Tesouro Direto: retorno perde fôlego e título público mais rentável de 2019 tem queda de preço em julho

No mês passado, 6 de 9 papéis disponíveis para compra registraram apreciação, dos quais apenas 3 superaram a alta de 0,84% do Ibovespa

Beatriz Cutait

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SÃO PAULO – Depois da expressiva queda das taxas de juros ao longo dos últimos meses, o movimento dos títulos públicos negociados via Tesouro Direto perdeu força em julho, ainda que a maior parte dos papéis tenha apresentado valorização de preços.

No mês passado, seis de nove papéis disponíveis para compra registraram apreciação – com destaque para os com rendimentos prefixados –, dos quais apenas três superaram a alta de 0,84% do Ibovespa e cinco bateram a variação de 0,57% do CDI, o referencial das aplicações mais conservadoras.

Mais simbólico, os preços de três títulos públicos caíram em julho. O Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2035 teve queda de 0,28%, o Tesouro IPCA+ 2035, de 1,04%, e o Tesouro IPCA+ 2045, papel que acumula a maior valorização em 12 meses, teve perda de 1,99% no mês passado, segundo informações da B3.

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Embora o Banco Central tenha reiniciado o ciclo de corte de juros, com a queda anunciada ontem de 0,50 ponto percentual da taxa Selic, para 6% ao ano, o mercado já vem há algum tempo se preparando para o movimento. Isso porque a inflação não tem dado sinais de aceleração, assim como o nível de atividade econômica segue fraco e a taxa de desemprego, alta.

Apesar da sinalização de mudança de rumo de julho, os títulos públicos continuam a acumular ganhos expressivos de dois dígitos no ano, bem distantes do CDI e até da Bolsa brasileira. Em 2019 e nos últimos 12 meses, seis papéis sobem mais que o Ibovespa (com alta de 15,84%, no ano, e de 28,52%, em 12 meses), com destaque para o Tesouro IPCA+ com vencimento em 2045, com ganhos respectivos da ordem de 45% e 80%, nos períodos mencionados.

Vale lembrar que os preços dos títulos públicos oscilam diariamente e o investidor só garante os retornos mencionados se decidir vender os títulos antecipadamente, isto é, antes do vencimento.

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Confira as rentabilidades dos títulos públicos, do Ibovespa e do CDI em julho, em 2019 e nos últimos 12 meses:
Título Vencimento Taxa de compra Taxa de venda Rentabilidade em julho* Rentabilidade em 2019* Rentabilidade em 12 meses*
Tesouro Prefixado  01/01/2022 5,84% 5,96% 1,34%
Tesouro Prefixado 01/01/2025 6,83% 6,95% 1,92% 17,07% 34,51%
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 01/01/2029 7,16% 7,28% 2,09% 17,46% 35,79%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2026 3,06% 3,18% 0,61% 13,17% 22,81%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/05/2035 3,48% 3,60% -0,28% 20,04% 33,21%
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 15/08/2050 3,63% 3,75% 0,48% 26,06% 44,03%
Tesouro IPCA+ 15/08/2024 2,89% 3,01% 0,82% 12,83% 21,80%
Tesouro IPCA+ 15/05/2035 3,60% 3,72% -1,04% 28,41% 48,16%
Tesouro IPCA+ 15/05/2045 3,60% 3,72% -1,99% 45,53% 79,75%
Ibovespa 0,84% 15,84% 28,52%
CDI 0,57% 3,66% 6,35%

*Os dados correspondem a retornos brutos
Fonte: B3

O que esperar de agora em diante?

Com tamanho ajuste no mercado de juros, ainda é interessante para o investidor pessoa física investir em renda fixa?

Para Sergio Silva, gestor de renda fixa da AZ Quest, sim, ainda existem oportunidades, mas o investidor precisa começar a olhar para seus investimentos em um horizonte de maior prazo. “Tanto para Bolsa quanto para a renda fixa, para capturar algum ganho significativo, a gente tem que deixar as aplicações por um tempo maior. É uma mudança cultural”, diz.

O gestor diz que continua a gostar de papéis indexados à inflação (anteriormente chamados de NTN-Bs), especialmente os com vencimentos no médio prazo, em torno de 2022 e 2023. Ainda que esses papéis não sejam negociados no Tesouro Direto, investidores podem ter acesso a eles por meio do mercado secundário ou investindo em fundos com alocação nos títulos.

Silva, contudo, reforça que se trata de uma estratégia de maior maturação, numa nova “normalidade”. “Consigo ver ganhos tanto na parte curta quanto na média e na longa da curva de juros, mas é um trade mais de paciência para ter ganho de capital. Se o investidor quiser retornos maiores, vai ter que tomar mais riscos.”

De agora em diante, o brasileiro deve ter um perfil diferente, menos especulativo, especialmente diante da mudança do fundamento brasileiro, ressalta o gestor.

Na avaliação de Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor de portfólio de renda fixa da Novus Capital, as oportunidades adicionais na renda fixa vão depender de certa forma do timing de queda dos juros que o Banco Central vai implementar.

“Ainda tem algum prêmio na parte intermediária, de 2021 e 2022, nos papéis prefixados e também nas NTN-Bs. Mas acho que, daqui para frente, são outros mercados que vão posicionar mais ganhos”, avalia. “Entre comprar uma NTN-B 2050 com 3,65% de retorno ou Bolsa a 102 mil pontos, acho que o investidor vai ter mais ganho comprando Bolsa.”

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.