Vale a pena confiar nos padrões gráficos propostos pela análise técnica?

Economistas elaboram estudo sobre a eficiência econômica e estatística do O-C-O, com conclusões contundentes

Rafael Souza Ribeiro

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SÃO PAULO – Apesar da ampla difusão no mercado, a análise técnica encontra certa resistência no mundo acadêmico por conta do método peculiar de análise e trabalhos de renomeados autores, como de Eugene Fama*, com resultados empíricos negativos em relação à eficiência do instrumental.

A despeito das inconsistências, a ferramenta ganha espaço entre os investidores, sejam autônomos ou profissionais, a cada dia. Além se mostrar uma maneira acessível e prática para elaboração de estratégias de investimento, a análise baseada nos gráficos vem conquistando espaço nas mesas de operações, o que, por sua vez, ampliou a gama de relatórios sobre o assunto.

Esta expansão, intensificada no final do século XX, abriu espaço para novas publicações com testes empíricos para verificar a validade dos padrões de análise técnica, dos quais alguns apresentaram conclusões favoráveis ao potencial preditivo desses padrões, intensificando o debate acadêmico sobre o assunto.

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Academia
Um destes trabalhos foi elaborado pela dupla Osler e Chang**. O estudo, baseado em testes econométricos e métodos quantitativos, propõe testar o poder de previsão dos padrões gráficos, com destaque para os famosos O-C-O (Ombro-Cabeça-Ombro) e O-C-O-I (Ombro-Cabeça-Ombro-Invertido).

Os dois autores desenvolveram um algoritmo capaz de identificar o padrão em séries de preços e avaliaram o desempenho da linha sequencial no mercado de câmbio (utilizando para análise seis moedas) com uma base histórica de 20 anos.

Teste no mercado brasileiro
Em uma adaptação à metodologia aplicada por Osler e Chang, os economistas Pedro Gabriel Boainain e Pedro Valls Pereira testaram a lucratividade de estratégias de investimento baseadas na identificação de O-C-O´s e O-C-O-I´s no mercado de ações brasileiro.

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O trabalho, intitulado “Ombro-Cabeça-Ombro: testando a lucratividade do padrão gráfico de análise técnica no mercado de ações brasileiro”, baseou-se em séries diárias de preços de 30 ações no período de janeiro de 1994 a janeiro de 2009.

Para alcançar seu objetivo, os dois economistas definiram diversas estratégias de investimento condicionais à identificação do padrão gráfico neste período de tempo e métodos econométricos para verificar a viabilidade econômica e a previsibilidade da figura.

Por que o O-C-O?
Um aspecto que favoreceu a escolha do O-C-O como objeto de estudo foi a facilidade de assimilação do padrão por parte do analista técnico, uma vez que os conceitos são bem difundidos nos guias de análise técnica, revela Boainain.

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Como não é um padrão que ocorre constantemente no mercado, existe a tendência de se operar pouco, e, com isso, reduzir significativamente os custos de transação da operação, afirma Valls.

Deste modo, os economistas chegaram à conclusão que o padrão têm poder de previsão no mercado brasileiro, o que dá suporte a estratégias de investimentos com base nestes padrões gráficos.

Verificaram também que o algoritmo proposto, baseado em inferências estatísticas e testes econométricos, foi capaz de identificar os padrões gráficos, dando, portanto, sustentabilidade matemática ao argumento.

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Conclusões do trabalho
Verificada a viabilidade estatística do padrão, Valls e Boainain concluíram que os resultados a favor do poder de previsão do padrão O-C-O são elevados o suficiente para que mantenham a sua atratividade, em especial para os grandes investidores, que conseguem redução de custos operacionais. Ou seja, o padrão gráfico é aplicável ao mercado brasileiro.

Do outro lado, os economistas verificaram que o O-C-O-I não tem poder de antecipar o fim de uma tendência de baixa e início de uma tendência de alta, ao passo que só alguns resultados “meramente do acaso” foram positivos.

Ao final do trabalho, Boainain sugere novos estudos acadêmicos sobre análise técnica, como o desenvolvimento de estratégias de investimento que tentem se aproximar ainda mais da forma como um analista técnico toma suas decisões, incluindo o volume negociado das ações, fundamental para o instrumental.

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*FAMA, E.F. e BLUME, M.E. Filter Rules and Stock Market Trading, Journal of Business, v.39, p. 226-241, 1966.
**OSLER, C.L. e CHANG, P.H.K. Head and Shoulders: Not Just a Flaky Pattern, Federal Reserve Bank of New York staff report 4, 1995.