Tesouro Direto: taxas fecham mistas com câmbio e risco fiscal

Títulos de inflação voltam a pagar mais de 6% ao ano; prefixados oferecem até 12,95% ao ano

Katherine Rivas

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Em dia de forte volatilidade, as taxas dos títulos públicos fecharam mistas na tarde desta quarta-feira (29).

Segundo Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, a volatilidade no mercado de juros ocorre por conta da percepção do risco fiscal envolvendo o parecer da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Combustíveis. A estimativa é que o impacto fiscal da PEC seja de R$ 38,7 bilhões, fora do teto de gastos, mas ainda abaixo dos R$ 50 bilhões estimados pelo mercado.

Inicialmente o mercado leu favoravelmente este parecer e começou a tirar os prêmios da curva de juros durante a manhã, explica Costa. Contudo, no período da tarde, surgiram dúvidas sobre a possibilidade do Auxílio Brasil – que teve um aumento de R$ 200 para R$ 600 – ficar neste valor de forma permanente nos próximos anos, em consequência as taxas avançaram.

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Mas no final do dia, a curva foi auxiliada pela queda do câmbio. O dólar fechou em queda de 1,38%, cotado a R$ 5,1916. “As taxas de juros devolveram ganhos acompanhando a apreciação do real”, explica Costa.

Para o economista-chefe da Monte Bravo Investimentos as taxas de juros devem melhorar quando o mercado digerir as questões fiscais em relação a PEC, enxergando que de fato o gasto vai permanecer nos R$ 38,7 bilhões anunciados. Para as próximas sessões, contudo, a expectativa é de volatilidade nas taxas de juros e títulos públicos.

Costa também destaca dados do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), que veio abaixo do mercado. O IGP-M subiu 0,59% em junho, enquanto as projeções do mercado esperavam alta de 0,69%. “Preços agrícolas estão com sazonalidade favorável neste momento provocando este efeito”, diz.

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No radar do mercado e com potencial de impactar futuras sessões, estão os dados da inflação americana (CPI) que devem ser divulgados nesta quinta-feira (30).

Dentro do Tesouro Direto, o Tesouro Prefixado 2025 apresentou movimento de alta nas taxas de 2 pontos-base. O título público oferecia às 17h42 um retorno anual de 12,90%, superior aos 12,88% vistos ontem.

Na contramão, as taxas do Tesouro Prefixado 2029 recuaram. O título público fechou o dia com uma rentabilidade anual de 12,95%, inferior aos 12,97% registrados na terça-feira (28).

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O Tesouro Prefixado 2033 se encontra com negociações suspensas, devido ao pagamento do cupom semestral, previsto para o dia 1º de julho. A razão é que o Tesouro Direto costuma proibir a compra do título quatro dias úteis antes do pagamento de cupom de juros. Além disso, também ficará suspensa, a partir dos dois dias úteis anteriores ao pagamento do cupom, a recompra desses títulos.

Nos títulos atrelados à inflação, a maioria das taxas avançava entre 2 e 9 pontos-base.

A maior alta era na taxa do Tesouro IPCA+ 2026. O título público oferecia um ganho real de 5,73% às 17h42, acima dos 5,64% da sessão anterior.

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As taxas dos títulos com vencimento em 2035 e 2045 fecharam estáveis.

O Tesouro IPCA+ 2055 oferecia o maior ganho real entre os títulos, de 6,01%.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quarta-feira (29):

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Fonte: Tesouro Direto

IGP-M

O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) subiu 0,59% em junho, uma leve aceleração em relação à alta de 0,52% em maio, informou a Fundação Getulio Vargas (FGV) nesta quarta-feira (29).

Com maior pressão no varejo e uma alta mais fraca no atacado, o resultado ficou abaixo da expectativa do mercado (o consenso Refinitiv projetava alta de 0,69%).

Agora, o índice acumula alta de 10,70% em 12 meses.

PEC dos Auxílios

O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) protocola, nesta quarta-feira (29), seu relatório para a agora chamada Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Auxílios.

O texto representa a nova ofensiva do governo Jair Bolsonaro (PL) a menos de 100 dias das eleições e marca uma mudança de rota em relação à ideia inicial com a PEC 16/2022, que previa compensações pelo governo federal a estados que zerassem o ICMS sobre óleo diesel e gás de cozinha.

A chamada PEC dos Combustíveis previa um auxílio financeiro de até R$ 29,60 bilhões aos estados que aceitassem: 1) zerar a alíquota de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) cobrada sobre o óleo diesel e o gás de cozinha; 2) reduzir para 12% a alíquota do tributo sobre o etanol hidratado.

A ideia havia sido anunciada às pressas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em comunicado à imprensa, três semanas atrás, no Palácio do Planalto. Em meio às resistências entre parlamentares e governadores ao plano e aos riscos de judicialização e de menor efetividade na redução de preços dos combustíveis ao consumidor, o mandatário recuou.

O substitutivo, a ser protocolado até as 11h (horário de Brasília), mantém apenas a previsão de compensação financeira à cadeia produtiva do etanol, na tentativa de possibilitar a competitividade desse produto frente ao diesel. O impacto fiscal estimado para esta medida é de R$ R$ 3,8 bilhões. Os outros pontos da PEC 16/2022 foram deixados de lado.

No lugar da zeragem de ICMS, o relatório inclui um aumento de R$ 200,00 nos repasses mensais do Auxílio Brasil (programa que substitui o Bolsa Família desde dezembro de 2021), que passariam a uma média de R$ 600,00 – mesmo patamar do auxílio emergencial no período mais crítico da pandemia de Covid-19. E ainda a zeragem da fila de beneficiários do programa, com 1,6 milhão de famílias incluídas. O custo, neste caso, seria de outros R$ 26 bilhões.

A proposta também passará a contar com um reajuste do auxílio-gás, de modo a garantir a compra de um botijão a cada dois meses, a um custo de R$ 1,05 bilhão, além da criação do “voucher caminhoneiro”, para o abastecimento de diesel, no valor de R$ 1.000,00, para transportadores autônomos, com valor estimado em R$ 5,4 bilhões até o fim do ano.

Há ainda compensação para gratuidade no transporte coletivo para idosos, a um custo de R$ 2,5 bilhões. Todas as medidas valem apenas até o final de 2022.

Com isso, a PEC dos Auxílios vai prever autorização para despesas de R$ 38,75 bilhões fora do teto de gastos. Como forma de conciliar as despesas com as regras fiscais vigentes, o texto deverá reconhecer o estado de emergência em decorrência dos preços de combustíveis. Os efeitos, neste caso, ficariam restritos às medidas previstas na PEC.

O relator Fernando Bezerra Coelho, que foi líder do governo no Senado Federal até dezembro de 2021, anunciou, em coletiva de imprensa realizada nesta manhã, que seu substitutivo será vinculado à PEC 1/2022, e não mais à PEC 16/2022, pela maior correlação dos temas presentes no novo relatório.

Powell

O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, reiterou nesta quarta-feira, 29, que a economia dos Estados Unidos está em “boa posição” e pode conseguir enfrentar o processo de aperto das condições financeiras, em meio ao aumento de juros. Durante Fórum do Banco Central Europeu (BCE), em Sintra (Portugal), Powell comentou que um dos objetivos do aumento das taxas básicas é moderar o crescimento econômico, com intuito de equilibrar as dinâmicas de oferta e demanda.

O dirigente entende que “ainda há um caminho” para controlar a inflação sem causar significativo avanço do desemprego – o chamado “pouso suave”. No entanto, Powell reconheceu que os eventos recentes tornaram essa tarefa mais desafiadora, particularmente a guerra na Ucrânia.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.