Tesouro Direto: na volta dos negócios, prefixados oferecem até 12,90% ao ano

Queda nas taxas chega até 45 pontos-base em papéis prefixados e 19 pontos-base em títulos atrelados à inflação.

Bruna Furlani Katherine Rivas

Publicidade

Após a volta dos negócios, taxas dos títulos públicos fecham em forte queda nesta quarta-feira (15). Taxas dos Prefixados recuam até 45 pontos-base, enquanto nos títulos atrelados à inflação a baixa é de até 19 pontos-base.

As negociações dos títulos públicos foram suspensas mais cedo, por volta das 16h30 da tarde desta quarta-feira (15), diante da forte volatilidade nos preços e taxas. Com isso, investidores conseguiram apenas negociar papéis como o Tesouro Selic.

Quando isso ocorre, o Tesouro suspende temporariamente as vendas e compras para evitar que o investidor feche temporariamente as transações a um preço que possa ficar rapidamente defasado.

Continua depois da publicidade

Antes da suspensão, as taxas dos títulos negociavam com forte queda, com investidores acompanhando falas do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell e decisão dos juros americanos.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell afirmou, em coletiva, que o cenário atual é de inflação exageradamente alta e de mercado de trabalho muito apertado.

Apesar disso, Powell reforçou o compromisso de trazer a inflação para 2% e com o mercado de trabalho ainda forte. Contudo, existem riscos entre estes: disrupções na cadeia global de produção durando mais do que o esperado – com destaque para os impactos dos fechamentos da China. O avanço das commodities também pode atrapalhar este cenário, apontou.

Continua depois da publicidade

Segundo Luciano Costa, sócio e economista-chefe da Monte Bravo Investimentos, o comportamento das taxas foi até moderado, apesar de um discurso duro do Fomc – que elevou em 0,75 ponto percentual os juros americanos – para uma faixa de 1,5% a 1,75%.

Embora seja o maior aumento desde 1994, a alta já era esperada pelo mercado, motivo pelo que justificou a queda nas taxas mais cedo. “No mercado de juros houve uma certa antecipação em relação a decisão de 0,75%. As Treasuries também ficaram comportadas e isso fez com que os juros no Brasil não sejam pressionados”, avalia.

Outro fator, segundo o economista-chefe da Monte Bravo, é que a projeção do juro americano para o final de 2022 pelo Fomc não foi muito alta, ficando em 3,40% e ainda distante dos 4%. “Acho que isso também dá um certo alívio para o mercado”, afirma Costa.

Continua depois da publicidade

Costa avalia que o Fomc está comprometido com o retorno da inflação americana para o patamar de 2%. Segundo ele, o documento também apresentou sinais de que as incertezas sobre os impactos da guerra diminuíram.  “É um sinal mais duro de que provavelmente os efeitos da guerra realmente são mais inflação e menos crescimento”, completa.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quarta-feira (15): 

Fonte: Tesouro Direto

Fed eleva taxa de juros

O Federal Reserve anunciou a sua decisão de política monetária na tarde desta quarta-feira (15) com a elevação dos juros em 0,75 ponto percentual, para uma faixa de 1,5% a 1,75%, como passou a ser majoritariamente esperado pelo mercado desde que os dados de inflação ao consumidor de maio surpreenderam o mercado na sexta-feira passada. Este foi o primeiro aumento dessa magnitude – e também o maior – desde 1994.

Continua depois da publicidade

A votação para o aumento de juros contou com dez votos a favor e apenas um contra. Esther George, presidente do Fed de Kansas City, discordou da maioria ao votar a favor de um aumento de meio ponto percentual.

Segundo os integrantes do comitê de política monetária, os ganhos de salários foram robustos nos últimos meses e a taxa de desemprego permaneceu baixa. Já a inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços, apontou o comitê.

“Ao avaliar a postura adequada da política monetária, o comitê continuará monitorando as implicações das informações recebidas para as perspectivas econômicas. O comitê está preparado para ajustar a orientação da política monetária conforme apropriado caso surjam riscos que possam impedir o atingimento dos objetivos”, apontou o comunicado, reforçando que está fortemente comprometido em devolver a inflação ao seu objetivo de 2%.

Continua depois da publicidade

Autoridades do BC americano indicaram uma trajetória mais rápida de aumentos nos custos de empréstimos à frente, alinhando mais de perto a política monetária com uma mudança rápida nesta semana nas visões do mercado financeiro sobre o que será necessário para controlar as pressões de preços.

Os integrantes do Fomc ainda destacaram que os desafios e objetivos da economia continuam as mesmas das últimas reuniões

“A invasão da Ucrânia pela Rússia está causando enormes dificuldades humanas e econômicas. A invasão e os eventos relacionados estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e estão pesando sobre a atividade econômica global. Além disso, os bloqueios relacionados à pandemia na China provavelmente exacerbarão as interrupções na cadeia de suprimentos”, explica, ao assegurar que está “altamente atento aos riscos inflacionários”.

Jerome Powell

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell afirmou, em coletiva, que o cenário atual é de inflação exageradamente alta e de mercado de trabalho muito apertado. “Estamos trabalhando duramente para trazer a inflação para baixo e usaremos todas as ferramentas que precisarmos e recursos que temos para isso”, disse.

Segundo Jerome Powell, o Fomc ainda vê riscos de a inflação avançar. De acordo com o presidente do Federal Reserve, disrupções na cadeia global de produção são mais severas e estão durando mais do que o esperado – com destaque para os impactos dos fechamentos da China.

Powell apontou que o objetivo é ver demanda mais moderada e mercado de trabalho mais balanceado. Segundo ele, o foco do banco será equilibrar esses dois pontos, utilizando suas ferramentas monetárias para isso – mas incertezas quanto à guerra na Ucrânia e restrições na China vem dificultando o trabalho.

Contudo, ainda não há total ciência de quão restritivo o Fed terá de ser. “Onde a taxa de juros irá parar, por enquanto, é a grande questão”, comentou.

Ele também reforçou que a “Meta é trazer inflação para 2% com mercado de trabalho ainda forte”. O caminho seria diminuindo a demanda, embora o Federal Reserve não consiga controlar as diversas variáveis que pressionam os preços. Powell disse, contudo, que não será fácil controlar a inflação com o atual nível de desemprego, “com duas vagas de trabalho para cada trabalhador”, mas que o esperado é evitar que as políticas mais restritivas levem a uma recessão econômica.

“Controlar a inflação com um desemprego de cerca de 4,1% seria um sucesso”, afirmou.

No entanto, ele destacou que o avanço das commodities pode impedir “pouso ameno” da inflação.

Visão dos especialistas

Na avaliação de agentes financeiros, a autoridade monetária americana tem se mostrado atrás da curva e será preciso um ajuste maior para domar a inflação americana, o que pode trazer consequências sérias para a economia dos Estados Unidos.

Marcio Fontes, gestor da ASA Investments, avalia que o problema é muito grande para que seja resolvido sem causar uma grande recessão. “Muito provavelmente, vamos ver uma recessão [nos Estados Unidos]”, disse o especialista em live do Stock Pickers nesta terça-feira (15).

O gestor afirma que a inflação americana está perto de 4% e que a meta é de 2%. Segundo o executivo, para domar a inflação será preciso fazer uma virada no desemprego, para que fique 8% acima do patamar atual. “O desemprego está em 3,6%, logo teria que ir para 11,6%. É algo bastante difícil”, afirma.

Para causar esse choque, o especialista da ASA Investments nota ainda que será necessário fazer com que o Produto Interno Bruto (PIB) retraia em cerca de 16% ao longo de um período que pode ser de três a quatro anos. “Não tem como fazer com que o PIB retraia tanto sem causar uma recessão”, observa.

Petrobras, ICMS e despacho gratuito

Na cena política, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou ontem o texto-base do projeto de lei complementar (PLP 18/2022) que estabelece um teto para a cobrança de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, energia elétrica e serviços de telecomunicações e de transporte público.

A matéria enquadra esses quatro tipos de bens e serviços como essenciais ou indispensáveis, não podendo ser tratados, do ponto de vista tributário, como supérfluos. Dessa forma, os Estados e o Distrito Federal ficariam impedidos de cobrar uma taxa superior à alíquota geral do ICMS, que varia entre 17% e 18%, dependendo da localidade.

A votação dos destaques na Câmara, no entanto, ficou marcada para hoje (15). O motivo foi um problema técnico no painel de votação do plenário.

De olho no peso dos combustíveis sobre o bolso dos consumidores, membros do governo se reuniram na última segunda-feira (13) com a diretoria da Petrobras (PETR3;PETR4) para tentar impedir o aumento de combustíveis que a estatal planeja anunciar ainda nesta semana, segundo apurações da imprensa.

De acordo com o Broadcast, da Agência Estado, a ideia da petroleira é reajustar o preço da gasolina em 9% e o do diesel, em 11%, como forma de amenizar a defasagem de valores entre o mercado interno e o mercado internacional.

Também na cena política, o despacho gratuito voltou à pauta na véspera. Isso porque o presidente Jair Bolsonaro (PL) vetou a emenda que trata sobre o restabelecimento do despacho gratuito de bagagens de até 23 kg em voos nacionais e 30 kg em viagens internacionais. A medida tinha sido aprovada no mês passado na Câmara dos Deputados.