Tesouro Direto: taxas despencam mais de 30 pontos-base após decisão do Copom

Prefixados oferecem até 12,61% ao ano; ganho real dos papéis de inflação chega a 6,03%

Bruna Furlani | Katherine Rivas

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Um dia após o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, elevar a Selic para 13,75% ao ano, o mercado de títulos públicos opera com forte queda nas taxas na tarde desta quinta-feira (4). Os maiores recuos são registrados entre prefixados, que caem até 36 pontos-base (0,36 ponto percentual) em relação ao visto na véspera (3). Já no papéis atrelados à inflação, a queda nas taxas é de até 34 pontos-base.

Como a decisão já era amplamente esperada pelos agentes, o foco recaiu sobre os próximos passos da autoridade monetária, o que dividiu analistas. Na visão de parte do mercado, o BC deixou a porta aberta para uma alta de 0,25 ponto percentual no encontro de setembro. Já outra parcela defendeu que o documento sugere o fim do ciclo de altas em 13,75%.

Esta segunda visão é defendida por Flavio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos, que acredita que o mais provável seja a manutenção das taxas no atual patamar de 13,75%, em setembro, e que a reunião de ontem marcou o final do ciclo de aperto monetário. “No texto, os membros escreveram que irão avaliar a necessidade de um ajuste residual de menor magnitude, o que sinaliza que estamos muito próximos do fim do ciclo”, destaca.

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Chamou a atenção de gestores o fato de que o BC citou ter optado “por dar ênfase à inflação acumulada em 12 meses no primeiro trimestre de 2024” em sua análise. No texto, a autoridade monetária destacou que esse prazo reflete o seu horizonte relevante, ou seja, o ano de 2024 tende a ganhar relevância para o Banco Central.

Já no cenário externo, as atenções estão voltadas para a decisão de política monetária do Banco da Inglaterra (BoE). A autoridade elevou hoje o juro em 0,50 ponto percentual para 1,75%. Esse foi o maior aumento desde 1995.

No radar do mercado e que pode impactar a curva de juros nas sessões futuras, Serrano, da Greenbay Investimentos, cita os dados do payroll (relatório de emprego dos Estados Unidos) que será divulgado amanhã. Na visão dele, se o relatório apresentar mais vagas de emprego do que esperado pelo mercado, as taxas de juros nos EUA podem subir, puxando consigo as taxas locais.

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Na próxima semana, tem a ata do Copom e o dados da inflação (IPCA) de julho, que também podem mexer com as taxas.

Dentro do Tesouro Direto, a maior queda era no título prefixado de curto prazo. O Tesouro Prefixado 2025 oferecia um retorno anual de 12,17% às 15h24, inferior aos 12,53% vistos ontem.

Já o Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, apresentavam uma rentabilidade anual de 12,50% e 12,61%, respectivamente, abaixo dos 12,77% e 12,89% registrados na véspera.

Nos papéis atrelados à inflação, as taxas recuavam entre 17 e 34 pontos-base. O maior ganho real era de 6,03%, oferecido pelo Tesouro IPCA+ 2055.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quinta-feira (4): 

Fonte: Tesouro Direto

Selic a 13,75%

Ao analisar a decisão do Copom na véspera, Caio Megale, economista-chefe da XP, disse que o BC segue preocupado com a inflação mais persistente e que o comitê reiterou que os riscos permanecem em duas direções. De um lado, o especialista afirma que há a possibilidade de que as políticas fiscais de sustentação da demanda agregada se tornem permanentes – o que poderia gerar mais inflação.

De outro, a chance crescente de que haja uma desaceleração global e consequentemente, recuo das commodities e do dólar ajuda a diminuir pressões inflacionárias, afirmou o economista-chefe da XP.

Embora reconheça o risco de uma alta final da taxa, de 25 pontos-base (0,25 ponto percentual) em setembro, a XP manteve a expectativa de Selic inalterada em 13,75% até meados de 2023. “Não acreditamos que esse patamar seja suficiente para trazer o IPCA para a meta no próximo ano, mas certamente ajudará a aumentar a probabilidade de um IPCA dentro da meta em 2024”, afirmou Megale.

