“Vejo mais racionalidade na Bolsa do que no mercado imobiliário”, diz Stuhlberger

Gestor acredita que o mercado de ações deve continuar a ter um bom desempenho em 2020

Pedro Ladislau Leite

Luis Stuhlberger, gestor da Verde Asset, em evento do Credit Suisse (Crédito: Fotoka/Divulgação)

SÃO PAULO – Sempre que o preço de um ativo dispara, não demora para que alguém aponte que uma bolha está prestes a estourar. Após o rali de 2019, não são poucos os que passaram a questionar os fundamentos de diversas classes.

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Nesta quarta-feira (29), dois dos gestores mais importantes do país compartilharam suas visões sobre o tema, durante evento do Credit Suisse, realizado em São Paulo. Para Luis Stuhlberger, fundador da gestora Verde, a taxa de juros é onde se encontra algo mais próximo a uma bolha hoje. “Parece estar mais distorcida do que qualquer momento na história da humanidade”, disse ele.

Do mesmo modo, ele afirma que o mercado de investimentos alternativos também está se descolando da realidade. Já o mercado de ações, avalia Stuhlberger, não apresenta preços tão desalinhados, ainda que, no caso brasileiro, tenha subido mais de 30% em 2019.

“Houve um expansão de múltiplos [das empresas negociadas]”, afirmou o gestor. “Vejo mais racionalidade na Bolsa do que no mercado imobiliário e de private equity.”

Ele se mostra mais cauteloso, contudo, em relação às grandes companhias do setor de tecnologia. “As big techs estão valendo hoje trilhões, mais do que o PIB da Alemanha”, alertou.

Na mesma linha, Rogério Xavier, fundador da SPX, destaca que seu principal fator de preocupação não é se os preços terão suporte para continuar subindo, mas saber como os investidores irão se comportar, agora que aumentaram a exposição a ativos mais voláteis.

“Os preços estão distorcidos pela política monetária. Os juros empurraram as pessoas a tomar mais risco. Se é uma bolha ou não, não sei”, afirmou Xavier. “O risco é que algum evento não previsto faça com que as pessoas que correram para o risco, em uma reversão de cenário, encontrem uma porta de saída estreita.”

Segundo o gestor, em âmbito global, ao experimentarem cortes de juros mais profundos, as autoridade monetárias parecem ter abandonado políticas mair rigorosas que impediam que a inflação saísse da meta.

“Essa política [estimulativa] veio para ficar”, avalia. “Normalmente bolhas são estouradas pelos próprios bancos centrais. Não é o caso agora. Em 2018, eles começaram a apertar a política monetária preventivamente e, pouco tempo, depois tiveram que reverter a política. Se o sarrafo para cair juros está alto, para subir está mais alto ainda.”

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Para Xavier, nesse contexto, ainda há oportunidades de se ganhar dinheiro globalmente com queda de juros. Ele vê também com bons olhos o mercado americano, embora haja o risco das eleições presidenciais. “Os Estados Unidos é um lugar atrativo para investir, a não ser que o [candidato Bernie] Sanders vença as eleições. Eles estão crescendo mais do que a América Latina, por incrível que pareça.”

Verde aposta em ações

Stuhlberger acredita que o mercado acionário deve continuar a ter um bom desempenho. “O grande argumento para comprar ações é que o PIB de consumo do Brasil vai crescer muito. Estamos no início do ciclo, as empresas têm alavancagem operacional, podem expandir as margens”, disse, projetando que o PIB relativo ao consumo das famílias pode crescer até 5% este ano, o que deve beneficiar as ações.

Ele lembra, no entanto, que muito dessa perspectiva já está nos preços. E recomenda cuidado com setores que contam com margens de lucro muito gordas, que podem sofrer por conta de novos competidores.

Ambos os gestores mantêm olhar positivo para o mercado de ações, optando pela estratégia de stock picking (seletividade).

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Pedro Ladislau Leite

Repórter de investimentos do InfoMoney, cobre os mercados de renda fixa (Tesouro Direto e títulos privados) e de renda variável, acompanhando as movimentações dos principais gestores de fundos no país.