Vai apostar na Mega da Virada? Saiba como investir o prêmio de R$ 500 milhões caso seja o ganhador

Especialistas apontam alternativas de alocação dos recursos segundo o perfil do investidor e alertam para possíveis armadilhas

Márcio Anaya

Pessoa faz aposta da Mega-Sena da Virada (Marcelo Casal Jr/Agência Brasil)

Publicidade

O ano já está terminando, e mesmo para quem não é apostador frequente em loterias, a chance de se tornar super milionário com a Mega da Virada vira assunto nas rodas de conversa. Neste ano, a estimativa oficial da Caixa já aponta um novo prêmio recorde, de R$ 500 milhões. Já pensou?

Em gastar, com certeza. Mas você saberia investir essa bolada?

As apostas para a Mega da Virada terminam neste sábado (31), às 17h. O sorteio acontece no mesmo dia, às 20h. A escolha mínima é de seis números e custa R$ 4,50. Como o prêmio não acumula, se não houver ganhadores na faixa principal (cravando as seis dezenas), o dinheiro é dividido entre os acertadores da chamada faixas seguintes (cinco dezenas, quatro, e assim por diante).

Oferta Exclusiva para Novos Clientes

CDB 230% do CDI

Destrave o seu acesso ao investimento que rende mais que o dobro da poupança e ganhe um presente exclusivo do InfoMoney

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

Sharon Halpern, sócia e banker da Blackbird Investimentos, chama atenção para uma questão matemática: R$ 500 milhões é um patrimônio capaz de dar tranquilidade para o resto da vida do ganhador da Mega da Virada. Pode garantir recursos até para as próximas gerações.

Se bem administrado, claro.

Leia também:

Continua depois da publicidade

Planejamento financeiro: o que é e como fazer

Planilha de gastos pessoais em Excel permite dar o primeiro passo rumo ao controle financeiro

Um dos caminhos apontados pela especialista é fazer uma divisão inicial, separando uma parte para reserva de emergência (investimentos de baixo risco e alta liquidez) e outra para projetos principais de curto e médio prazo, como aquisição de bens, imóveis e o planejamento para custear a educação dos filhos, aqui ou no exterior, por exemplo.

Continua depois da publicidade

Nessas “gavetas”, os recursos iriam para alternativas mais conservadoras. “O restante seria alocado em um portfólio diversificado, cujo nível de sofisticação depende do perfil de risco de cada investidor”, afirma.

Ela lembra que, como sempre, os objetivos e horizonte da aplicação são fundamentais. “Um ganhador de 80 anos terá planos diferentes de alguém com 20 anos, por exemplo.” No cenário atual, para uma pessoa mais idosa, Sharon recomenda uma carteira bem conservadora. Um ganhador mais novo, em contrapartida, pode pensar em tomar mais risco.

“Uma das piores coisas é a pessoa não saber qual seu perfil de investidor”, afirma. “Por mais que o valor do prêmio seja alto e o cliente queira ser arrojado em uma parcela do investimento, não adianta nada se aquela parte trouxer sofrimento a ponto de querer liquidar a aplicação no meio do caminho.”

Publicidade

Ganhar uma “bolada” de uma só vez pode depender da sorte de acertar as dezenas da Mega da Virada – mas não acontece apenas nessa situação. Quem recebe uma herança ou vende um negócio que deu certo também pode se ver diante da decisão sobre o que fazer com essa pequena fortuna.

InfoMoney consultou especialistas sobre as alternativas de alocação de recursos considerando o recorte tradicional de perfis de investidor: conservador, moderado e arrojado.

Pollyanna Gondin, consultora da Genial Investimentos, destaca que, atualmente, existe uma grande incerteza e forte volatilidade nos mercados, tanto no Brasil quanto no exterior. Por isso, não recomenda correr riscos muito elevados. Além de olhar o cenário econômico, ela ressalva a importância de refletir sobre o objetivo do investimento e horizonte da aplicação.

Continua depois da publicidade

“Se os planos para o dinheiro alcançam apenas um ou dois anos, por exemplo, o ideal é ficar nas alternativas mais conservadoras e com alta liquidez”, comenta.

Com isso em mente, o ganhador deve procurar uma instituição ou um profissional qualificado, em que confie, e planejar como será a administração dos recursos. Se já for investidor, será o momento ideal para conversar com seu banco ou corretora e rever o portfólio. Confira as indicações dos especialistas:

Investidor conservador

Para os que se encaixam nesse perfil, Pollyanna recomenda alocar pelo menos 60% da carteira em renda fixa e o restante distribuir em fundos multimercado.

Publicidade

Ela alerta sobre para a importância da diversificação, mesmo nas alternativas menos arriscadas, escolhendo ativos relacionados ao CDI (indicador de referência para investimentos em renda fixa), uma parte em aplicações que protejam da inflação (os tradicionais IPCA mais uma taxa de juros prefixada) e também selecionar papéis de crédito privado.