Na ponta contrária, Laíz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas, manteve a visão de que a taxa básica de juros terá que ir para 14,25% neste ano, com início de corte apenas no segundo semestre do ano que vem.

“O BC vem dando sinais de que gostaria de finalizar o ciclo. O comunicado reafirma isso, mas as condições da economia vão impedir a parada nesse momento. As expectativas para a inflação de 2023 já estão bem acima da meta e as de 2024 continuam subindo”, afirmou Laíz.

Ainda que o BC possa realizar mais um ou outro ajuste, especialistas ouvidos pelo InfoMoney afirmaram que a elevação será mais “residual”, e que o momento já é atrativo para abrir espaço na carteira para papéis prefixados.

“Prefixados costumam responder mais rápido quando há o fim do ciclo de alta e corte de juros”, diz. Então, aumentamos um pouco a exposição”, comenta Arley Junior, estrategista de investimentos do Santander.

Leia mais:
Selic a 13,75% abre espaço para papéis prefixados, mas com cautela; veja onde mais investir após alta dos juros

Guedes e relações trabalhistas

Na cena política, o mercado acompanha a notícia de que o governo poderá corrigir a tabela do Imposto de Renda e pagar de maneira permanente o Auxílio Brasil de R$ 600, se o Congresso aprovar o projeto de reforma tributária que já passou pela Câmara e aguarda análise do Senado, segundo explicou ontem (3) Paulo Guedes, ministro da Economia. 

Em apresentação durante a Expert XP, Guedes afirmou que a reforma do Imposto de Renda é a solução para que as duas promessas já feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) sejam cumpridas com responsabilidade fiscal.

A regra atual prevê que o Auxílio Brasil seja de R$ 600 até dezembro. No ano que vem, a ideia é que volte aos R$ 400. A estratégia para viabilizar o valor mais alto de forma permanente foi noticiada pela Reuters na semana passada.

Também na seara política, o Senado aprovou ontem (3) medida provisória (MP) que flexibiliza relações trabalhistas durante estado de calamidade pública decretado em âmbito nacional ou estadual e municipal reconhecidos pelo governo federal.

Foram 51 votos favoráveis e 17 contrários. O texto, aprovado na terça-feira (2) pela Câmara dos Deputados, agora vai à promulgação. A MP estabelece que, em caso de calamidade pública, poderão ser adotadas medidas como o regime de teletrabalho, antecipação de férias individuais, concessão de férias coletivas, aproveitamento e antecipação de feriados, banco de horas e a suspensão da exigibilidade dos recolhimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Olho no petróleo e Alemanha

Dentro da cena internacional, investidores monitoram a informação de que os líderes da Arábia Saudita e Emirados Árabes estão prontos para entregar um “aumento significativo” na produção de petróleo. Segundo fontes ouvidas pela Reuters, isso pode ocorrer caso o mundo enfrente uma grave crise de oferta neste inverno.

Na véspera (3), a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (Opep+) afirmou que vai aumentar a produção de petróleo em apenas 100 mil barris por dia (bpd).

Por volta das 10h (horário de Brasília) de hoje, os contratos de petróleo operavam perto da estabilidade, com o Brent recuando 0,23%, aos US$ 96,57, e o WTI negociando a US$ 90,98, com leve alta de 0,44%.

Atenção também aos números de encomendas à indústria da Alemanha, que caíram 0,4% em junho ante maio, segundo dados com ajustes sazonais divulgados nesta quinta-feira (4) pela agência de estatísticas do país, a Destatis.

O resultado ficou levemente acima do esperado por analistas consultados pelo The Wall Street Journal, que previam recuo de 0,5% no período.

Apenas as encomendas externas caíram 1,4% em junho ante o mês anterior. Por outro lado, as encomendas domésticas subiram 1,1%.