Tesouro Direto: após suspensão dos negócios, somente um papel prefixado avança; juros dos títulos públicos operam de forma mista

Mercado precifica decisão do Fed e reajuste salarial dos professores

Bruna Furlani Katherine Rivas

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Em dia de forte volatilidade, os títulos públicos negociados no Tesouro Direto apresentam movimento misto na última atualização desta quinta-feira (27).

Mais uma vez, em um movimento de inversão da curva de juros, os títulos prefixados de curto prazo entregam um retorno superior aos de longo prazo, algo tido como contraintuitivo, já que papéis de prazo mais alongado costumam oferecer juros mais elevados pois o risco de mudanças no cenário que podem afetar os investimentos é maior.

Segundo Luciano Costa, economista-chefe da Kilima Asset, o cenário de forte volatilidade teve algumas variáveis no cenário local e internacional. No Brasil, ele explica que o mercado ainda precifica o desconforto com a prévia da inflação oficial (IPCA-15) que veio acima do esperado, gerando um debate sobre o tamanho do ciclo de alta de juros e afetando a parte curta da curva.

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Ruídos fiscais também estão presentes, com reajuste de 33% do piso salarial dos professores de educação básica anunciado hoje pelo presidente Jair Bolsonaro, que levam a uma incerteza sobre piora fiscal.

No cenário internacional, os juros refletem a decisão do Federal Reserve, que sinalizou que a elevação das taxas de juros deve ocorrer em breve. “Nos títulos públicos, a parte longa da curva é impactada pelo Fed, enquanto os títulos de curto prazo sentem os impactos do risco fiscal”, explica Costa.

Dentro do Tesouro Direto, o papel prefixado, com vencimento em 2024 entregava uma rentabilidade anual de 11,50%, às 15h20 de hoje. O retorno é superior aos 11,46% vistos na sessão de ontem. O Tesouro Prefixado, com juros semestrais, e vencimento em 2031 apresentava uma rentabilidade de 11,32%, contra 11,46% registrados na sessão anterior.

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Já os títulos atrelados à inflação operam com queda nas taxas ou são negociados em estabilidade, em sua maioria. Na última atualização do dia, o Tesouro IPCA+ 2026 entregava um retorno real de 5,29% ao ano, contra 5,28% ontem. Já o Tesouro IPCA + 2055 oferecia uma taxa de 5,65% ao ano, abaixo dos 5,68% vistos na sessão de quarta-feira.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta quinta-feira (27), na volta dos negócios:

Radar externo

O destaque no cenário internacional segue nas repercussões sobre a decisão do Fed, que sinalizou que vai aumentar os juros em breve, mas deixou dúvidas sobre a intensidade e o ritmo de elevações.

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Para o Fundo Monetário Internacional (FMI), avanço rápido dos juros pode provocar correção no mercado acionário. Em texto para o blog da instituição, diretores afirmam que o ambiente de juros baixos continua a apoiar os preços dos ativos nos mercados, mas advertem que aumentam os riscos nessa frente.

Eles lembram que, para conter pressões inflacionárias, muitas economias começam a apertar a política monetária, contudo notam que os investidores estão mais atentos aos juros reais, ajustados para a inflação.

“Baixos juros reais induzem investidores a tomar mais riscos”, apontam, acrescentando que deve ser preciso apertar mais as políticas monetárias, o que pode pressionar os preços de ativos.

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Combustíveis e reajuste de professores

Dentro da agenda política, o mercado acompanha as discussões sobre o preço dos combustíveis. Governadores decidiram estender por mais 60 dias, contados a partir de 1º de fevereiro, o período de congelamento do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis.

O congelamento se iniciou em novembro de 2021, e a previsão era de que ele acabaria em 31 de janeiro. A decisão foi divulgada ontem por meio de uma carta assinada por 21 governadores.

Em fala a apoiadores ontem em frente ao Palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que não aceitará que o governo federal banque uma eventual perda de arrecadação tributária dos Estados na PEC dos combustíveis.

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Ele também afirmou que, se a PEC for promulgada pelo Poder Legislativo, publicará em uma edição extra do Diário Oficial da União uma norma que vai zerar o PIS/Cofins sobre o óleo diesel. O presidente disse que esse tipo de iniciativa “ajuda a combater a inflação, ajuda tudo” e que “o imposto está muito caro no Brasil”.

Cálculo feito pelo economista Gabriel Leal de Barros, sócio da RPS, a pedido do jornal Folha de S. Paulo afirma que zerar tributos federais sobre combustíveis e energia elétrica poderia custar R$ 130 bilhões em renúncias de receitas e juros da dívida pública.

Também na cena política, ontem o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que vai conceder ajuste a professores em um valor próximo a 33%. “Eu vou seguir a lei. Governadores não querem o [reajuste de] 33%. Eu vou dar o máximo que a lei permite, que é próximo disso [33%], ok?”, afirmou o presidente.

A legislação atual vincula o reajuste à variação do valor por aluno anual do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), que é o principal mecanismo de financiamento da educação básica.

Por esse critério, o reajuste em 2022 fica em 33,2%, elevando o ganho mínimo dos professores de R$ 2.886,24 para R$ 3.845,34. Segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CMN), esse reajuste provocaria impacto de R$ 30 bilhões apenas nas finanças municipais.

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