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Após suspensão das negociações, taxas dos títulos públicos do Tesouro Direto têm alta nesta 6ª; prefixados pagam 10,8% ao ano

Investidores monitoram dados mais fracos de emprego nos Estados Unidos e declarações sobre as manifestações de 7 de setembro

Bruna Furlani

(GettyImages)

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SÃO PAULO – Depois de suspender as negociações por cerca de 40 minutos no fim da manhã, o mercado de títulos públicos segue com alta nas taxas na tarde desta sexta-feira (03). Investidores monitoram com apreensão as falas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre as manifestações de 7 de setembro, que podem acirrar a crise entre os três poderes.

As preocupações com o cenário local estão entre os motivos que provocaram forte volatilidade nas taxas perto do almoço. Quando isso ocorre, a Secretaria do Tesouro Nacional suspende temporariamente as negociações para evitar que o investidor feche transações que não refletem corretamente as condições do mercado de títulos públicos. Sendo assim, é permitido que o investidor compre ou venda apenas títulos como o Tesouro Selic.  

Diante de todo esse contexto, na atualização da tarde, os prêmios pagos pelos títulos prefixados seguiram avançando mais do que os títulos atrelados à inflação. O juro pago pelo título com vencimento em 2031, por exemplo, subia de 10,69%, no começo da manhã, para 10,83%, após o almoço. Um dia antes, o mesmo título pagava retorno de 10,64%.

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No mesmo horário, o prêmio do título prefixado com vencimento em 2026 era de 10,21%, contra 10,07% no início das negociações. Percentual também acima dos 10,03% vistos na última quinta-feira (02).

Entre os papéis atrelados à inflação, o juro real oferecido pelo Tesouro IPCA+ com vencimento em 2055 e pagamento de juros semestrais era de 4,86%, acima dos 4,83% do começo da manhã. Na sessão anterior, o mesmo título pagava retorno real de 4,82%. Da mesma forma, o juro real do papel com vencimento em 2035 e 2045 era de 4,71%, acima dos 4,62% vistos um dia antes.

Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta sexta-feira (03): 

Radar local

As atenções na cena local estão na fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sobre as manifestações de 7 de setembro. Durante viagem à Bahia, o presidente disse nesta sexta-feira que a data será “um ultimato para duas pessoas que precisam entender seu lugar”.

“Curvem-se à Constituição, respeitem a nossa liberdade, entendam que vocês dois estão no caminho errado porque sempre dá tempo para se redimir”, disse Bolsonaro, presumivelmente referindo-se aos ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O mercado também monitora a fala de outras autoridades. Hoje pela manhã durante o evento “Finanças Mais”, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, disse que a condução da política monetária fica mais complexa diante do momento de incerteza em relação à economia brasileira.

“A gente tem todos os choques externos, choques internos, a crise hídrica, mais um ruído eleitoral, de fato isso dificulta”, disse Campos Neto. “Mas o BC tem de pensar que a nossa missão é atingir a meta, entregar a meta de inflação, isso é o elemento mais importante para garantir a estabilidade com crescimento sustentável de curto, médio e longo prazo.”

Investidores também repercutem os desdobramentos da reforma do Imposto de Renda e o destaque aprovado ontem que reduziu a alíquota de tributação que incidirá sobre a distribuição de lucros e dividendos. O texto votado na quarta-feira (01) previa incidência de 20% de IR nesses casos. Com a modificação, serão cobrados apenas 15%.

A proposta que foi aprovada também traz mudanças em fundos de investimentos, negociações em bolsa, além de alterações na tabela reajustada e no desconto simplificado. Saiba mais aqui.

Analistas, contudo, apontam que as modificações devem prejudicar as contas públicas. Estudo da Instituição Fiscal Independente (IFI), órgão vinculado ao Senado Federal, divulgado nesta sexta-feira (03), aponta que a versão aprovada pela Câmara deve ter impacto fiscal negativo da ordem de R$ 28,9 bilhões em 2022 para os cofres públicos, caso entre em vigor sem novas alterações.

Nas contas da instituição, também haveria um déficit de R$ 11 bilhões em 2023 e de R$ 12,3 bilhões em 2024. Caso o governo sofra um novo revés sobre os ganhos de arrecadação com a revisão de benefícios fiscais, a perda poderia chegar a R$ 33,3 bilhões daqui a dois anos.

Investidores também acompanham de perto desdobramentos sobre o ICMS dos combustíveis. Na última quinta-feira (02), o presidente disse que apresentará uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) alegando que governadores estão descumprindo emenda constitucional na cobrança do tributo estadual.

Diante do aumento do preço dos combustíveis, o presidente afirma ter congelado o imposto federal sobre o insumo e tem transferido aos governadores a responsabilidade pelo preço final nas bombas. “No tocante aos governadores, que deveriam seguir a Emenda Constitucional 33 de 2001, toda vez que aumenta um pouquinho o combustível, eles aumentam na ponta da linha. Esse aumento quase que é o dobro daquilo que se registra lá na origem”, argumentou.

Cena internacional

Já na cena externa, o grande destaque do noticiário econômico está nos dados de emprego dos Estados Unidos. De acordo com o Relatório de Emprego (payroll), foram criados 235 mil empregos em agosto. Os números foram apresentados nesta sexta-feira (3) pelo Departamento de Trabalho americano.

O resultado foi bem abaixo do esperado. A mediana da pesquisa da Refinitiv com economistas projetava criação de 750 mil vagas de trabalho fora do setor agrícola no mês passado, após criação de 943 mil empregos em julho. As projeções, contudo, variavam muito, de 375 mil a 1,027 milhão.

Já a taxa de desemprego caiu 0,2 ponto percentual, de 5,4% para 5,2%, em linha com o esperado pelo mercado.

O payroll era bastante aguardado por investidores, principalmente após a fala de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, que é o banco central americano, no simpósio anual de Jackson Hole. A razão é que a autoridade informou que o início do tapering (redução do programa de compra de títulos) estaria condicionado aos números do mercado de trabalho.

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