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Títulos da dívida argentina despencam após vitória de Javier Milei nas primárias

Papéis soberanos caem 12,5%, para US$ 0,28. Analistas consideram radicais as ideias econômicas do candidato

Ana Paula Ribeiro

Javier Milei, Argentina (Foto: Bloomberg)

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Os mercados estão reagindo de forma negativa à vitória, no domingo (13), do congressista de extrema-direita Javier Milei nas prévias das eleições presidenciais na Argentina. Os títulos soberanos do país chegar a cair 12,5%, de um valor de face de US$ 0,32 para US$ 0,28, considerando aqueles com vencimento em 2046, segundo a Bloomberg.

Os papéis da dívida argentina são negociados em situação de estresse rotineiramente, dada a situação econômica do país, mas vinham em um movimento de alta nas últimas sessões.

A vitória de Milei, com 30% dos votos, surpreendeu os analistas. As eleições ocorrem em 22 de outubro, mas as prévias servem para indicar quais candidatos participarão da disputa.

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Os demais candidatos são a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich, da coalizão de centro-direita Juntos pela Mudança, e o candidato da coalização peronista Sergio Massa, atual ministro da Economia. Eles obtiveram, respectivamente, 28% e 27% dos votos. A abstenção ficou em cerca de 30%, a maior desde que a Argentina adotou as primárias, há mais de 10 anos.

A reação negativa ao nome de Milei está ligada às suas ideias econômicas: ele defende a dolarização da economia, o fim do Banco Central e tem um forte discurso contra medidas de cunho social. A Argentina possui uma inflação que passa dos 100% neste ano e o candidato afirma que dolarizar o país será suficiente para domar a alta dos preços — o que economistas rechaçam.

Peso afunda mais

Na esteira do resultado, o peso argentino interbancário caiu 17,9%, para 350,05 pesos argentinos por dólar. Movimento similar ocorreu no mercado de câmbio informal, chamado de “blue”, em que o peso sofreu uma desvalorização de quase 9,7%, ficando cotado em uma faixa entre 650 a 670 pesos por dólar.

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Também em resposta a essa turbulência pós-prévias eleitorais, o Banco Central da Argentina (BCRA) elevou a taxa de juros em 21 pontos percentuais, para 118% ao ano.

Com baixo volume de reservas e inflação na casa de três dígitos, a economia argentina enfrenta há alguns anos uma forte crise que levou o governo a impor um controle de capitais.

Falta de experiência

Em entrevista à Bloomberg, Mariano Machado, analista da Verisk Maplecroft, destacou a falta de experiência executiva de Milei e diz que a reação dos mercados pode ser um sinalizador da crise que um próximo governo deverá enfrentar.

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“A falta de experiência executiva de Milei aumenta o risco de um ajuste econômico desordenado, incluindo uma possível grande crise social pós-dezembro. Em um país com índice de pobreza de 40%, um grande aumento do desemprego ou da informalidade aumentaria a pressão social. Essa agitação poderia atingir níveis semelhantes aos do início dos anos 2000, que estabeleceram novos recordes de risco político, social e de segurança para os investidores”, avalia.

Para vencer as eleições previstas para 22 outubro, um candidato precisa de 45% dos votos ou 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado, desde que supere 40%. Se isso não ocorrer, um segundo turno será realizado em 19 de novembro.

“O que nos resta é um cenário muito mais incerto do que esperávamos”, disse Ricardo Delgado, diretor da consultoria econômica argentina Analytica, em entrevista à Reuters.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney