Tesouro Direto: piso de prefixados vai a 12,39%, com alta de juros na Europa e nova regra fiscal

IPCA+2045, que na véspera tinha juro de 6,53%, hoje oferece retorno de 6,51%

Neide Martingo

Dollars.

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As atenções do mercado se voltaram, nesta quinta-feira (16), para o exterior. Um dos destaques é a crise dos bancos. A notícia positiva é que o Credit Suisse anunciou que pretende exercer a sua opção de tomar empréstimos de até 50 bilhões de francos suíços (US$ 53,68 bilhões) do Banco Nacional Suíço, por meio de uma linha de empréstimo coberta e uma linha de liquidez de curto prazo.

Os problemas com o banco suíço, assim como o que aconteceu com o Silicon Valley Bank, levantam uma grande questão, que são os juros, não só no Brasil, como também na Europa e Estados Unidos. Apesar da crise bancária, o Banco Central Europeu subiu, nesta quinta-feira (16) a taxa de juros em 0,50 pp, para 3,50% ao ano, como esperado.

No Brasil ainda se aguarda o novo arcabouço fiscal, que está agora nas mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve apresentar detalhes da nova âncora fiscal ao presidente na sexta-feira (17). Lula sinalizou que a divulgação deve ser feita antes de sua ida à China, prevista para o fim deste mês e que deverá contar com a presença de Haddad.

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O novo arcabouço fiscal já interfere nas projeções da Selic. De acordo com Alexandre Espirito Santo, economista chefe da Órama Investimentos, a apresentação antecipada do projeto, com movimentos do governo que sugerem que a proposta dará a atenção devida à responsabilidade fiscal, (déficit primário, estabilização da dívida/PIB), “indica que a nova regra tende a ser crível e palatável. Com a expectativa se concretizando, há alívio nas curvas de juros futuros, abrindo caminho para o Banco Central (BC) antecipar as reduções na taxa.”

“Com um cenário fiscal mais positivo, para o fim de 2023, revisamos nosso número de Selic de 12,75% para 12%”, ressalta Espírito Santo em relatório.

Outro destaque local é o Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10), que teve alta de 0,05% em março, ante taxa de 0,02% em fevereiro informou nesta quarta-feira (15) a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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No Tesouro Direto, às 15h28, o maior retorno era oferecido pelo Prefixado 2033, com 13,16% ao ano, abaixo dos 13,21% registrados nesta quarta-feira. O Prefixado 2029 apresentou igual taxa vista na véspera, de 13,11% ao ano e o Prefixado 2026 foi o único a apresentar alta, de 12,33% na sessão anterior para 12,39% hoje.

O IPCA+2045, que na véspera tinha juro de 6,53%, hoje oferece retorno de 6,51%. O título em questão chegou aos 6,58% ao ano ontem, o maior retorno já oferecido pelo papel, que começou a ser negociado em 2017.

Confira os preços e as taxas dos títulos públicos disponíveis para a compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (15): 

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Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Boletim Macrofiscal 2023

A Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Fazenda, divulga amanhã (17) o primeiro Boletim Macrofiscal de 2023. A apresentação e a divulgação da versão atualizada do Panorama Macroeconômico acontecem às 14h30. Serão informadas as principais projeções da grade de parâmetros macroeconômicos para este ano, além de análise sobre a conjuntura macroeconômica e fiscal do país,  considerada na elaboração das estimativas.

IGP-10 e IPA

O Índice Geral de Preços – 10 (IGP-10) teve alta de 0,05% em março, ante taxa de 0,02% em fevereiro informou nesta quarta-feira (15) a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Com esse resultado, o índice acumula alta de 0,12% no ano e de 1,12% em 12 meses. O dado de março ficou em linha com do consenso Refinitiv, que apontava para inflação de 0,05% na comparação mensal. Em março de 2022, o índice havia subido 1,18% no mês e acumulava elevação de 14,63% em 12 meses.

Já o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) caiu 0,07% em março. No mês anterior, o índice havia registrado taxa de -0,14%. Na análise por estágios de processamento, os preços dos Bens Finais variaram de 0,20% em fevereiro para 0,31% em março.

