Tesouro Direto: taxas dos títulos prefixados avançam até 27 pontos-base com IPCA e Treasuries

Agentes de mercado revisaram para cima projeções para inflação em 2022; Prefixados oferecem até 11,87%

Katherine Rivas

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As taxas dos títulos públicos continuam em ritmo de alta na tarde desta sexta-feira (8). As taxas dos títulos prefixados avançam até 27 pontos-base, enquanto alguns títulos atrelados à inflação sobem até 6 pontos-base.

Segundo Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura, a forte alta nas taxas curtas representa o mercado ajustando as apostas nos próximos passos do Copom (Comitê de Política Monetária).

Muitas casas já revisaram para cima as suas projeções para a inflação deste ano, após o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subir 1,62% em março. Em 12 meses, a inflação chegou a 11,30%.

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Borsoi explica que o mercado experimentou um choque de realidade, porque vinha operando nos últimos dias na expectativa de que o Copom coloque um fim ao ciclo de alta nos juros. Expectativa que foi alimentada também por sinalizações de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, e a adoção da bandeira verde nas contas de luz a partir de 16 de abril.

Ele aponta que embora o mercado passe um recado de alívio no curto prazo, pela adoção da bandeira verde, a perspectiva inflacionária segue desfavorável. Isso deve tornar mais difícil a tarefa do Copom de convencer os agentes de mercado de um possível fim no ciclo de alta dos juros em maio.

Nos juros longos, o economista avalia que as taxas avançam acompanhando os juros dos Estados Unidos. De acordo com Borsoi, os Treasuries voltaram a subir, por conta da aposta que o Federal Reserve vai precisar ser bem agressivo no processo de retirada de estímulos. O Treasurie de dez anos por exemplo já superava os 2,70%.

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No radar do mercado, os investidores monitoram ainda a redução nos preços do GLP (gás de cozinha) por parte da Petrobras, que deve tirar cerca de 0,08% do IPCA nos próximos 2 meses, segundo o economista.

Na agenda de indicadores tem também os dados da inflação dos Estados Unidos que devem ser divulgados na terça-feira (12).

Dentro do Tesouro Direto, as taxas dos títulos prefixados sobem com força. A maior alta é do Tesouro Prefixado 2025. O título público oferecia às 15h23 uma rentabilidade anual de 11,87%, superior aos 11,60% vistos na quinta-feira (7).

Enquanto o Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, apresentavam um retorno anual de 11,67% e 11,76%, respectivamente, acima dos 11,51% e 11,57% da sessão anterior.

Nos títulos atrelados à inflação, a maior alta era do Tesouro IPCA+ 2026. O título público oferecia um retorno real de 5,20%, acima dos 5,14%, registrados ontem.

Os outros títulos avançavam entre 2 e 5 pontos-base. Os títulos dos Tesouro IPCA+ com vencimento em 2035, 2045 e 2055 apresentavam estabilidade nas taxas.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta sexta-feira (8): 

IPCA de março

A inflação oficial no País, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), subiu 1,62% em março de 2022 na comparação com fevereiro, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta sexta-feira (8).

Esse foi o maior resultado para o mês de março desde 1994 (42,75%), antes da implantação do Real. No ano, o indicador acumula alta de 3,20% e, nos últimos 12 meses, de 11,30%, acima dos 10,54% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.

Os dados vieram acima do esperado. A estimativa de analistas consultados pela Refinitiv era de que o IPCA tivesse subido 1,30% em março ante fevereiro e 10,98% ante um ano antes.

Em março, os principais impactos vieram dos transportes (3,02%) e de alimentação e bebidas (2,42%). Os dois grupos, juntos, contribuíram com cerca de 72% do índice do mês. No caso dos transportes, a alta foi puxada, principalmente, pelo aumento nos preços dos combustíveis (6,70%), com destaque para gasolina (6,95%), que teve o maior impacto individual (0,44 p.p.) no indicador geral.

Por outro lado, houve queda 7,33% nos preços das passagens aéreas. “Isso porque a metodologia empregada no indicador considera uma viagem marcada com dois meses de antecedência. A variação reflete a coleta de preços feita em janeiro para viagens realizadas em março.

O grupo habitação (1,15%) teve aumento por conta do gás de botijão (6,57%), cujos preços subiram devido ao reajuste de 16,06% no preço médio de venda para as distribuidoras, em março. A alta de 1,08% da energia elétrica também contribuiu para o resultado do grupo, principalmente por causa do reajustes de 15,58% e 17,30% nas tarifas de duas concessionárias de energia no Rio de Janeiro.

Petrobras e GLP

A Petrobras (PETR3;PETR4) informou nesta sexta-feira (8) que vai reduzir o preço do gás de cozinha, ou gás liquefeito de petróleo (GLP), em 5,6%, a partir de amanhã, dia 9 de abril.

Dessa forma, o preço médio de venda de GLP da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 4,48 para R$ 4,23 por kg, equivalente a R$ 54,94 por 13kg, refletindo redução média de R$ 3,27 por 13 kg.

“Acompanhando a evolução dos preços internacionais e da taxa de câmbio, que se estabilizaram em patamar inferior para o GLP, e coerente com a sua Política de Preços, a Petrobras reduzirá seus preços de venda às distribuidoras”, escreveu a empresa em nota.

Aperto monetário

Em um único mês, o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) variou quase metade da meta de inflação para o ano todo (que é de 3,5%). A alta de 1,62% do índice em março não só ficou acima do previsto, como também foi a maior em 28 anos. Com a divulgação do dado, as chances do Banco Central subir juros pela última vez na próxima reunião, em maio, foram ainda mais reduzidas, de acordo com os economistas

O Morgan Stanley não acredita que o IPCA de março mudará os planos do Comitê de Política de Monetária (Copom) na próxima reunião. Os juros devem subir em 1 ponto percentual conforme o previsto para o encontro, mas o ciclo de aperto monetário deve seguir em junho, com uma Selic terminal de 13%, conforme as previsões do banco.

Outras casas fazem projeções ainda mais agressivas. “A leitura preliminar dos dados reforça a perspectiva de que a autoridade monetária terá que de fato subir a Selic também na reunião de junho. Ou seja, teremos uma alta de 100 pontos base em maio, fazendo os juros subirem para 12,75% e mais outra de pelo menos 50 pontos em junho o que fará a taxa chegar em 13,25%”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Necton.

A Rio Bravo elevou as projeções para o IPCA de 2022, de 6,5% para 7,2%. O índice de março reforçou a expectativa da gestora  de que o ciclo de altas da Selic só deve ser concluído na região de junho, com juros a 13,25% ao ano.

“ A inflação permanece surpreendendo o mercado brasileiro. Por mais uma vez, o índice superou as expectativas e apresentou um qualitativo ainda bastante ruim. Alimentos e Transportes, dois grupos impactados pelos efeitos da guerra nas commodities foram os maiores contribuintes para a aceleração da inflação na economia brasileira”, aponta o economista Luca Mercadante.

Gustavo Arruda, chefe de pesquisa econômica para América Latina do BNP Paribas, acredita que o desempenho do IPCA de março não será apenas um número isolado, com pressões contínuas, sobretudo, no núcleo da inflação. Diante disso, ele diz que o o BC deve continuar subindo juros até agosto.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.