Tesouro Direto: após suspensão, taxas recuam com fala de Campos Neto; papéis de inflação oferecem juros próximos de patamares vistos em dezembro

Prefixados entregavam até 11,77%; Tesouro IPCA+ 2026 apresentava um retorno real inferior a 5%

Bruna Furlani Katherine Rivas

(Getty Images)

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As taxas dos títulos públicos operam em forte queda na tarde desta sexta-feira (25). As taxas dos papéis prefixados recuam até 24 pontos-base (0,24 ponto percentual), enquanto alguns títulos atrelados à inflação voltam a patamares vistos em dezembro do ano passado.

A forte volatilidade nos preços e taxas durante o dia levou o Tesouro Nacional a suspender as negociações no fim da manhã.

Quando isso ocorre, a autarquia interrompe temporariamente as negociações para evitar que o investidor feche transações que não reflitam corretamente as condições do mercado de títulos públicos. Nesse caso, investidores só podem comprar e vender títulos como o Tesouro Selic. 

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Segundo Bruno Martins, gestor de renda fixa da Warren, o mercado reflete as declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto sobre a trajetória da Selic. Em evento virtual, Campos Neto reforçou que o ciclo de aperto monetário pode acabar em maio, com a Selic em 12,75% ao ano.

“Devido a defasagem da política monetária, os ajustes nas taxas de juros nos meses posteriores devem surtir efeito apenas em 2023, onde o Banco Central está confortável com o cenário base”, destaca Martins.

Segundo o gestor de renda fixa, a instituição monetária conseguiu ancorar o mercado com a sua narrativa, apesar da surpresa negativa do IPCA-15. A prévia da inflação teve alta de 0,95%, maior variação para um mês de março desde 2015.

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“O Banco Central, que foi duro no discurso, conseguiu ancorar a expectativa do mercado”, defende Martins.

O movimento fez a curva de juros DI recuar, enquanto as taxas dos títulos públicos também apresentaram forte queda.

Dentro do Tesouro Direito, o título prefixado de curto prazo era o que apresentava a maior queda nas taxas. O Tesouro Prefixado 2025 oferecia uma rentabilidade anual de 11,53% na última atualização desta sexta-feira (25), inferior aos 11,77% vistos ontem.

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Já o Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, entregavam um retorno anual de 11,67% e 11,77% às 15h21, abaixo dos 11,81% e 11,92% registrados na quinta-feira (24).

Nos títulos atrelados à inflação, a maior baixa era nas taxas do Tesouro IPCA+ 2026. O título público apresentava uma rentabilidade real de 4,93% hoje, abaixo dos 5,18% vistos ontem. A última vez que o título ofereceu este retorno foi no dia 16 de dezembro de 2021.

O Tesouro IPCA+ 2035 e o Tesouro IPCA+ 2045 registravam nesta sexta-feira um retorno real de 5,38%, respectivamente, abaixo dos 5,57% de ontem. As taxas se encontram em patamares muito próximos aos oferecidos em janeiro deste ano.

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As outras taxas dos títulos atrelados ao IPCA recuaram entre 14 e 20 pontos-base.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta sexta-feira (25): 

IPCA-15

O mercado acompanhou a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo -15 (IPCA-15) nesta sexta-feira (25). Segundo o IBGE, a variação de 0,95% é a maior para um mês de março desde 2015.

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O IPCA-E, acumulado do IPCA-15 no trimestre, ficou em 2,54% de janeiro a março, acima da taxa de 2,21% registrada em igual período de 2021. Em 12 meses, o IPCA-15 soma 10,79%, acima dos 10,76% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores. Em março de 2021, a taxa foi de 0,93%.

O principal destaque foi alimentos e bebidas com a maior variação (1,95%) e o maior impacto (0,40 p.p.), e aceleração em relação ao mês anterior (1,20%).

A alta dos alimentos foi puxada pelos aumentos dos preços de alimentos para consumo no domicílio (2,51%) devido a influência de fatores climáticos como estiagem no Sul e chuvas no Sudeste.

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O grupo saúde e cuidados pessoais, cujos preços subiram 1,30%, após a queda observada em fevereiro (-0,02%) teve o segundo maior impacto. Na sequência, vieram os transportes, com 0,15 p.p. de contribuição e alta de 0,68%). Juntos, os três grupos representaram cerca de 75% do impacto total do IPCA-15 de março.

Aperto monetário

O IPCA-15 de março e o choque de preços das commodities, intensificado pela guerra entre Rússia e Ucrânia, elevam a pressão sobre o Banco Central para que a Selic suba acima de 12,75% ao ano, apesar de a autoridade monetária ter deixado claro na ata do Copom e no RTI (Relatório Trimestral de Inflação) que pretende encerrar o ciclo de alta de juros na próxima reunião, em maio. Essa é a análise da maioria dos especialistas consultados pelo InfoMoney.

O Credit Suisse passou a projetar a Selic a 14% ao ano no fim de 2022 após o indicador (se chegar a esse nível, será o maior patamar desde outubro de 2016). “Acreditamos que a autoridade monetária precisará revisar seu cenário para a inflação e a Selic, provavelmente tendo que elevar os juros nominais para compensar o aumento esperado da inflação nos próximos meses”, disse o banco em nota.

O IPCA foi revisado de 7% a 7,8% neste ano, devido ao forte aumento no preço dos alimentos e à expectativa de que os preços de combustíveis continuarão subindo, e de 4% para 4,3% em 2023, considerando o impacto inercial da inflação deste ano — patamares muito acima da meta do BC.

Análise do Goldman Sachs sobre o IPCA-15 diz que “a inflação está agora não só muito alta como também altamente disseminada”. Tatiana Nogueira, economista da XP, afirma que, “após a divulgação de hoje, nossa projeção para o IPCA de março (atualmente em 0,97%) está em revisão”. “A projeção tem viés de alta, principalmente por conta dos preços dos combustíveis e cuidados pessoais”.

Fala de Campos Neto

O pico da inflação brasileira deve ocorrer em abril, tocando 11% no acumulado em 12 meses, disse nesta sexta-feira o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reforçando ser provável que a autoridade monetária esteja perto de encerrar seu ciclo de aperto com uma taxa Selic de 12,75% em maio.

Em seminário virtual organizado pelo Banco Central do Peru, Campos Neto disse que o mundo sairá dividido do conflito na Ucrânia, fazendo uma separação entre democracias e outros países. Para ele, o Brasil precisa estar do lado certo e aproveitar oportunidades.

Em fevereiro, a inflação ao consumidor brasileiro acelerou com força para o nível mais elevado para o mês em sete anos, com a taxa em 12 meses acima de 10,5%.

Na tentativa de debelar a alta de preços, o BC vem implementando um dos mais fortes apertos monetários do mundo. Na reunião de março do Comitê de Política Monetária (Copom), a taxa básica de juros foi elevada em um ponto percentual, a 11,75%, com indicação de novo ajuste da mesma magnitude em maio.

Campos Neto disse que esse ciclo de alta provavelmente será encerrado em 12,75%. Ele explicou que essa decisão pode ser repensada, com um ajuste adicional em junho, se a crise provocada pelo conflito na Ucrânia se agravar ou se houver alguma mudança brusca e não prevista no mercado.

“Nós deixamos porta aberta para a reunião de junho exatamente porque sabemos que há uma incerteza muito elevada sobre a extensão da crise”, disse, ponderando que esse cenário de um eventual ajuste adicional não é o mais provável.