Em alguns casos, nos quais o aplicador se sentir mais confortável, considera natural a escolha de distribuir 100% dos recursos em ativos de renda fixa, levando em conta a expectativa de taxas de juros ainda bastante elevadas no país, “pelo menos até o meio do ano que vem”. A Selic está encerrando 2022 no patamar de 13,75% ao ano, o que favorece investimentos atrelados ao CDI.

Investidor moderado

Para esse público, a consultora da Genial indica distribuir os recursos metade em renda fixa e metade em multimercados, sem nada em renda variável, em razão da turbulência atual. E quanto aos investimentos alternativos, como criptomoedas? “Menos ainda. Não recomendamos, considerando o momento, pois são opções mais voláteis do que a própria Bolsa.”

Segundo ela, é preciso considerar que R$ 500 milhões é uma quantia muito expressiva, que permite obter uma boa remuneração sem a necessidade de correr grandes riscos.

“Se o investidor quiser separar uma pequena parcela para ativos mais arriscados, de R$ 10 milhões, por exemplo, é preciso pensar que esse valor estará sujeito a fortes oscilações e não deve ser sacado no curto prazo”, afirma.

Investidor arrojado

Nessa categoria, Pollyanna conta que existem clientes com até 90% em renda variável, mas são pouquíssimos. “Em geral, são pessoas com muitos recursos e que não vão precisar de capital tão cedo.”

Para o público em geral, por conta do cenário nebuloso, ela indica para esse perfil uma parcela de aproximadamente 15% em renda variável e 45% em multimercados. O restante ficaria alocado em renda fixa.

“Para quem pode se alavancar dessa maneira, como o risco é muito alto, existe também a possibilidade de ganhos relevantes em um curto espaço de tempo”, diz a especialista, lembrando que as ações da Vale (VALE3), por exemplo, registraram alta de 27,8% apenas em novembro.

E quanto renderia?

Considerando a estimativa de um prêmio de R$ 500 milhões, uma aplicação atrelada ao CDI (que está em 13,65% ao ano atualmente) renderia R$ 52,9 milhões em 12 meses, segundo a Blackbird. O cálculo já desconta uma alíquota de 22,5% de Imposto de Renda, a mais alta da tabela regressiva adotada nos investimentos de renda fixa.

O volume é quase 34% maior do que se o ganhador não quiser ter trabalho algum e simplesmente depositar o dinheiro na poupança (que rende 7,9% ao ano nos dias de hoje). A caderneta traria retorno de R$ 39,5 milhões no mesmo intervalo de tempo.

“Mas poupar não é sinônimo de caderneta de poupança, e sim de escolher investimentos”, ressalta Pollyanna, da Genial.

Não caia em armadilhas

Outro alerta das especialistas é quanto a “roubadas” que o ganhador pode encontrar pelo caminho, sobretudo quando as cifras são elevadas. “Sempre que o investidor se deparar com uma oferta de rendimento muito alto, deve pesquisar mais”, afirma Pollyanna.

Segundo ela, é preciso aceitar que, uma vez de posse de um recurso tão elevado, torna-se quase obrigatório buscar informações financeiras e o auxílio de uma consultoria especializada. “Isso fará com que, diante de uma oferta muito fora do padrão, a pessoa consiga ligar o sinal de alerta.”

“Promessa de remuneração elevada em pouco tempo é a senha para cair em furadas”, reforça Sharon Halpern, da Blackbird. “Primeiro, porque não se pode garantir rentabilidade. E segundo, porque algo nessa natureza teria que embutir um risco de crédito muito alto, e o cliente pode perder tudo.”

Ativos muito voláteis, ou alternativos, também podem atrair pelo histórico de alto rendimento, mas não necessariamente atender aos anseios do investidor que não está acostumado com essa modalidade. Tudo isso sem falar que rentabilidade passada não é garantia de retorno futuro, outro princípio básico.

“Não se pode cair na velha armadilha: se fulano ganhou 5% em um mês, eu também posso”, diz Sharon. “O outro pode ter estômago para aguentar [a alta volatilidade] e você, não.”

Gastar também é preciso

Cuidar bem do dinheiro é essencial, mas o sortudo que ganhar na Mega da Virada, sozinho ou acompanhando, não precisa ter na agenda apenas consultorias de investimento, projeções financeiras e análises de risco. Pode, e deve, reservar uma fatia dos recursos para colocar em prática um sonho de consumo ou algo que o valha, dizem os analistas.

Nesse sentido, seria o momento, por exemplo, de investir na melhor viagem da vida, em um imóvel de alto padrão ou em um carro muito desejado. Ainda assim, é preciso tomar cuidado com o salto de padrão de consumo.

“Não dá para sair comprando coisas que eventualmente você não compraria, que estão fora daquilo que a pessoa sempre sonhou em ter”, diz Sharon, da Blackbird.

Márcio Anaya

Jornalista colaborador do InfoMoney