Tesouro Direto: prêmios dos títulos públicos têm queda na tarde desta 5ª; taxas dos papéis atrelados à inflação recuam para 4,92%

Investidores monitoram sinalizações do BC dos EUA e desaceleração da China, além de discursos do presidente do Banco Central e do ministro da Economia

Bruna Furlani

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SÃO PAULO – As taxas dos títulos públicos no Tesouro Direto apresentam queda na tarde desta quinta-feira (19), com alguns títulos atrelados à inflação revertendo a alta vista no começo do dia.

O movimento ocorre um dia após o Tesouro suspender as negociações cerca de uma hora antes do fim da sessão, em meio a forte volatilidade das taxas pagas pelos papéis. Foi a segunda suspensão em dois dias.

As incertezas em torno do cenário internacional seguem impactando o humor do mercado em boa parte das bolsas mundiais. Aqui no Brasil, contudo, o Ibovespa zerava perdas durante à tarde com o bom desempenho das ações da B3 (B3SA3). Investidores estrangeiros ainda digerem a ata do Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que sinalizou ontem que a redução do ritmo de compra de títulos pode ocorrer ainda em 2021, além de preocupações sobre o crescimento da economia global.

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No radar local, o mercado monitora a fala de Paulo Guedes, ministro da Economia, que voltou a dizer que se a proposta que prevê o parcelamento dos precatórios não passar no Congresso, não haverá verba suficiente para rodar a máquina pública. Também nesta quinta-feira, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, comentou que “fará o que for necessário para atingir a meta de inflação”.

No Tesouro Direto, o juro real pago pelo Tesouro IPCA com vencimento em 2055 e pagamento de juros semestrais caía de 5,00% no começo da manhã, para 4,92%, durante a tarde. Um dia antes, o mesmo título pagava retorno de 4,97%.

Papéis indexados à inflação com vencimento em 2035 e 2045, por sua vez, recuavam de 4,95% para 4,91%, na atualização feita após o almoço. O percentual está em linha com o valor visto na sessão de ontem (18), de 4,92%.

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Entre os títulos prefixados, o juro pago pelo papel com vencimento em 2031 recuava de 10,99% para 10,86%. Anteriormente, o mesmo título oferecia retorno de 11,02%.

O juro do título prefixado com vencimento em 2024, por sua vez, caía de 9,88% para 9,71%, abaixo dos 9,92% vistos um dia antes. Da mesma forma, o retorno do título com vencimento em 2026 era de 10,19%, contra 10,30% no começo da manhã. Na sessão anterior, o papel pagava juro de 10,34%.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto oferecidas na tarde desta quinta-feira (19):

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Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

Cenário externo

O maior foco de atenção dos investidores nesta quinta está nos riscos que vêm do exterior, com queda da maior parte das bolsas globais. O pessimismo ainda é reflexo da ata da última reunião do Comitê Federal do Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve, divulgada ontem (18). No documento, dirigentes americanos destacaram que a redução do ritmo de compra de títulos pode ocorrer antes do fim deste ano, contanto que a economia se estabilize no ritmo esperado.

Os participantes do Fomc concordaram, no entanto, que o nível de emprego ainda precisa progredir antes que o Fed considere elevar as taxas de juros nos Estados Unidos.

Destaque também para os dados sobre pedidos de seguro-desemprego. Segundo o Departamento do Trabalho americano, o número de pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos teve queda de 29 mil na semana encerrada em 14 de agosto, e chegou em 348 mil. O resultado ficou abaixo da expectativa de analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam 365 mil solicitações.

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As perspectivas de uma desaceleração no ritmo de consumo na China também preocupam no ambiente internacional, diante de indicadores econômicos mais baixos apresentados nas últimas semanas e temores sobre pressão regulatória no país.

Em reunião na última terça-feira (17), o Comitê Central para Assuntos Financeiros e Econômicos da China disse que esforços devem ser feitos para encontrar um equilíbrio entre garantir um crescimento econômico estável e evitar riscos financeiros, de acordo com o veículo estatal Xinhua. O impacto sobre a China também provocou queda nas cotações de algumas commodities.

Cena local

Na agenda econômica, o destaque está no discurso de Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Durante evento realizado nesta quinta-feira (19), Campos Neto reforçou que a autarquia “fará que o que for necessário para atingir a meta de inflação”. “Temos os instrumentos, podemos fazer o trabalho. Estamos comunicando ao mercado. Com mais transparência em que como usamos nossos instrumentos.”

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O presidente da autarquia também disse que as incertezas internacionais estão maiores e reconheceu que os ruídos internos têm tido grande peso na majoração das expectativas do mercado para a inflação de 2022. “Há um aumento do ruído da parte institucional de como o Brasil funciona, a briga entre os Poderes. Ultimamente há outra dimensão desse ruído, relacionada a novos projetos enviados pelo governo ao Congresso, como o novo Bolsa Família, que mercado tem associado com as eleições do próximo ano”, afirmou.

Na cena política doméstica, um dos focos está no texto da reforma do Imposto de Renda, que segue com muitas dúvidas e impasses entre parlamentares e governo. Segundo matéria do jornal Valor Econômico, Paulo Guedes, ministro da economia, convidou os partidos de oposição para reunião na terça-feira para tratar do projeto.

Mas a reforma deve seguir enfrentando dificuldade para ser aprovada do jeito que está hoje no texto. Em entrevista concedida na quarta-feira à Reuters, Marcelo Ramos (PL-AM), vice-presidente da Câmara dos Deputados, disse avaliar que o projeto que altera regras do Imposto de Renda “subiu no telhado”, tem poucas perspectivas de aprovação no momento e precisará ser reconstruído para chegar a um mínimo de convergência.

A combinação de desafios fiscais e os esforços do governo em implementar o Auxílio Brasil, com o clima hostil entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e tribunais superiores levou a consultoria Eurasia Group a rebaixar de “neutra” para “negativa” sua percepção sobre o ambiente político para os próximos dois anos.

Em relatório distribuído a clientes na última quarta-feira (18), Christopher Garman, diretor para Américas da Eurasia, chamou atenção para a persistente inflação e os impactos de um maior risco fiscal sobre os preços – além das consequências de crescentes riscos energéticos decorrentes da crise hídrica.

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