Tesouro Direto: prefixados oferecem até 12,04% após CPI dos EUA e à espera de Super Quarta

Ganho real dos papéis de inflação chega a 5,90%

Bruna Furlani Katherine Rivas

(Getty Images)

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As taxas dos títulos públicos operam mistas na tarde desta quarta-feira (14). Nos prefixados, as taxas curtas recuam, enquanto as de médio e longo prazo avançam até 9 pontos-base. Já nos papéis atrelados à inflação, o movimento é de queda nas taxas, de até 7 pontos-base.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, o mercado apresenta mais estabilidade após a sessão turbulenta da terça-feira (13), por conta da divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês).

Ele destaca que hoje foram publicados dados do varejo, que vieram abaixo do esperado pelo mercado, contudo não fizeram preço nas taxas de juros e títulos públicos. “Acredito que seja porque a expectativa do mercado para o Comitê de Política Monetária (Copom) está dada”, avalia Costa.

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O volume de vendas do comércio varejista no país recuou 0,8% em julho, na comparação com junho, apresentando o terceiro mês consecutivo de taxa negativa. No acumulado de 2022, o varejo registra variação de 0,4%. Já nos últimos 12 meses, o setor acumula queda de 1,8%. Os dados são da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada nesta quarta-feira (14) pelo IBGE.

Na visão de Costa, o mercado está atento a sinalização do fim do ciclo, independentemente se a taxa subir 0,25 ponto percentual ou se mantiver estável na decisão da próxima semana.

No cenário externo, o economista destaca que após o CPI, a possibilidade de o Federal Reserve elevar a taxa de juros americana em 1 ponto percentual deixou de ser improvável. Anteriormente, as expectativas estavam concentradas em uma alta de 0,50 ou de 0,75 ponto percentual. “Agora o mercado precifica até 20% de possibilidade dessa alta de 1 ponto ocorrer”, afirma.

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Dentro do Tesouro Direto, as taxas de médio e longo prazo avançavam às 15h25. O Tesouro Prefixado 2029 e o Tesouro Prefixado 2033, com juros semestrais, ofereciam um retorno anual de 11,88% e 12,04%, superior aos 11,82% e 11,95% vistos na sessão anterior.

Na contramão, a taxa do Tesouro Prefixado 2025 recuava. O título público apresentava uma rentabilidade anual de 11,95%, inferior aos 11,98% registrados ontem.

Nos títulos atrelados à inflação, o movimento também era de baixa, com destaque para os de curto prazo.

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O Tesouro Prefixado 2026 oferecia um ganho real de 5,68%, inferior aos 5,75% oferecidos na terça-feira (13). As outras taxas recuavam entre 5 e 6 pontos-base.

O maior ganho real registrado nesta sessão era de 5,90%, do Tesouro IPCA+ 2055.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quarta-feira (14): 

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Fonte: Tesouro Direto

Inflação e commodities

Após a divulgação do CPI americano, a sessão desta quarta-feira (14) é voltada para a apresentação do índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos. Conforme informou o Departamento do Trabalho, o indicador recuou 0,1% em agosto na comparação mensal, com ajustes sazonais. Já em relação a agosto de 2021, o índice subiu 8,7%.

O resultado veio em linha com o esperado pelo mercado, pois o consenso Refinitiv projetava uma deflação de 0,1% no mês e uma alta de 8,8% na comparação anual.

Dados de inflação no Reino Unido também são destaque. Hoje, o Escritório de Estatísticas Nacionais (ONS, na sigla em inglês) anunciou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) estava 9,9% mais alto em agosto do que no ano anterior, ante os 10,1% vistos em julho, o que representa uma desaceleração.

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Especialistas ouvidos pelo Wall Street Journal previam o avanço de 9,9%. Com relação ao mês anterior, os preços subiram 0,5%, abaixo da previsão de analistas de 0,6%. O núcleo do CPI – que exclui itens mais voláteis – avançou 6,3% na comparação anual, dentro da expectativa dos analistas.

Foco também nos preços de algumas commodities. Em relatório apresentado nesta quarta-feira (14), a Agência Internacional de Energia (AIE) disse que a queda na demanda por petróleo na China está se sobrepondo ao robusto consumo em outras partes do mundo e que isso irá restringir o avanço geral da busca pela commodity este ano.

O gigante asiático tem sido afetado por uma série de lockdowns em diversas cidades para conter a propagação da Covid-19 no País.

Diante disso, a AIE cortou sua projeção para a demanda chinesa por petróleo este ano em 400 mil barris por dia (bpd), a 15 milhões de bpd, 420 mil bpd a menos do que em 2021. Para 2023, a agência reduziu a previsão para o consumo chinês em 300 mil bpd, a 16 milhões de bpd.

Varejo

Após a divulgação dos números do setor de serviços na véspera (13), o dia é marcado pela apresentação do volume de vendas no varejo. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas no setor tiveram o terceiro mês seguido de taxa negativa.

No acumulado do ano, o varejo sobe 0,4%. Já nos últimos 12 meses, o volume de vendas no setor acumula queda de 1,8%. Na comparação com julho de 2021, o recuo foi de 5,2%.

O resultado ficou abaixo do esperado, uma vez que o mercado projetava alta de 0,30% na base mensal e queda de 3,5% na anual, segundo a Refinitiv.

No comércio varejista ampliado, que inclui as atividades de veículos, motos, partes e peças e de material de construção, o volume de vendas em julho caiu 0,7% frente a junho e 6,8% contra julho de 2021.

“O setor repete a trajetória que vem acontecendo desde março de 2020, com alta volatilidade. O mês de abril foi o último com crescimento”, explica Cristiano Santos, gerente da pesquisa. “Desde então, maio, junho e julho acumulam recuo de 2,7%. Por conta desses resultados, o setor se encontra praticamente do mesmo nível do período pré-pandemia, em fevereiro de 2020, com variação de 0,5%. Esse patamar já esteve muito mais alto. Em julho de 2021, apresentou 5,3% acima de fevereiro de 2020”, relembra.

Os números do varejo encerraram hoje a divulgação de dados de atividade econômica no Brasil em julho. Segundo o IBGE, a atividade de serviços cresceu 1,1% em julho na comparação mensal, número que ficou acima do esperado pelo mercado.

Por outro lado, a produção industrial caiu 1,3% em julho e frustrou expectativas de analistas. Amanhã (15), será divulgado o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central também referente ao mês de julho.

Consignado

Já na cena política, divergências sobre a fixação de um teto de juros retardam a regulamentação da operação de empréstimo consignado aos beneficiários do programa Auxílio Brasil, segundo reportagem do jornal O Estado de S.Paulo.

O assunto tem sido tema de reuniões diárias no Ministério da Cidadania. Entre os técnicos, a avaliação é de que o consignado voltado para uma população tão vulnerável precisa de uma limitação dos juros cobrados pelos bancos. A defesa dos técnicos é de que o limite dos juros seja fixado pelo menos igual ao do INSS, de 2,14%. O ministro da Cidadania, Ronaldo Vieira Bento, defende internamente a fixação de um teto de juros.

A criação de um consignado com garantia do Auxílio Brasil é uma medida polêmica, considerada pelos especialistas da área social uma estímulo ao endividamento de pessoas que já vivem em condições de alta vulnerabilidade e insegurança alimentar.

Representantes de entidades jurídicas, de defesa do consumidor e personalidades de diversos setores chegaram a assinar uma nota “Em Defesa da Integridade Econômica da População de Vulneráveis” pedindo o adiamento do consignado.