais apresentadas pelo governo federal e que precisam ser aprovadas pelo Congresso Nacional: “o arcabouço consegue ser ao mesmo tempo pior do que o necessário e melhor que o temido”.

A preocupação está na proposta de ajuste pelo lado da receita, o que pode levar a aumento de impostos. No entanto, a busca por superávits primários (receitas acima dos gastos, excluindo juros) nos próximos anos foi vista como positiva.

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A apresentação do arcabouço trouxe uma melhora nos mercados de juros e câmbio, mas, para a Verde, isso ainda não chegou à Bolsa, já que o mercado acionário não consegue “precificar o juro futuro (menor) dado o CDI corrente de 13,75%”. Além disso, a casa vê com preocupação a alavancagem (nível de dívida) por perceber um ambiente de constrição de crédito “cada vez mais evidente”.

Março negativo

Em março, o Verde, principal fundo da gestora, registrou uma rentabilidade negativa de 0,41%. No ano, acumula ganhos de 2,36%. Já o CDI, no mesmo período, sobe 1,17% e 3,25%, respectivamente.

Os ganhos em março vieram de posições compradas (expectativa de valorização) em ouro, em inflação americana e juros longos europeus. No entanto, tudo isso foi anulado pelas aplicações em ações, juros nos EUA, compra de inflação implícita no Brasil (diferença entre a taxa nominal e uma taxa real, como o Tesouro IPCA) e posição tomada (expectativa de alta) em juros no Japão.

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EUA no radar

Sobre o exterior, o documento da Verde lembra que a quebra do Silicon Valley Bank (SVB), em 10 de março, levou a uma corrida bancária que atingiu outros dois bancos menores e que trouxe de volta ao mercado as lembranças da crise financeira de 2008. Em consequência, viu nos Estados Unidos um ajuste nos juros com a expectativa de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) possa relaxar a política monetária.

“Os mercados de juros, especialmente na parte curta da curva americana, correram para precificar uma série de cortes nas próximas reuniões do Fed”, destacou a carta.

Esse corte na curva de juros teve impacto nos mercados acionários americanos, que registram ganhos — com exceção dos papéis do setor bancário.

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Para a Verde, no entanto, o que virá após a queda do SVB será diferente do ocorrido em 2008. “O modelo mental de 2008 não funciona para hoje, e os problemas do sistema não são de solvência, mas sim, em grande medida, de liquidez, algo que os Bancos Centrais podem endereçar sem os mecanismos da taxa de juros”.

Apesar de ter essa visão, a gestora mostra que é preciso cuidado em relação aos bancos médios americanos em um momento de juros elevados, alto nível de inflação e mercado de trabalho aquecido.

Perspectivas

Ainda sobre o mercado americano, a Verde aumentou posições na parte curta da curva de juros para tirar proveito da volatilidade dessas taxas, além de ter aumentado também as posições compradas em inflação.

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Junto a isso, a carta fala da redução da exposição em bolsa brasileira e de uma exposição líquida neutra em bolsa global.

“A posição comprada em inflação implícita no Brasil foi mantida, e continuamos tomados em juros na parte curta da curva e comprados em inflação nos EUA. A posição em ouro foi mantida, mas zeramos a alocação em petróleo”, mostra a carta.

Em relação a moedas, a Verde fez uma pequena alocação comprada em dólar, ou seja, contra o real. As posições em crédito (local e high yield global) foram mantidas.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney