Tesouro Direto: taxas operam sem direção única com cenário externo e risco fiscal

Prefixados oferecem até 12,74%; Campos Neto esclarece significado de “ao redor" da meta

Katherine Rivas

Ilustração sobre juros (Shutterstock)

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As taxas dos títulos públicos operam mistas na tarde desta quinta-feira (23). Prefixados oferecem até 12,74% ao ano, enquanto nos títulos atrelados à inflação o ganho real chega a 5,90%.

Segundo Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora, o movimento das taxas de juros hoje é majoritariamente global, após uma sequência de declarações de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) na Câmara americana. A mensagem de Powell, segundo Velloni, é que talvez o aumento dos juros não seja eficaz para resolver o problema da inflação, por conta do custo das matrizes energéticas.

“A justificativa do Fed é o aumento do custo das matrizes energéticas e do petróleo, que deixa o preço dos combustíveis extremamente elevado. Os combustíveis entram diretamente na função de inflação e no custo de produção, o que poderia levar os Estados Unidos à crise no ano que vem”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora.

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Com a sinalização de uma recessão da economia americana, outras nações acabam revisando para baixo o seu crescimento. Velloni cita ainda os impactos do mercado europeu na curva de juros. O economista destaca dados do PMI (índice de gerentes de compras) que recuaram, ajudando nas revisões para baixo do crescimento europeu.

O PMI composto da zona do euro, que engloba os setores industrial e de serviços, caiu de 54,8 em maio para 51,9 em junho, atingindo o menor nível em 16 meses, segundo dados preliminares divulgados nesta quinta-feira pela S&P Global.

Na cena local, pesa também o noticiário fiscal. Victor Cândido, economista-chefe da RPS Capital destaca uma possível articulação de estado de emergência e a criação de um auxílio para caminhoneiros e motoristas. “Tudo isso tem impacto fiscal.”, afirma. Ele destaca também os efeitos da publicação de uma pesquisa eleitoral nos mercados.

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Os investidores acompanharam também as falas de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, que deu uma entrevista coletiva mais cedo sobre política monetária. Ele enfatizou que a autoridade monetária persegue uma inflação abaixo de 4% no fim de 2023 e que esse seria o recado da frase “ao redor” da meta no comunicado e ata do Copom (Comitê de Política Monetária).

Dentro do Tesouro Direto, o Tesouro Prefixado 2025 apresentava queda nas taxas. O título público oferecia às 15h23 um retorno anual de 12,36%, abaixo dos 12,39% vistos ontem.

Na contramão, a taxa do Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, avançava. O título público entregava um retorno anual de 12,74%, superior aos 12,70% registrados na quarta-feira (22).

No Tesouro Prefixado 2029, o movimento era de estabilidade nas taxas.

Nos títulos atrelados à inflação, as taxas recuavam entre 2 e 4 pontos-base. Apenas o título público com vencimento em 2055 permanecia estável.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (23): 

Fonte: Tesouro Direto

Campos Neto

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, enfatizou que a autoridade monetária persegue uma inflação abaixo de 4% no fim de 2023 e que é esse o recado que quis dar ao incluir a expressão “ao redor” da meta no comunicado e na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

“O Comitê avalia, com base nas projeções utilizadas e seu balanço de riscos, que a estratégia requerida para trazer a inflação projetada em 4% para o redor da meta no horizonte relevante conjuga, de um lado, taxa de juros terminal acima da utilizada no cenário de referência e, de outro, manutenção da taxa de juros em território significativamente contracionista por um período mais prolongado que o utilizado no cenário de referência”, afirmou a ata, divulgada na terça-feira.

Nesta quinta-feira, Campos Neto disse, em entrevista coletiva, que o BC tem comunicado entender que juros podem ficar mais altos no horizonte relevante e que a estratégia é atingir um número “ao redor da meta em 2023. “Ao redor é menos de 4%. Entendemos que precisamos atuar para que inflação seja abaixo de 4% em 2023”, afirmou.

O diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen acrescentou que a expressão “ao redor” foi utilizada porque há incertezas em relação ao comportamento da inflação até o próximo ano e, por isso, o BC optou por não estipular um número a ser perseguido. “Determinar se é 0,1 p.p ou 0,2 p.p vai contra isso”, completou. Campos Neto disse ainda que a estratégia do BC será reavaliada a cada reunião do Copom e que o foi comunicado não é um “foward guidance“. “Não é um compromisso, é uma transparência de estratégia”, completou Guillen.

PMI

O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto da zona do euro, que engloba os setores industrial e de serviços, caiu de 54,8 em maio para 51,9 em junho, atingindo o menor nível em 16 meses, segundo dados preliminares divulgados nesta quinta-feira pela S&P Global.

Apesar da queda, a leitura acima da marca de 50 mostra que a atividade do bloco segue se expandindo neste mês, ainda que em ritmo mais contido.

A prévia de junho, no entanto, ficou abaixo da expectativa de analistas consultados pelo Wall Street Journal, que previam declínio do PMI composto a 53,9.

Apenas o PMI industrial da zona do euro recuou de 54,6 para 52 no mesmo período, tocando o menor patamar em 22 meses. Neste caso, o consenso do mercado era de redução a 53,8. Já o PMI de serviços do bloco diminuiu de 56,1 em maio para 52,8 em junho. A projeção de analistas era de baixa a 55,5.

Gasto público

Sob pressão para dar aval às medidas articuladas pelo Congresso e o Palácio do Planalto para criar um auxílio caminhoneiro e ampliar o vale gás a famílias de baixa renda neste ano eleitoral, o Ministério da Economia está avaliando o custo das iniciativas e trabalha para limitar o impacto aos cofres públicos, segundo cinco fontes familiarizadas com o assunto ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Números preliminares apresentados pelas fontes apontam para um gasto entre R$ 4 bilhões e R$ 6 bilhões neste ano com os dois benefícios. A diretriz do ministério, segundo duas pessoas que acompanham as negociações, é que a soma dessas medidas com o pacote já anunciado para desonerar combustíveis não fique muito acima de R$ 50 bilhões.

O plano prevê que os benefícios sejam incluídos na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que tramita no Legislativo para reduzir a tributação sobre combustíveis. Será criada uma exceção ao teto de gastos para que essas despesas não sejam contabilizadas na regra fiscal, ideia que anteriormente era combatida pela equipe econômica.

As fontes afirmaram que o formato final das medidas ainda não está definido. Uma delas acrescentou que o Ministério da Economia não cuidará da formulação dos benefícios e que a elaboração está sendo feita pelo Congresso.

Uma das hipóteses mencionadas para o vale caminhoneiro, por exemplo, prevê um gasto de R$ 3 bilhões  se o valor do benefício ficar em R$ 600 mensais. Outra fonte afirmou que um benefício de 1.000 reais mensais caberia no Orçamento se fosse pago a 600 mil caminhoneiros, ponderando que essa não é uma hipótese colocada pela equipe econômica.

Uma das autoridades disse que o ministro da Economia, Paulo Guedes, havia estabelecido limites para a liberação desses recursos. Segundo essa pessoa, os tetos seriam de R$ 4 bilhões para os caminhoneiros e R$ 2 bilhões para o auxílio gás. Nesse caso, o custo total do pacote, somado aos cortes de tributos, ficaria em aproximadamente R$ 52 bilhões.

Inflação da cesta básica

Os preços dos alimentos que compõem a cesta básica no País tiveram aumento de 26,75% nos últimos 12 meses até maio e subiram mais do que o dobro da inflação oficial do país, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), de 11,73% no mesmo período.

O resultado é um retrato de como a inflação tem elevado o custo de itens essenciais e prejudicado o orçamento das famílias, especialmente as mais pobres.

Os dados fazem parte de estudo liderado pelo economista Jackson Teixeira Bittencourt, coordenador do curso de Ciências Econômicas PUC-PR, que desenvolveu o Índice de Inflação da Cesta Básica.

O indicador mede a evolução dos preços de 13 alimentos essenciais que fazem parte do consumo mensal dos brasileiros: arroz, feijão, farinha, batata inglesa, tomate, açúcar cristal, banana prata, contrafilé, leite longa vida, pão francês, óleo de soja, margarina e café em pó.

Somente no mês de maio, a alta da cesta básica foi de 0,71% sobre abril e também ficou acima do resultado do IPCA para o mês, que teve alta de 0,47%.

Para chegar aos números, o grupo levou em conta as despesas de consumo das famílias nas áreas urbanas, com renda de 1 a 40 salários mínimos, e analisou as variações mensais e o acumulado de 12 meses dos preços dos produtos.

Auxílio Desemprego nos EUA

Os pedidos de auxílio-desemprego nos EUA atingem 229 mil na semana até 18 de junho. O resultado ficou acima da expectativa de analistas consultados pela Reuters, que previam 227 mil solicitações.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.