Tesouro Direto: retornos reais de títulos de inflação seguem perto de recorde, com PEC dos Auxílios e ata do Fed

Investidores monitoram ainda abertura de investigação sobre PEC que trata de "bondades" em ano eleitoral

Bruna Furlani

(Shutterstock)

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Em meio ao aumento das preocupações em torno de uma recessão mundial nos próximos meses, as atenções estão voltadas para a ata da última reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed), banco central americano, apresentada nesta quarta-feira (6)

No documento, a autoridade monetária julgou que um aumento de 0,5 ponto percentual ou de 0,75 ponto percentual na próxima reunião de política monetária, de 26 a 27 de julho, provavelmente será “adequado”.

Na avaliação dos integrantes do Fed, as perspectivas de inflação se deterioraram e estão mais disseminadas. Para eles, há a possibilidade de uma “posição mais restritiva” da autoridade monetária, se as pressões inflacionárias persistirem.

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Agentes financeiros também monitoram mais um dia de valorização do dólar frente ao real, com alta de 1,02%, a R$ 5,443, por volta das 15h.

Em dia de agenda esvaziada no Brasil, as curvas de juros seguem refletindo a piora fiscal, diante de discussões envolvendo a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Auxílios e a possibilidade de gastos adicionais em ano eleitoral.

No Tesouro Direto, o mercado de títulos públicos continua com movimento misto das taxas na tarde desta quarta-feira (6). Juros de papéis prefixados operam em estabilidade em sua maioria, enquanto os retornos de papéis atrelados à inflação apresentam leve alta ou estão estáveis.

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Às 15h20, boa parte das rentabilidades dos títulos do tipo Tesouro IPCA+ negociam em valor próximo ao recorde, depois de alcançarem retornos históricos durante a manhã. Destaque para os papéis de prazo intermediário ou mais longo, com juros semestrais.

Na última atualização do dia, os papéis com vencimento em 2032, 2040 e 2055, por exemplo, ofereciam retornos reais de 5,92%, 6,01% e 6,10%, respectivamente. Alguns desses títulos começaram a ser negociados em fevereiro de 2020. Os valores também são superiores aos 5,90%, 5,99% e 6,09%, nessa ordem, registrados na véspera (5).

Já entre os prefixados, o maior juro era oferecido pelo Tesouro Prefixado 2033, no valor de 13,20%, às 15h20, acima dos 13,16% vistos um dia antes, e dos 13,15% registrados na abertura da sessão. Por outro lado, os demais papéis prefixados apresentavam estabilidade nos retornos no mesmo horário.

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Confira os preços e as taxas de todos os títulos públicos disponíveis para compra no Tesouro Direto na tarde desta quarta-feira (6): 

Taxas Tesouro Direto
Fonte: Tesouro Direto

PEC dos Auxílios

Na cena política, discussões em torno de auxílios a grupos mais vulneráveis e afetados pela alta dos combustíveis estão no foco dos investidores. As medidas têm impacto de mais de R$ 41 bilhões aos cofres públicos e serão válidas até o fim do ano.

Na véspera (5), Danilo Forte (União Brasil – CE), relator da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Auxílios na Câmara, manteve a versão do texto aprovada uma semana atrás pelo Senado Federal, para agilizar o pagamento dos benefícios previstos na matéria.

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O anúncio representa um recuo do parlamentar em relação às suas primeiras posições e ocorre após o Palácio do Planalto entrar em campo para impedir modificações no texto e possíveis atrasos na implementação dos programas sociais a três meses das eleições.

Após a leitura do relatório, a deputada e presidente do colegiado, Celina Leão (PP-DF), concedeu vista para que os demais parlamentares possam analisar a proposta por mais duas sessões. A comissão volta a se reunir amanhã (7), a partir das 9 horas, quando poderá ser votada a matéria.

A PEC dos Auxílios, no entanto, deve ter efeito limitado sobre a campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro (PL). É o que indica a 37ª edição do Barômetro do Poder, iniciativa do InfoMoney que compila mensalmente as avaliações e expectativas de consultorias de análise de risco político e analistas independentes sobre alguns dos assuntos em destaque na política nacional.

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O levantamento, realizado entre 29 de junho e 1º de janeiro, mostra que 53% dos especialistas consultados esperam impacto moderado das medidas sobre a campanha à reeleição de Bolsonaro. Outros 27% veem alta influência, contra 20% de avaliações de peso reduzido.

Considerando uma escala de 1 (muito baixo) a 5 (muito alto), a média das avaliações de impacto da proposta sobre o desempenho eleitoral do mandatário em outubro é de 3,07.

Além de ter efeito limitado, há preocupações em torno da abertura de investigação feita nesta quarta-feira (6) pelo Tribunal de Contas da União (TCU).

O pedido de investigação foi feito pelo Ministério Público junto ao TCU. O documento, assinado pelo subprocurador-geral Lucas Furtado, cita que a criação de um estado de emergência, previsto na PEC, é um “subterfúgio” para o governo praticar medidas que furem o teto de gastos e se “esquivar das amarras da lei eleitoral”.

No texto, o MP diz que a PEC pode representar um “possível retrocesso para o país” porque compromete o equilíbrio fiscal e fere a Lei de Responsabilidade Fiscal. O ministro do TCU que vai apurar se a PEC compromete as contas públicas é Aroldo Cedraz.

Ata do Fed e dólar

Enquanto isso, na cena externa, o grande destaque está na ata do Fed. Em entrevista ao InfoMoney, Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, destacou que o documento veio com um olhar para o retrovisor, já que houve recuo dos preços das commodities, tanto de energia, metais e, principalmente, agrícolas, desde a última reunião, em meados de junho.

“Esse recuo, influenciado pelo medo da recessão, deve tirar a pressão da inflação alta. Por isso, estamos vendo o dólar se fortalecer e as commodities perdendo valor, além da taxa de dez anos americana ficando mais baixa. A ata não cita nem reflete essa virada da recessão, já que a reunião do Fed foi há três semanas e antes do cenário se modificar”, aponta o especialista.

Após a ata, os rendimentos dos títulos americanos (treasuries) subiam até 5,54%, por volta das 15h20 (horário de Brasília), no caso do papel com vencimento em três anos. Já os papéis de dois e de dez anos, que chegaram a inverter os retornos na véspera, ofereciam taxas de 2,9548% e de 2,922%, respectivamente.