Tesouro Direto: taxas de títulos de curto prazo sobem com fala de Bruno Serra, enquanto juros longos recuam com câmbio

Diretor do Banco Central apontou que o aperto monetário deve seguir por mais duas ou três reuniões

Bruna Furlani Katherine Rivas

(Shutterstock)

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As taxas dos títulos públicos operam mistas na tarde desta quarta-feira (9). Enquanto as taxas dos títulos de curto prazo sobem por conta de um discurso mais duro do Banco Central em relação a inflação e condução da política monetária, pesa a valorização do real nas taxas longas.

Segundo Flavio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos, o que impactou o mercado de juros hoje foi a declaração do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra que em live afirmou que o ciclo de aperto monetário se estenderá “por um par de reuniões pelo menos”

“Isso fez com que as taxas de juros, principalmente as mais curtas, subissem bastante”, aponta Serrano.

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Já as taxas mais longas ficaram relativamente estáveis no decorrer do dia, mas no período da tarde recuaram com o movimento do câmbio e a valorização do real em relação ao dólar. Por volta das 15h15, o dólar comercial apresentava variação negativa de 0,87%, cotado a R$ 5,2143.

Serrano explica que as taxas de longo prazo sofrem porque o mercado coloca no preço a possibilidade de uma reversão da política monetária no futuro, com o dólar caindo e a inflação recuando, os juros teriam uma tendência de queda.

Em relação aos indicadores, foram divulgados dados do varejo e a inflação oficial nesta quarta-feira (9), ambos em linha com o esperado pelo mercado, o que acabou não repercutindo nos juros.

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Dentro do Tesouro Direto, as taxas dos títulos públicos de curto prazo aceleravam ganhos. É o caso do Tesouro Prefixado 2024, que entregava uma rentabilidade anual de 11,39% na última atualização desta quarta-feira, acima dos 11,35% vistos ontem.

Na contramão, as taxas do Tesouro Prefixado 2026 e do Tesouro Prefixado 2031, com pagamento de juros semestrais, operavam em queda com uma rentabilidade de 11,12% e 11,41%, respectivamente, inferior aos 11,16% e 11,54% entregues na sessão anterior.

Todos os títulos públicos atrelados ao IPCA apresentavam alta. O Tesouro IPCA+ 2026 oferecia uma rentabilidade real de 5,21%, superior aos 5,16% registrados na terça-feira (8).

Atenção ainda para os títulos com vencimento em 2030 e 2040 com juros semestrais, que estão com as negociações suspensas porque o pagamento de cupom ocorre na próxima terça-feira (15).

Por regra do Tesouro Direto, o investimento em títulos que oferecem cupons de juros é suspenso quatro dias úteis antes da data do pagamento. Da mesma forma, há mudanças nos resgates, que são interrompidos dois dias úteis antes do pagamento do cupom.

Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto que eram oferecidos na tarde desta quarta-feira (9): 

Declaração de Bruno Serra

O diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, revelou nesta quarta-feira, 9, que o ciclo de aperto monetário se estenderá “por um par de reuniões pelo menos”. Ele repetiu que o ciclo vai ter que ser mais contracionista do que o cenário de referência. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a Selic em 1,50 ponto porcentual, de 9,25% para 10,75% ao ano.

“Fazendo um ciclo mais pronunciado agora, estendendo o ciclo, ou se vai ser demorando para afrouxar, depende do balanço de riscos e da própria divergência das projeções de 2023 em relação às metas. Teremos que avaliar no próximo ciclo. O mercado tem que fazer hipóteses, olhar o filme todo e fazer calls. Nós temos a vantagem de poder esperar 45 dias, e não precisamos ter grande convicções do que iremos fazer daqui a seis meses”, afirmou o diretor, em evento virtual promovido pelo modalmais.

Para Serra, com tudo mais constante, menos volatilidade de juros é sempre melhor. “Mas tudo mais não é constante. Dependendo do ajuste que teríamos que fazer para a projeção de 2023 estar na meta, teremos uma gama de escolha preferíveis”, respondeu. “Pode ser que seja necessário estender mais o ciclo para colocar inflação de 2023 na meta, mas não temos intenção de tomar nenhuma decisão neste momento”, completou.

IPCA e dados do varejo

Dentro da agenda econômica, as atenção estão voltadas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e aos dados do varejo. No primeiro caso, o IBGE informou hoje que o resultado da inflação oficial foi influenciado, principalmente, pelo grupo alimentação e bebidas (1,11%), que teve o maior impacto no índice do mês (0,23 p.p.).

“Foi a alimentação no domicílio (1,44%) que influenciou essa alta. Mais do que a alimentação fora do domicílio, que desacelerou de 0,98% para 0,25%”, disse André Filipe Almeida, do IBGE. “Os principais destaques foram as carnes (1,32%) e as frutas (3,40%), que embora tenham desacelerado em relação ao mês anterior, tiveram os maiores impactos nesse grupo, 0,04 p.p e 0,03 p.p, respectivamente”, completou o analista da pesquisa.

A variação mensal divulgada hoje, no entanto, representou uma desaceleração em relação ao mês de dezembro quando a inflação fechou com alta de 0,73%. A explicação para a perda de velocidade está nos transportes, grupo com maior peso do IPCA, que recuou 0,11%, após subir 0,58% em dezembro. Esse foi o único dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados a ter queda em janeiro.

O comércio varejista, por sua vez, subiu 1,4% em 2021 na comparação com 2020, segundo números apresentados hoje pelo IBGE. Com isso, 2021 representou o quinto ano consecutivo de resultados positivos para o volume de vendas no varejo e o resultado foi bem próximo dos dois anos anteriores, que registraram alta de 1,2% (2020) e de 1,8% (2019). O último ano a acumular perdas em relação ao ano anterior foi 2016 (-6,2%).

Inflação e Bolsonaro

Segundo economistas consultados pelo InfoMoney, a qualidade do IPCA é incerta. Para a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta “o resultado de janeiro foi puxado pelos preços livres, que sazonalmente no início e final do ano costumam ficar mais caros, o que traz um viés mais positivo para a inflação”.

Ela também afirma que houve participação positiva dos preços administrados, que contam com a definição do governo. “Tivemos uma deflação destes itens em 0,35%. É um bom resultado, mas deve ser revertido no próximo mês, por conta dos combustíveis”, explicou. “Isso deve bater em cheio no IPCA de fevereiro”.

A XP Investimentos em seu relatório sobre o IPCA foi na mesma linha, afirmando que a deflação dos combustíveis deve ser revertida por conta das recentes altas do petróleo e que preços industriais devem continuar a subir.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, por fim, analisa que a persistência da inflação em bens industriais e em serviços subjacentes, bem como na média dos núcleos, traz uma perspectiva ruim para os dados. ” A disseminação na inflação, marcada pelo índice de difusão, se mantém em patamares altos, e provavelmente fará com que o BC continue tendo que agir duramente contra a alta dos preços”, diz.

Em seu segundo dia de viagem ao Nordeste, região em que tenta melhorar a avaliação de seu governo, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira que se empenhará em baixar a inflação e criar mais empregos neste ano, dois pontos que, de acordo com as pesquisas, têm prejudicado seu desempenho nas intenções de voto para a tentativa de reeleição em outubro.

“No corrente ano vamos trabalhar para baixar a inflação e criar mais empregos para vocês”, disse, em um discurso durante uma cerimônia no Rio Grande do Norte alusiva a uma das obras da transposição do Rio São Francisco.