Tesouro Direto: prêmios dos títulos públicos avançam nesta 4ª com piora política; prefixados oferecem retorno de 11,1%

Investidores monitoram piora da crise político-institucional no Brasil; taxas de alguns papéis prefixados voltam a bater marca histórica

Bruna Furlani

(Getty Images)

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SÃO PAULO – As declarações de políticos como Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, e de Luiz Fux, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) dão o tom às negociações na tarde desta quarta-feira (8). Um dia após os protestos que intensificaram a crise entre os poderes, o ministro Fux discursou e garantiu que “ninguém fechará” o STF e que desrespeitar decisão judicial é “crime de responsabilidade”.

Já Lira prometeu uma postura aberta ao diálogo com os Três poderes e afirmou que não admitirá questionamentos sobre o que chamou de “decisões tomadas e superadas”. O mercado também acompanha paralisações de caminhoneiros em alguns trechos de rodovias pelo país.

Diante do agravamento das tensões entre os poderes e os possíveis impactos de tais desdobramentos na agenda de reformas, o mercado de títulos públicos seguiu com alta nas taxas na tarde desta quarta-feira (8), com destaque para os prêmios pagos pelos papéis prefixados, que voltaram a bater marcas históricas.

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O juro pago pelo título com vencimento em 2031, por exemplo, subia de 10,94%, no começo da manhã, para 11,05%, na atualização da tarde. Esse prêmio foi o maior já pago por esse título que começou a ser negociado em fevereiro de 2020. Um dia antes, o mesmo papel oferecia retorno de 10,82%.

No mesmo horário, o prêmio do título prefixado com vencimento em 2026 era de 10,38%, contra 10,25%, na abertura dos negócios. Anteriormente, o papel pagava juro de 10,16% na última segunda-feira (6).

Entre os papéis atrelados à inflação, o juro real oferecido pelo Tesouro IPCA+ com vencimento em 2055 e pagamento de juros semestrais era de 4,90%, contra 4,92% no começo da manhã. Ainda assim, o juro era mais alto do que o registrado na sessão anterior de 4,86%. Da mesma forma, o juro real do papel com vencimento em 2035 e 2045 avançava de 4,77%, no início da manhã, para 4,81%, após a atualização do almoço. Dois dias antes, o título oferecia prêmio real de 4,70%.

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Confira os preços e as taxas atualizadas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quarta-feira (08): 

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

IGP-DI

Na agenda econômica local, o foco do mercado está na divulgação do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI). Segundo a Fundação Getúlio Vargas, o IGP-DI recuou 0,14% em agosto, percentual inferior ao apurado no mês anterior, quando o indicador avançou 1,45%.

Com o resultado, o índice acumula alta de 15,75% no ano e de 28,21% em 12 meses. Em agosto de 2020, por exemplo, o índice havia subido 3,87% e avançado 15,23% em 12 meses.

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Para André Braz, coordenador dos índices de preços da FGV, apesar da queda registrada no IGP-DI no mês passado, o índice mostrou que a inflação continua a pressionar a estrutura produtiva das empresas e o orçamento familiar.

Fala de autoridades

Na cena política, o destaque está nos desdobramentos da fala do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Durante os protestos em Brasília e em São Paulo, o presidente repetiu ameaças contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes.

“Ou esse ministro [Alexandre de Moraes] se enquadra ou ele pede para sair”, afirmou Bolsonaro. Moraes é relator do inquérito das “fake news” no STF e tem proferido uma série de decisões negativas ao presidente e aliados.

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“Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas turve a nossa liberdade. Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha”, completou Bolsonaro.

Em resposta aos insultos do presidente, o ministro Luiz Fux afirmou hoje que o desprezo às decisões judiciais por parte do chefe de qualquer um dos Poderes representaria um “atentado à democracia” e configuraria crime de responsabilidade.

“Ofender a honra dos Ministros, incitar a população a propagar discursos de ódio contra a instituição do Supremo Tribunal Federal e incentivar o descumprimento de decisões judiciais são práticas antidemocráticas e ilícitas, que não podemos tolerar em respeito ao juramento constitucional que fizemos ao assumir uma cadeira na Corte”, completou o presidente do STF.

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Um pouco mais cedo, o presidente da Câmara também fez um pronunciamento recheado de recados políticos. “Conversarei com todos e com todos os Poderes. É hora de dar um basta a esta escalada, em um infinito looping negativo. Bravatas em redes sociais, vídeos e um eterno palanque deixaram de ser um elemento virtual e passaram a impactar o dia a dia do Brasil de verdade”, destacou.

Na véspera, diante da escalada das tensões entre os três poderes, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), presidente do Senado, cancelou a agenda da semana por considerar que não há clima para votações – pautas de interesse do governo, como a reforma do IR, não avançarão.

O discurso mais duro do presidente também pode respingar na aprovação da PEC dos precatórios. Após as falas de Bolsonaro, Darci de Matos, relator da PEC, e líderes de partidos reiteraram a visão de que o clima piorou com os atos de ontem e que uma saída mais fácil, via Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ganhou ainda mais obstáculos.

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Isso porque, segundo reportagem do jornal Valor Econômico, os ataques do presidente ao STF devem atrapalhar o acordo que vinha sendo negociado entre o governo e o Judiciário para reduzir o valor a ser pago com os precatórios, que são dívidas judiciais que o governo é obrigado a pagar. Em 2022, a conta chegou a R$ 89,9 bilhões, alta de quase R$ 40 bilhões em relação a 2021.

O mercado também acompanha paralisações de caminhoneiros em trechos de rodovias de Santa Catarina, Paraná e Espírito Santo, segundo matéria do jornal Folha de S.Paulo.

De acordo com o jornal, a categoria estava dividida quanto aos atos de 7 de setembro. No fim, motoristas independentes participaram dos protesto, mas não houve apoio formal de entidades.

Cenário internacional

Na cena externa, as bolsas internacionais registram leve queda em meio a uma reavaliação global sobre o ritmo de retomada do crescimento econômico no pós-pandemia.

Nesta quarta-feira, o radar do mercado está centrado na apresentação do Livro Bege pelo Federal Reserve, que é o banco central americano. De acordo com o documento, o órgão afirmou que a economia americana teve um leve desaceleração em agosto, diante da redução em alguns serviços, como restaurantes, viagens e turismo.

A contração, segundo a autoridade monetária, é reflexo do aumento das preocupações com a variante delta, e com as restrições de viagens internacionais, em alguns casos.

Os dirigentes também afirmaram no relatório que houve um crescimento do emprego, ainda que o aumento tenha sido tímido em alguns distritos.

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