A principal contribuição para este resultado partiu do subgrupo alimentos in natura, cuja taxa passou de -0,04% para 5,68%. O índice relativo a Bens Finais, que exclui os subgrupos alimentos in natura e combustíveis para o consumo, caiu 0,35% em março. No mês anterior, a taxa foi de 0,04%.

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“Armistício”

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), elogiou, na noite da quarta-feira, o modelo do Banco Central independente. Lira também disse que o momento atual exige um “armistício”, em referência às tensões entre o governo e a autoridade monetária.

“Já coloquei publicamente que o modelo do BC independente é adequado e correto. Quem cuida da autoridade monetária brasileira, da taxa básica de juros, perspectiva de inflação e protege nossa moeda é o Banco Central. É bom para o País e é bom para o governo”, afirmou Lira, em entrevista à GloboNews.

O presidente da Câmara disse que um clima mais tranquilo pode contribuir para o Congresso dar andamento a “matérias que vão dar credibilidade para que a queda dos juros aconteça naturalmente”.

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Socorro ao First Republic

Segundo informações do The Wall Street Journal, grandes bancos americanos, como JPMorgan e Morgan Stanley negociam capitalização no First Republic Bank ou até mesmo uma aquisição, mesmo que essa segunda opção seja menos provável, ressalta a publicação.

As ações do First Republic chegaram a cair 31% nas negociações iniciais na Bolsa americana, mas atenuaram as perdas com a notícia. Contudo, ainda registravam perdas: às 13h33 (horário de Brasília) desta quinta-feira (16), os papéis caíam 13,96%, a US$ 26,81.

Juros Europa

O Banco Central Europeu (BCE) decidiu hoje manter o ritmo de aperto de sua política monetária, mesmo diante da crise bancária, optando por uma nova alta de 50 pontos-base nas taxas de juros, a exemplo do que já havia feito em dezembro e em fevereiro.

A taxa de refinanciamento (a principal) subiu de 3,0% para 3,50%; a taxa sobre depósitos de 2,50 para 3,0%, e a taxa sobre empréstimos marginais de 3,25% para 3,75%.

A decisão foi atribuída à projeção de que a inflação deve permanecer muito alta por muito tempo. O BCE comentou que o elevado nível de incerteza reforça a importância de uma abordagem dependente de dados para as decisões de taxa de juros.

O Conselho do BCE comentou ainda que está acompanhando de perto as atuais tensões do mercado e que está pronto a responder conforme necessário para preservar a estabilidade de preços e a estabilidade financeira na zona do euro.

A presidente do BCE, Christine Lagarde, reforçou em sua declaração, após a decisão de política monetária, a abordagem “dependente de dados” para as decisões de taxa de juros, que já estava no comunicado da autoridade monetária que se seguiu à decisão de manutenção do ritmo de alta dos juros em 50 pontos-base nesta quinta-feira (16). Para ela, não há uma escolha (“trade-off”) entre estabilidade financeira e inflação.

Fed

A elevação de juros em 0,25 p.p. tem 76% de chance de acontecer. Segundo projeções do FedWatch, do CME Group, os juros que hoje estão na faixa de 4,50-4,75% devem chegar a 4,75-5,00% na reunião a ser realizada em 22 de março pelo Fed. As chances de haver uma manutenção agora estão em 24%. Para a reunião de 3 de maio, a perspectiva predominante (48,3%) é de que a taxa de juros vá para 5,00%-5,25%. A manutenção em 4,50-4,75% agora é aposta de 8,7% do mercado. Uma alta de 0,25 p.p., para 4,75%-5,00% agora é vista por 42,9% do mercado.

Desemprego EUA

Os pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos caíram a 192 mil nesta semana, abaixo da expectativa, que era de 205 mil. Na semana passada, os pedidos ficaram em 212 mil (revisados de 211 mil). A média das últimas quatro semanas ficou em 196,50 mil pedidos, ante 197,25 mil nas quatro semanas encerradas sete dias atrás (revisado de 197 mil).

Neide Martingo

Jornalista especializada em Economia, Finanças e Negócios, trabalhou em veículos como Valor Investe, Diário do Comércio e Gazeta Mercantil e escreve sobre Renda Fixa no InfoMoney